sábado, 15 de dezembro de 2012

O Sertão é a Rua...


“Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo...”

Vou determinado para as ruas, montado no meu cavalo de duas rodas, de capacete, cara branca e nariz de palhaço, carregando debaixo do braço o “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, qual fosse minha bíblia. O livro, numa versão antiga, foi achado meio rasgado entre os objetos que foram deixados para trás pelos músicos populares Zezé e Simões, quando partiram para o Sul.

“Deus vem, guia a gente por uma légua, depois larga. Então, tudo resta pior do que era antes. Esta vida é de cabeça para baixo, ninguém pode medir suas perdas e colheitas. Riobaldo, a colheita e comum, mas o capinar é sozinho... É o mundo á revelia!”

Curioso é que São José dos Campos convive entre o crescimento urbano e o resquício de roça. Senti isso claramente na outra noite, quando fui “brincar”, depois de algum tempo, na frente dos bares dos bairros burgueses, que ficam na região de São Dimas e da Vila Ema para depois descer e continuar-nos da Zona Norte, onde se concentra uma população de gente mais simples, de origem mineira, que nem Guimarães Rosa...

“Esta gente sertaneja, em tudo eles gostam de alguma demora. O mundo estava vazio. Boi e boi. Boi e boi e campo. O que é de paz cresce por si. Enquanto mais ando querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago..."

O trânsito de carros cresceu enormemente nos últimos anos e com eles a poluição do ar e á sonora, assim como o estresse, a violência, o medo, etc. Os estabelecimentos foram ficando cada vez mais protegidos com vidraças que os separaram da rua. As mesas nas calçadas hoje são bem mais escassas. Existem várias opções de lazer, tipo shows de música e de espetáculos de teatro que acontecem dentro de lugares formais tipo o SESC, o SESI, etc.

“Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sim razão de motivo. Eu não sabia o montante que queria, nem aonde em extensão eu ia. A gente tem de sair do sertão! Mas só se sai do sertão é tomando conta dele a dentro. O sertão é o mundo...”

Apesar de todas as dificuldades, acredito que o trabalho de intervenção é necessário, já que quebra com o protocolo e se defronta com o movimento cotidiano das pessoas, surpreendendo, criando situações inusitadas, espelhando a realidade...
Claro, é preciso ter coragem e saber que cada lugar condiciona um tipo de comportamento. Eu tento tratar todo mundo com carinho e com respeito, independente da idade, condição social, cor da pele ou a opção sexual de quem estou interagindo. O mais legal é a conversa que estabeleço com algumas pessoas do público antes, durante ou depois da brincadeira.

“Amigo para mim e só isto: É a pessoa com quem a gente gosta de conversar do igual a igual, desarmada. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e todos os sacrifícios..."

“Ai, no intervalo, o senhor pega o silêncio, põe no colo... O gado ainda pastava, meu vizinho, cheiro de boi sempre alegria faz...”










terça-feira, 27 de novembro de 2012

Atividade na cidade de Cunha SP

Na Quarta Feira 21-11 estive na cidade de Cunha para realizar uma atividade de "Formação de Público" na qual me apresentei nas ruas e depois ministrei um Workshop para um grupo de teatro local, formado por crianças, adolescentes e adultos.

Mímico Andarilho chegando para apresentação de bicicleta "Berlineta"

Essa atividade faz parte da programação da Oficina Cultural Altino Bondensan, do Cone Leste Paulista, da Secretaria do Estado da Cultura.

Aula no palco do Cine-Teatro da cidade, aonde depois será projetado o filme "Meu Tio" de Jacques  Tati

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Olho no Olho (Rumo á cidade de Cunha SP)

Amanhã viajo para a cidade de Cunha SP para realizar o espetáculo seguido de um Workshop de Teatro de Rua, Mímica e Clown. Essa atividade faz parte da programação da Oficina Cultural Altino Bondensan, da Secretaria de Estado da Cultura. Vou de bicicleta "Berlineta", carregando minha bandeira de "Autenticidade", sem máscaras, passar um pouco da minha experiência de "brincante" de tantos anos.

Não nego que ultimamente, para mim, não tem sido nada fácil, já que tenho sobrevivido na maior parte do improviso em Campos do Jordão, me apresentando nas ruas no meio aos carros, aos vendedores de loto, aos mendigos amadores e profissionais, aos cachorros, aos palhaços vendedores de bexiga,  ás pessoas mal humoradas, etc. Porém também é verdade que tenho contado com o apoio dos comerciantes e dos donos dos restaurantes que me fazem sentir a vontade, assim como dos garçons e dos músicos que tocam dentro dos estabelecimentos, com os quais muitas vezes acabo interagindo. Sem dúvida, meu maior capital são as pessoas que tem casa ou fazem turismo em Campos do Jordão, já que elas formam o público que me assiste  e que me sustenta com suas colaborações espontâneas..

- Meu nome é Carlos Javkin, moro em São José dos Campos, sou artista de rua, mímico e clown a mais de vinte anos e, por mais que essa atividade – ás vezes - não seja muito valorizada, eu pretendo levá-la até o fim... Digo isso antes de rodar o chapéu e ganhar uma boa quantidade de dinheiro na minha melhor performance no último dia feriado de finados...

Olho no olho, é como se as pessoas esperassem uma resposta que não vem – ridículo –
-Parece um cachorro abandonado (alguém diz...)

Cem por cento, o máximo que você pode dar e mais um pouco. Foi o que aprendi nas oficinas de clown, faz muito tempo, em Buenos Aires.  No Brasil eu agregaria: Quando você viu, já foi...  

O senhor do boné parece mímico também... (foto de Mel Braga - São Sebastião SP)
Momentos mágicos aonde vêm tudo a tona: a técnica da mímica reforçada com técnica do movimento consciente de Klauss Vianna e seus conceitos sobre opostos, utilização do espaço, direções, etc. e a técnica de Clown e os conceitos de impulso, ritmo e contato com o público.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

"Maria Antônia" - Boneca de dançar


Ao assistir o filme “Gonzaga, de pai para filho” junto a meu filho, vem na minha cabeça a imagem da mesa de trabalho do mestre Afonso Miguel, lá pelo ano 1987, na cidade de Olinda, e dos bonecos gigantes do carnaval que ele esculpia no barro.  Vejo o “Grande Sertão Veredas”, a caatinga, os jagunços, os coronéis... A vida do mestre Luis Gonzaga e sua origem pobre, sua chegada no Rio de Janeiro e sua luta pelo ganha pão e o reconhecimento. Fiquei surpreso ao saber que no começo de carreira ele se apresentava nas ruas e nos bares “rodando o chapéu”.
Emocionei-me na cena na qual ele sai na laje do teatro para cantar para “o povo” que não tem dinheiro para pagar...
Lembrei-me que ainda é o ano do centenário do “Rei do Baião”. Acabei de arranjar um bom motivo para sair brincar com minha boneca Maria Antônia, dançando as músicas do "Gonzagão" e do Jackson do Pandeiro...

Maria Antônia encostada na bicicleta...
Maria Antônia não é muito bonita. Faz mais de dez anos, quando morava em sampa - no "morro do querosene" -  meu amigo Afonso Miguel (mestre mamulengueiro) me diz que queria fazer uma boneca esculpida diretamente na espuma, já que a técnica utilizada tradicionalmente é a de preencher uma malha de dança inteira com pedacinhos da mesma. E não é que eu, andando pela Avenida Corifeu A. Marques achei uns blocos de espuma novinhos, que acabavam de ser jogados?. Maria Antônia é feia mesmo!,  Também, não dava para ser de outro jeito, já que acabou de se esculpida  na tesoura, num cantinho do assento traseiro do Fusca, enquanto eu levava o mestre Afonso para o aeroporto, num dia de chuva torrencial, com o carro cheio de bagagens. Depois ela passou pelas mãos do meu amigo Antônio de Olinda que deu o acabamento da pele e pelas minhas, que acabaram acertando tudo na tesoura. O mestre mamulengueiro "Saúba dos bonecos" fez os primeiros "sapatos grudados" que eu renovo de tempos em tempos...

Técnica do teatro popular, onde se grudam dois sapatos a uma chapa de metal

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Participação no VI “litoral em Cena” na cidade de Caraguatatuba SP


Cheguei cedo, na quinta feira 18 de Outubro, um dia antes do começo do Festival. Fui contratado para fazer a divulgação do mesmo. Logo de cara já me aprontei e fui para rua. Quem me acompanhou o tempo todo foi à produtora Jaquelina Rodrigues, que aproveitava minha ”brincadeira” para conversar com as pessoas e entregar a programação do evento. Sai de bicicletinha "Berlineta" usando como trilha o som circense ligado a meu amplificadorzinho de cintura. Passamos pelo calçadão onde eu fiquei interagindo com os transeuntes e as pessoas que estavam dentro das lojas, depois fomos em direção á praça onde ia ser realizado o evento. No caminho fui brincando com as pessoas que encontrava pela rua: motoristas, ciclistas, transeuntes, agentes de trânsito, vendedores de sorvete, etc. Paramos numa esquina e eu desci da bicicleta para atuar como mímico e depois coloquei a burrinha; foi uma festa! Na sexta feira fomos para uma escola de manhã e outra à tarde, onde entrava nas salas de aula de “burrinha”, como o tenho feito quando vou fazer a divulgação do meu espetáculo. Meu trabalho culminou à noite com a participação no cortejo de bonecões que deu inicio a programação do festival.

"Respeitável Público", se segurem a suas cadeiras que o espetáculo vai começar...

No encarte da programação do festival sai como “Mímico Andarilho”: Personagem ingênuo que valoriza o lado “humano”, além de fazer uma paródia sobre a dificuldade de se viver de arte no Brasil...


Foto de Jaquelina Rodrigues
Estou feliz pelo tratamento recebido pelas pessoas da FUNDACC que me chamaram de “O palhaçinho” e também pela participação nesse evento que reúne grupos de teatro do Brasil todo. Recebi de presente livros que contam da história de Caraguatatuba, DVD/s de edições anteriores do festival, livro com poemas de escritores da cidade, etc.


A infância passada entre o jogo de bola
E o mergulho nas águas salgadas e limpas.
Hoje me fazem dó.

Memórias
Arnaldo José Cesar

Do livro
Caraguá, Inspiração dos poetas...



A programação vai até o próximo Domingo 27 de Outubro. Mais informações, Acesse o link
http://www.fundacc.com.br/

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Preparando-me para “andar”, de alforjes prontos e capa de chuva


Oficialmente, por enquanto, tenho marcadas umas intervenções no “Litoral em Cena,” em Caraguatatuba na próxima quinta e sexta feira e depois a apresentação do espetáculo seguido de um Workshop na cidade de Cunha, em Novembro, pela Secretaria de Cultura do Estado.  

Aproveito o pique para viajar para outras cidades vizinhas na seqüência, levando o trabalho de forma independente, aproveitando a proximidade das festas de final de ano.

A ideia é levar o espetáculo adaptado á bicicleta para ser apresentado em diferentes tipos de espaço, inclusive na rua, na base de rodar o chapéu que nem o faço em Campos do Jordão.

Pretendo fazer um registro de minhas atividades e procurar futuramente algum tipo de apoio público ou privado para viabilizar meu projeto com maior facilidade.

O poste foi adaptado a bicicleta...
Levo na minha bagagem dezenas de depoimentos de pessoas que me assistem em Campos do Jordão e  que me fazem sentir que meu trabalho faz sentido. Cito o de um senhor de uns cinqüenta e poucos anos, meio encolhido e de cara fechada, que, chegando perto de mim enquanto  me preparava para brincar livremente na frente de um restaurante, me diz: Sabe? Eu tinha passado por uns aperreios da vida e fazia mais de dois anos que não conseguia rir de verdade até que faz duas semanas você me fez rir de novo. Contou que estava comigo para a mulher que acabava de telefonar...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Mímicos Andarilhos (Parceria com Ariel Barreto)


Chegou a São José dos Campos Ariel Barreto, argentino que nem eu, mímico e também beirando os 50 anos. Mas o mais importante é que ele acredita no teatro nas ruas independente de vínculo institucional. Isso é cultural, já que em Buenos Aires – de onde nos vimos – as pessoas estão acostumadas a assistirem aos artistas que se apresentam nas ruas ou parques e no final cada um dar sua contribuição espontânea no chapéu.
Para ele não tem sido fácil, dada a falta do hábito do público. Além do mais, seu espetáculo não interage tanto com as pessoas que nem o meu. Mas temos mais é que agradecer sua iniciativa, já que ele está abrindo espaço para pessoas que nem eu, ganhando a confiança das autoridades locais, se apresentando em espaços públicos de São José como o Parque Santo Dumont e o Parque da Cidade.

Ariel "brincando" no Parque da cidade, em São José dos Campos
Tive a oportunidade de realizar um evento junto com Ariel no dia 14 de Setembro. Uma produtora me ligou e falou que precisava de dois mímicos e eu me lembrei dele. Fomos terceirizados duas vezes e deu para cada um mais o menos o que eu ganho numa jornada no chapéu em Campos do Jordão. Tratava-se de uma confraternização onde se festejava 40 anos da Petrobrás. Nada a ver com o “Mímico Andarilho” que propõe o uso de energias alternativas e a bicicleta como veículo urbano. Mas foi a oportunidade de realizar um trabalho com uma pessoa que se comunica com a mesma linguagem e, quem sabe, o começo de uma nova parceria...

Foto de André Yamamoto




terça-feira, 31 de julho de 2012

Licencia para “brincar”


Recebi uma proposta informal de uns amigos de uma companhia de teatro da cidade de Caraguatatuba para dar uns toques sobre mímica e clown para um grupo recém formado de jovens que pretendem levar alegria a pacientes em hospitais.
Pensando sobre o que eu poderia passar de melhor para eles, cheguei á conclusão de que é a minha experiência sobre a exposição do palhaço. Conseguir ficar simplesmente exposto na frente das pessoas pode parecer fácil, mas é muitíssimo difícil, já que requer não fazer nada, ficar vazio, não pensar, simplesmente sentir o corpo e se deixar levar. Estar aberto a o que “der e vier” requer coragem. Esse contato é mágico e tem a ver com a linguagem da criança menor de cinco anos, que age pelo impulso vital.

Tudo bem, quando vou interagir livremente com o público nas ruas nem sempre consigo ficar nesse “ponto de equilíbrio”, especialmente no meio da multidão, onde a tendência é a dispersão, por isso prefiro me apresentar para grupos pequenos, onde é mais fácil criar certa intimidade. Sexta feira passada, no último final de semana do Festival de Inverno de Campos do Jordão, teve um momento bem interessante em que apareceu “o clown” com muita espontaneidade, quando parei na calçada, enfrente a uma árvore e, percebendo que estava sendo observado por uma família, meio que fiz um sinal dando passagem para a árvore. Foi um momento inusitado para mim, para a família e para as pessoas que passavam pelo lugar. O palhaço é isso mesmo, sutileza pura...

Foto: Mel Braga (São Sebastião SP)


Realmente eu acredito nesse tipo de trabalho, sem esquema pré- estabelecido, onde o palhaço parece abrir a porta da rua para as pessoas se sentirem livres para brincar...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

São José, dos Campos...


Disso que eu gosto de São José dos Campos, cidade onde e moro; do ar de roça - a pesar de metrópole – da carreta puxada por bois, que ainda você encontra perto da minha casa, que fica no começinho da Serra da Mantiqueira, do jeitinho “minheiro” de ser, da sabedoria popular do Seu Antônio, que planta na lua nova e conhece as ervas que curam. Das dezenas de “tiozinhos” que pedalam suas “Barras Fortes” de cara fechada. Do Rio Paraíba que resiste a poluição urbana, abrigando peixes e recebendo a visita de garças que vem se alimentar a luz do dia e de pacientes pescadores que ficam horas na sua beira com as varinhas entendidas.

Carreta puxada por bois. "Revelando São Paulo 2012", Parque da Cidade S.J.C.
Aqui já realizei loucuras tais como entrar nos botecos fazendo mímica e brincando com meus bonecos da “Cultura Popular” conseguindo me comunicar com as pessoas com natural simplicidade, descolando meu sustento no chapéu durante anos, quando morava na região central, entre 2004 e 2009. 

Grupo de Folia de Reis de Carapicuíba, SP

Aproveito a edição do “Revelando São Paulo 2012” para matar a saudade, fazer minha oração de agradecimento e pedir pela proteção divina...

Olha a minha burrinha fazendo parte da festa!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Preto no Branco


Com a qualidade de “itinerante”, ciclo-ativista e improvisador. Com a intenção de juntar a linguagem do teatro popular de rua junto á música e a literatura.

Preto no branco. Simples, como essa folha escrita, estou me estruturando para encarar o “Mímico Andarilho”.

Comecei dando um trato á bicicleta. Agora vou caprichar no figurino, lembrando os personagens do cinema mudo, além de diminuir a carcaça da burrinha para colocá-la no bagageiro da bicicleta, reforçar os alforjes, etc.

A nova "Neide", por Juliano Maurer e por mim

O Mímico Andarilho inclui uma síntese do espetáculo “Na Rua”, o uso da flauta transversal, que tenho tocado diariamente e é claro a “Burrinha”.

Assumo-me assim como artista popular, improvisador. Vou com a humildade do músico de jazz, que espera o momento certo para solar.

Campos do Jordão, onde me apresento á dezoito anos, é prova de que é possível. Apesar de todas as dificuldades, tenho conseguido encontrar os espaços para minhas performances e compartilhado momentos bem legais de improviso usando como trilha o som dos músicos que se apresentam nos restaurantes e que são anônimos que nem eu na rua. 

Foto de Fernanda Prestes

Não deixo de reconhecer que, depois de tanto tempo, existe o reconhecimento do público de "Campos", que muitas vezes senta no "Baden – Baden" esperando minha aparição, assim como também que eu tenho realmente gostado da forma carinhosa com que tenho me comunicado com as pessoas, independente da idade ou da condição social. 




sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Trabalha para Deus"


Pedalando rumo ao centro turístico de Capivari, me questionando sobre qual é o sentido do meu trabalho em Campos do Jordão, encontro pelo caminho um crente que me diz em voz baixa “trabalha para Deus". Num lugar onde predomina o valor do dinheiro e do consumo e o sonho da maioria é ser aquele empresário bem sucedido que passeia na sua Ferrari acompanhado de uma bela mulher, qual é o sentido do palhaço no meio da rua?

Símbolo de poder e de glória 

Penso na  fraude do velho trapaceiro do conto “O Viajante do tempo” de Ray Bradbury

 Um século antes, numa única noite, Craig Bennett Stiles, recém-chegado do tempo, havia se apresentado perante bilhões de telespectadores de todo mundo para contar-lhes como era o futuro.

Nós conseguimos! – dissera – Nós chegamos lá! O futuro é nosso! Nós reconstruímos as cidades, melhoramos as aldeias, despoluímos os lagos e os rios, limpamos o ar, salvamos os golfinhos, aumentamos a população das baleias, acabamos com as guerras, lançamos estações solares no espaço para iluminar o mundo, colonizamos a Lua, chegamos até Marte e depois até Alpha Centauri. Descobrimos a cura do câncer e vencemos a morte. Fizemos tudo isso. Oh, que surjam as belas e radiosas espirais do futuro!
Mostrara fotos, trouxera amostras, distribuíra fitas gravadas, discos, filmes e cassetes sobre seu vôo maravilhoso, extraordinário. O mundo todo havia enlouquecido de alegria e todos competiram para fabricar aquele futuro, fundar as cidades prometidas, salvar todos os animais e compartilhar com eles o oceano e a terra...

Enquanto acontece o “Rio+20” vejo a contradição que existe entre crescimento econômico e preservação ambiental, tomando como exemplo a exploração e o consumo do petróleo. O discurso do governo é de que a riqueza extraída do pré-sal vai servir para diminuir a pobreza no Brasil.

Eu vou pedalando e pensando, levando a alegria e a ingenuidade do palhaço, acreditando num mundo melhor  para todos nós...






terça-feira, 5 de junho de 2012

Dia do Meio Ambiente

Olha o Louva Deus de bike!
Tenho realmente vivido de um jeito bem “Natural” esse tempo todo, bebendo água da nascente do lado de casa, plantando e colhendo frutos, locomovendo-me de bicicleta para cima e para baixo, subindo e descendo morros, carregando meu material de trabalho nela.

Programação do evento
A Oficina Cultural Altino Bondensan, da Secretaria de Cultura do Estado SP, me contratou para participar da Primeira Semana do Meio Ambiente no Parque da Cidade, em São José dos Campos, realizada pela Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura local.
A idéia dos organizadores era a de eu ficar intervindo no meio do público, que nem o faço na rua, só que como meu espetáculo fala de Meio Ambiente, eu não queria perder a oportunidade de deixar minha mensagem.

Devido ao atraso, tive que me conformar com dez minutos para poder utilizar o palco no meio da programação. No resto, achei melhor esperar para Chico Teixeira começar seu show para eu soltar minha burrinha para “cavalgar” no meio do público. Pedi licença, como sempre o faço com os músicos, e por incrível que pareça a permissão me foi negada, pois o menino tinha medo de eu roubar a atenção dele. Juro que é a primeira vez que isso acontece comigo. A música regional cassa perfeitamente com a “burrinha” que é um personagem da cultura popular.

O que era para ser uma festa para valorizar o trato “humano” e a preservação do meio ambiente para mim não passou de uma mostra de estrelismo e mesquinharia. Por sorte minha força interior prevaleceu quase na minha saída do evento, enquanto eu colhia assinaturas dos que tinham me assistido para comprovar minha apresentação junto aos meus “contratantes”.

Conversando com as pessoas, dei-me conta qual era o tipo de tratamento que elas esperavam, e, sem titubear, tirei a burrinha da sacola e brinquei, longe do palco e do estrelismo. Foi maravilhoso, e acabei cativando crianças pequenas e seus pais, assim como estagiários e professores que ministravam suas oficinas.

La vem o palhaço de burrinha... (foto de Danilo Morales)

Fui embora para minha casa, caracterizado de palhaço, carregando a burinha na minha bicicleta  “Berlineta” ao som do “Fafarre Cirque” e no caminho fiquei interagindo com os motoristas, as pessoas que esperavam no ponto do ônibus e os transeuntes das calçadas. Peguei o trecho de SP 50 (Estrada Velha de Campos do Jordão) e depois subi o morro que dá ao bairro onde eu moro (Altos da Vila Paiva, S.J.C.). O som circense se misturou ao dos alto-falantes dos carros, entre “Ai se eu te pego” e “Eu quero tchu eu quero tcha”. Continuei mesmo assim, chegando em casa são, salvo e feliz...



domingo, 13 de maio de 2012

Rádio Aguapé Na Praça Afonso Pena

O logo da "Rádio" é bem bonito, reunindo dentro de um rádio antigo o símbolos anarquista e  Yin e Yang

No Sábado 12 de Maio de 2012 decidi não subir a serra para “brincar” em Campos do Jordão e  aceitei o convite do músico Cesar Pope para me apresentar na “Radio Aguapé”, que é uma programação realizada por ele na Praça Alfonso Pena – centro da cidade de São José dos Campos – junto a músicos, poetas e dançarinos locais.
Não dá para negar que Cesar reúne as qualidades de eixo de manifestações culturais que expressam o “ser” brasileiro. O fundo colorido do palco, a capoeira do começo, os músicos moradores da cidade que se juntam para fazer um som de qualidade na hora - como o brasileiro sabe fazer -, além do poeta Moraes, o músico e poeta Leo Mandi, o Cordelista Paulo Barja entre outros...

Enquanto eu me preparo para dançar com Maria Antônia, Cesar Pope apresenta o Poeta  Moraes

Tudo aconteceu com naturalidade e eu fiquei brincando com minha burrinha com as pessoas que circulavam pela praça enquanto os músicos tocavam e no final apresentei minha boneca dançaria (Maria Antônia) para o pessoal. Fico Feliz de me sentir parte do universo cultural que povoa a cidade onde moro...


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Formação de Público


São Benedito rogai por nós! (palco do pátio da escola onde foi realizada a apresentação do espetáculo)



Com o intuito de criar o gosto pelo fazer teatral, realizei uma atividade pela Oficina Cultural Altino Bondensan, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo na Escola Municipal de Ensino Fundamental  e Educação Profissional " Profa. Virgulina M. M. Fazzerri" - COTECA -, na cidade de Aparecida, na quinta feira 03 de Maio. Essa atividade consistiu na apresentação do espetáculo para os alunos da escola toda e um Workshop de Teatro de Rua, mimica e Clown para alunos interessados.







Apesar da falta de grupos de teatro, eu achei que  na cidade existe uma galera super afins...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

"Itália Mia" - Apresentação no evento "Ação Juventude" em São José dos Campos


Amanhã vou fazer uma apresentação diferente para a qual me preparei. É uma aventura um pouco arriscada, a começar pelo fato de que terei que atravessar a cidade de São José dos Campos de norte a sul de bicicleta, carregando os bonecos e demais objetos de trabalho para chegar ao bairro chamado Campo dos Alemães. Apresentarei-me para um público adolescente da periferia no evento “Ação Juventude” organizado pela Secretaria da Juventude da Prefeitura local. Com o nome “Itália Mia” vou brincar de ser neto de italianos e contar um pouco sobre a imigração italiana no Brasil. Utilizarei a fala, o que não faço há muito tempo, desde meu anterior espetáculo - “Milongas Sentimentais” -. O bom é que para  colher dados para a tal “brincadeira” fui obrigado a pesquisar na internet, tendo que ler bastante, ver vídeos, etc. O que mais gostei e me entusiasmou foi a Tarantela da Calábria dançada por pessoas de todas as idades na Praça Duomo em Milan.


Buenos Aires tem uma grande população de descendência italiana, portanto para mim tem sido bastante familiar esse contato.

Vou dedicar essa apresentação – independente do resultado – a meu grande ídolo Roberto Benigni e as pessoas simples do “povo” brasileiro e italiano que tem em comum a  luta, a alegria e a dança.

Olha a "Neide" vestida com as cores da Itália pronta para encarar a viagem....


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Apresentação no Colégio ACEI - Anglo - da Ilha Bela SP

Folheto de escola sobre evento
Folheto de escola sobre evento

No dia 14 de Abril participei de uma "Feira Cultural" no Colégio ACEI da Linda Ilha Bela. Estou publicando o folheto do evento porque achei o texto muito bom e porque justifica o "Mímico Andarilho".

Vamos preservar o Planeta...! (Foto de Martin H. Rodriguez)

http://vadebike.org/2006/06/por-que-ir-de-bicicleta/

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Dez anos de Milongas Sentimentais em São Jose dos Campos - SP


A Companhia Milongas Sentimentais de Teatro Popular, radicada há dez anos na cidade de São José dos Campos – SP, tem apresentado seus espetáculos para Secretarias de Cultura do Vale do Paraíba e para Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, além de instituições como SESI, SESC, SENAC e para alunos de escolas públicas e particulares de ensino fundamental e médio. A Companhia também mantém viva a tradição do artista popular, levando para as ruas a brincadeira livre do palhaço.

"A Pastora Marcela", com Silvia Nery e Carlos Javkin (2002-2003)

Milongas  Sentimentais, Com Carlos Javkin (2004-2006)

"Na Rua", com Carlos Javkin (2007-2011)

"Brincadeira" nas ruas da cidade de Campos do Jordão
Hoje com o projeto "Mímico Andarilho" a Companhia tem como finalidade levar a linguagem do palhaço popular para várias cidades do Cone Leste Paulista, apresentando uma brincadeira livre de mímica nas ruas centrais desses lugares e o espetáculo "Na Rua" adaptado ao uso da bicicleta como cenário e transporte do mesmo em locais como praças, anfiteatros, faculdades e em escolas desde o ensino fundamental até o médio onde se debaterá após a apresentação do espetáculo sobre o tema "Meio Ambiente e Qualidade de Vida".


Um carro a cada dois habitantes

Ouvi no rádio que na cidade de São José dos Campos circulam atualmente 350.000 carros, ou seja, mais de um carro para cada dois habitantes. Fico feliz de pertencer a um movimento crescente de pessoas que utiliza a bicicleta como meio de transporte urbano, apesar da falta de ciclovias. Com o projeto "Mímico Andarilho" pretendo levar alegria, assim como a mensagem de preservação do Meio Ambiente para várias cidades da região.

Parque da Cidade- São José dos Campos SP - Foto de Flávia D'ávila

quarta-feira, 21 de março de 2012

Apresentação do projeto "Mímica na Escola"

Com o título "Mímico leva a arte de rua para dentro da escola", saiu uma matéria no site da prefeitura de São José dos Campos sobre minha última apresentação na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vera Lucia Carnevalli Barreto, para alunos do sétimo ano. http://www.sjc.sp.gov.br/noticias/noticia.aspx?noticia_id=11433

Apresentação ao ar livre.

Com bastante movimento,


E participação do público,,,

Trata-se do "Mímico Andarilho" no espetáculo "Na Rua" numa nova versão que valoriza mais a linguagem da Pantomima...

quarta-feira, 7 de março de 2012

Obrigado a meu público das ruas...

Me devo as pessoas que assistem minhas brincadeiras livres de mímico-palhaço nas ruas. Elas são as maiores merecedoras do meu respeito, já que tem sustentado - literalmente - a mim e a meu trabalho. Obrigado por me fazer acreditar que o sonho é possível...



Vale a pena cultivar um sorriso...
Foto de Diogo Ramos - Campos do Jordão SP -

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Voar que nem passarinho...

Foi uma semana de bastante esforço. Primeiro trabalhei  "brincando" no Domingo, na Segunda e na Terça feira de carnaval nas ruas de Campos do Jordão, conseguindo o dinheiro para minha sobrevivência "rodando o chapéu". Depois, no último Sábado,  no Domingo e na Terça feira, corri atrás de uma filmagem que achasse decente para anexar ao material para apresentar no edital da "Mostra de Teatro Joseense". Vocês concordam que trabalhar de dia com esse calorão todo é bastante extenuante. No Domingo apresentei de manhã e de tarde na arena do Parque da Cidade e na Terça feira de manhã na escola onde estuda meu filho. Finalmente consegui me escrever no final do prazo, apresentando uma filmagem antiga, a qual achei mais conveniente...


Dando oxigênio para o mundo...
Fotografia: Armando Ferreira
contato@professorarmando.com.br


Para mim fica a certeza de que é bem difícil querer enquadrar meu trabalho dentro de um esquema formal de apresentação. É como querer prender um passarinho, quando o melhor que ele faz é voar... Também cheguei a conclusão que está na hora de abandonar o mendigo e ser definitivamente "Mímico". Então, o de"Andarilho" fica por conta do caráter de "Itinerante".



Assoviar que nem passarinho...
Fotografia: Mel Braga (São Sebastião - SP)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Apreensão pelas crianças do "Pinheirinho"



Apreensão... 

Bom, é claro que fiquei totalmente sacudido pelo acontecimento da desocupação da área chamada de "Pinheirinho" na cidade onde eu moro - São José dos Campos, SP - especialmente pela forma violenta como aconteceu. Eu nasci e me criei num pais que passou por um período de sete anos de ditadura militar violenta em que houve 30.000 desaparecidos e onde as pessoas ficavam com medo de falar do que viam por medo da repressão. Fora os interesses político-partidários, sou a favor do diálogo e das soluções democráticas e pacíficas. As invasões se dão pela falta de politicas habitacionais para com os cidadãos de baixa renda no Brasil.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Participação na MIT em Caraguatatuba SP


No último Sábado 14 de Janeiro participei em Caraguatatuba da primeira MIT (Mostra Independente de Teatro). Evento organizado pela Cia. de teatro da cidade chamada “Popatapataio” que reuniu grupos do Litoral Norte, além de outros de cidades do Vale do Paraíba – como é meu caso – o grupo de circo chamado “A família Burger” da cidade de Campinas e outras pessoas de cidades do ABC paulista e da cidade de São Paulo.

Linda camiseta do evento

Eu fui para realizar intervenções no meio da programação, mas acabei apresentando o espetáculo, já que um grupo da região faltou.
A praça onde tudo acontecia estava meio parada, sendo final de tarde e o céu ameaçava chuva. O filósofo performático Willian Figueiredo debatia o seu livro sobre ritual e performance para umas poucas pessoas que ficavam sentadas em cadeiras de plástico, embaixo de uma tenda montada para as apresentações.
Fiquei sabendo que minha entrada ia ser logo e que tinha quase uma hora para “brincar” com o público. Maquiei-me sentado num banco da praça, abri a roda de cadeiras e -enquanto o público sentava- comecei criar a partir do movimento das pessoas que passavam pela praça, os carros no trânsito, etc. que nem quando vou espontaneamente às ruas. Depois voltei para o centro da apresentação onde desenvolvi a historia que acabou com a “burrinha”. No final contei um pouco para os presentes sobre quem que eu sou e a trajetória do espetáculo.

Apresentação com a bicicleta "Berlineta"
     
Brincando de "burrinha"
                                                                                           

Brincando com os carros


O mais importante mais uma vez foi à troca com os moradores do lugar, desde os colegas até o público. Sinto a necessidade das pessoas de fazer as coisas de um jeito orgânico, de ter uma boa alimentação, de se relacionar “humanamente”, de criar de forma independente. Compreendo que isso e que é verdadeiramente atuar em “rede” que nem se fala hoje em dia. Agradeço ao Daniel, a Paula e as outras pessoas que nos receberam de braços abertos. Vamos enfrente...


Na casa da Família "Papatapataio, onde fiquei, não existem paredes...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"Pés no chão" exemplo de gestão cultural


O Mais importante que me aconteceu na Ilha Bela e ter conhecido a dançarina e artista plástica Flávia Celeste, criadora do projeto “Pés no Chão” – que hoje é Ponto de Cultura e recebe apoio da Petrobrás. Fiquei sabendo como é que ele começou e que outras pessoas ajudaram a fundá-lo.
Isso casa perfeitamente com a Oficina de gestão cultural que tenho realizado recentemente, já que o “Pés no Chão” envolve fortemente os interesses de melhoria da comunidade da Ilha como um todo.

Logo do projeto "Pés no Chão" 
                       

Também notei que o maior problema da Ilha é o trânsito -eu mesmo presenciei um acidente envolvendo uma moto- especialmente em período de alta temporada, onde enche de turistas. O curioso e que a população triplicou nos últimos anos, já que as pessoas estão saindo das grandes cidades – especialmente São Paulo – procurando levar uma vida mais sossegada, perto da natureza.


Cartaz elaborado pelo Beto, desenhista e uns dos fundadores do  "Pés  no Chão"

O meu objetivo e levar o projeto “Mímico Andarilho” para várias cidades – começando pelas do Vale do Paraíba, no Cone Leste Paulista, apresentando a “Brincadeira Livre de Mímica” nas ruas centrais do lugar e o espetáculo “Na Rua” em diversos locais, inclusive nas escolas, para alunos desde a sexta série do ensino fundamental até os do ensino médio, com os quais se debaterá sobre o tema “meio ambiente e qualidade de vida”

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Chegando na Ilha Bela

De bicicletinha Berlineta, equipado para brincar amanhã

"Não poluirás"...
Décimo terceiro mandamento ecologista.
Fico feliz de fazer parte de um movimento de pessoas que ainda acreditam em valores como a ingenuidade e o amor a natureza.
Amanhã colocarei minha burrinha para brincar perto da areia da praia, me protegendo  de farto protetor solar...


O templo das orquídeas de minha amiga Flávia Celeste...