Enquanto os argentinos estavam loucos para vir no Brasil
para assistir de perto o mundial da FIFA, eu aproveitei a oportunidade para
fugir dele e visitar Buenos Aires, minha terra natal, junto a meu filho de
treze anos que jamais tinha ido lá.
Como bom artista popular que sou, fui preparado para me
apresentar nas praças da cidade portenha, levando minha “burrinha” de carcaça
nova, toda bonita e enfeitada, além de uma pequena mala com uma síntese do meu
espetáculo.
Chegando lá deparamos-nos com um cenário “literalmente” frio
de grande metrópole, onde moram pessoas extremadamente sérias, vestidas de
cores discretas, em que as mulheres cuidam da aparência com certo exagero na
maquiagem e muitos homens vestem sobretudo.
Como é bonita Buenos Aires, ainda mais no outono e no
inverno, com seus prédios antigos, seus grandes parques, seus monumentos, suas
esculturas de metal por toda parte. Tivemos o privilégio de visitar o Museu de
Belas Artes da cidade, onde estavam expostos quadros de pintores famosos como Renoir, Van
Gogh e Monet e várias esculturas de Rodin.
Um fato importante é que em Buenos Aires existem milhares de
ciclistas pedalando por ruas e avenidas, onde há bastantes ciclovias. Nos trens
que vão para Zona Norte existe uma parte dos vagões que permite
transportar as bicicletas. Também há pontos da prefeitura espalhados na cidade
em que você pode pegar uma bicicleta emprestada por algumas horas.
Falando da minha performance, digo que consegui fazer alguma
coisa só no último dia, antes da volta para o Brasil. Foi bem engraçado, porque
descemos do prédio onde ficávamos junto com meu filho, no Bairro chique de Belgrano, eu vestindo meu
terno branco com detalhes em chita, o que contrastava totalmente com o resto
das pessoas que vestem roupas mais escuras. Eram umas três e meia da tarde. Saímos caminhando pela rua em direção à movimentada Avenida Cabildo,
carregando um enorme saco com uma cara de palhaço bordada na frente, onde levamos a “burrinha”. Chegamos numa bonita praça pouco movimentada e sentamos ao pé de um monumento. Havia só algumas pessoas sentadas nos bancos da praça e outras de passagem. Estava frio. Me maquiei ai mesmo, que nem de costume, e depois comecei a me movimentar para esquentar."Brinquei", como sempre o faço, imitando as pessoas que passavam. A coisa tomou corpo mesmo quando apareceram os alunos da escola pública que fica enfrente a praça. Eram crianças pobres de tipo indígena, com certeza filhos dos empregados da gente rica do bairro. Uns eram nascidos no Peru e outros filhos de peruanos. Fiz mímica para eles e depois coloquei a burrinha. Não me deixavam ir embora, pedindo-me para fazer mais uma vez. No final me apresentei, falei que nós morávamos no Brasil, portanto, estávamos de passagem. Eles trouxeram dinheiro que pegaram dos pais e colocaram no meu chapéu. Dever cumprido! é com gente humilde, em homenagem ao meu venerado Oscar Wilde...
Nas escolas públicas de Argentina os alunos vestem avental branco como uniforme |