sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Festivale 2016 - Teatro e Democracia

De 02 a 11 de Setembro aconteceu o 31° Festivale, que teve como tema central "Teatro e Democracia". Não tem como se pensar em teatro sem democracia, porque ele expressa o anseio coletivo..

No Festivale desse ano, o que a gente viu foram espetáculos que abordam tanto a época das ditaduras militares, onde existiu o autoritarismo, a tortura e o desaparecimento de pessoas, quanto outros que reivindicam os direitos das mulheres, passando por um que mostra o tipico brasileiro malandro chamado "Malasartes", Teatro de Cordel e vários Quixotes, como o da Cia Circo Navegador de São Sebastião. Além de oficinas, palestras, intervenções, etc. Fechando com o espetáculo Galileu Galilei, protagonizado pela atriz Denise Fraga.

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A minha participação no Festival deu-se em vários dias de intervenções em lugares estratégicos da cidade e teve como intuito levar tanto a alegria do palhaço popular para as ruas quanto divulgar o evento. Se for pela quantidade de público presente aos espetáculos, acho que cumpri bem o meu papel.

"Teatro e democracia" para mim é assim mesmo, conseguir "brincar" com as pessoas sem ter sido programado, intervir, pegar o gato antes do pulo. Atingir o espontâneo antes do pensamento. Quebrar o gelo com a ingenuidade e a picardia do palhaço. Nem sempre dá certo, porque o improviso é feito de momentos, assim como a vida, mas, apesar do risco, não deixa de ter sua função social. Em todo lugar onde apresento minha "Ação Brincante" alguma pessoa vem falar comigo para dizer que já me assistiu em outra cidade e achou legal. É por mim e pelo público, especialmente pelas crianças, que continuo insistindo nesse mieu labor de "Mímico Andarilho"...

("Aquele que no chão ficar terá que abandonar a cavalaria andante e ficar com a vida pacata dos que não se arriscam pelos seus ideais" - Quixotes - Cia Circo Navegador)

"Quixotes" - Cia Circo Navegador - São Sebastião - SP (Foto de Paulo Amaral)

-"O palhaço representa a gente, por exemplo, quando fica detendo o trânsito no meio da rua e acaba inclusive parando até os próprios agentes de trânsito", me disse um músico, depois da minha apresentação espontânea no Encontro Literário realizado em São Francisco Xavier, no meio desse ano.

https://www.youtube.com/results?search_query=mimico+andarilho+6

Ato democrático ao meu favor, por exemplo, foi quando todo mundo saiu na minha defesa em Campos do Jordão (Público, Garçons, Gerentes de Restaurantes, Vendedores de lotaria, Seguranças das lojas, etc), quando a polícia quis me levar á delegacia porque uma mulher tinha feito um Boletim de Ocorrência sentindo-se ofendida ante minha brincadeira...

Em São José dos Campos, faz poucos meses atrás, presenciei e fiz parte de um ato totalmente democrático, quando a classe artística se mobilizou e encheu a galeria da câmera dos vereadores, para impedir que a lei que implantou o plano municipal de cultura seja assinada com uma série de emendas que mudariam totalmente o sentido de liberdade do texto. Os vereadores, sentindo-se pressionados tiveram que voltar atrás e assinaram o texto original.

Quem faz a democracia são as pessoas, independentemente de partido político ou de religião, quando expressam as suas necessidades e acabam juntando-se a outras pessoas para levantar bandeiras de reivindicação.
Falar em Democracia é falar nos direitos dos cidadãos em geral quanto à moradia, educação, saúde, aposentadoria, etc. .

Foto de Paulo Amaral,. Ao fundo, Intervenção chamada "Cegos", do Núcleo Coletivo, do Laboratório de artes performáticas da USP
https://www.facebook.com/fotografopauloamaral/posts/1113309192084474






quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Viagem ao Noroeste do Estado de São Paulo. (Birigui - Araçatuba - Barretos)

Começando de trás para frente. 
Ida a Barretos

Do lado esquerdo, tudo dinheiro. Do lado direito, dinheiro e mais dinheiro, comentava o jovem que viajou ao meu lado no ônibus circular que faz o percurso desde a cidade de São José do Rio Preto até a cidade de Barretos e vice - versa. Plantações de cana. Hoje os fazendeiros só plantam cana, já que é lucro na certa. Outra pessoa me explicou que só pequenos produtores tem plantações de outro tipo, inclusive cultivam laranja, que antigamente acostumava reinar pela região. Sou "Piloto particular", que é uma profissão que dá dinheiro, me contou o jovem na viagem. Você pode fazer diferentes cursos de pilotagem e cada um habilita para um tipo de serviço. Aqui no campo, tem muitos pilotos de pequenos aviões monomotor que são contratados para jogar "defensores agrícolas" nas plantações de cana. Ele disse que vários amigos dele sofreram graves acidentes por causa da manutenção precária dos aviões.
Dinheiro e mais dinheiro. Em Barretos, é só você entrar no estádio onde é realizado o rodeio e assistir aquele "circo" todo para sentir-se pequeno ante tanta opulência do capital. Tudo é marca e patrocínio, desde o trator que passeia na arena, os outdoors em volta do estádio ou a grande tela que transmite em tempo real ao rodeio. - É a cultura deles, me disse um Índio da tribo dos Pataxós que todo ano está no "Rancho do Peãozinho" vestido a carácter, ensinando sobre a cultura indígena e vendendo produtos "autóctones" para as crianças.

Tudo é compra e venda. Cultura Country. Me fez lembrar os filmes do faroeste e os super heróis dos seriados Norte Americanos. Fiquei apavorado com o comercial que mostra o "Objetivo do Herói Peão", que é participar do "The América", que reúne "Cowboys" de todo o mundo no epicentro que fica nos Estados Unidos. Mais apavorado fiquei com o final do comercial e o hasteamento da bandeira americana. Ai meu Deus, que medo. Fiquei pensando, sempre fomos colônia, seja dos Espanhóis ou Portugueses, dos Ingleses ou dos Americanos. No Brasil, inclusive, a tal divida externa já existia desde a época do Império é o único pais da região que ameaçou ter uma real independência econômica na época, o Paraguai, foi massacrado pela tal "Tríplice Aliança" a mando dos Ingleses, numa dos maiores genocídios da história.

Barulho e mais barulho, acabei compreendendo qual é o motivo de, no meu bairro, o pessoal ficar ouvindo aquelas músicas de duplas sertanejas e etc. naquele volume altíssimo nos seus carros... Acho que eles são simpatizantes de rodeio (rs)... Aquelas letras e melodias fáceis e contagiantes... Bom, cada um tem seu gosto...

Barretos recebe gente do Brasil todo, seja para curtir a festa ou a trabalho. - "Aqui é um lugar para se ganhar ou para se gastar dinheiro", me disse o "Paraná" que é um senhor que todo ano está na festa para trabalhar com seu "Touro mecânico".

Mas como sempre há a exceção á regra, é  bom ressaltar que, apesar do clima de "Disney Word Caipira" reinante no Parque do Peão, existe uma turma que ainda se preocupa em preservar as raízes tanto da cultura caipira, seja a Moda de Viola, a Catira, ou a Chula, por exemplo, como de outras expressões da cultura popular brasileira, como o Forró Pé de Serra, o samba raiz e até mesmo samba-rock brasileiro. Trata-se do pessoal da AGCIP que tem como objetivo ser uma "Parceria Caipira Fomentando a Cultura no Interior Paulista". Pelo palco "Culturando - Folclore em Cena" vi várias atrações, tanto de artistas contratados via edital como de pessoas da comunidade apresentando suas atividades. Lá assisti, por exemplo, a uma comovente apresentação de dança realizada por deficientes visuais, onde a instrutora guiava os quase cegos no palco batendo com um bastão no chão. O mesmo pessoal da AGCIP realiza atividades dentro de numa barraca montada dentro do "Rancho do Peãozinho", onde fiquei alojado, dando um tom "cultural" diferente a festa.

Palco da AGFIP na festa do Peão de Barretos

Eu fiquei lá, argentino, brincando com minha burrinha pernambucana, no Rancho do Peãozinho, dentro da Festa do Peão Boiadeiro de Barretos. Agradeço pela experiência a Renata, coordenadora do rancho, que me contratou, dando total liberdade para eu "brincar" do meu jeito.

Site da AGCIP
http://www.agcip.org.br/videos/festival-folclore-em-cena-etapa-barretos/

Birigui e Araçatuba:

De uma forma simples, sem a bicicleta, carregando os objetos do espetáculo mais a burrinha, figurinos e roupas pessoais para uma semana na estrada,  numa viagem de ônibus desde São José dos Campos até Birigui, com escala em São José do Rio Preto, no auge das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Peguei um final de semana de frente fria com forte vento e chuva. A programação do SESC-Birigui incluía uma apresentação do espetáculo Sábado de noite na praça de Birigui e outra na tarde do Domingo em Araçatuba. Em Birigui não rolou em espaço aberto por causa do clima e a gente tentou apresentar na Biblioteca Pública, mas sem sucesso, já que coincidiu com a hora do jogo do Brasil na final do futebol masculino das olimpíadas, com prorrogação, pênaltis, etc. além da forte chuva, o que acaba inibindo as pessoas a sair de casa. No Domingo tinha vários fatores para a apresentação não ter dado certo. O forte vento frio ao qual as pessoas de Araçatuba não estão acostumadas, o fato de já ser final da tarde, e as pessoas já estarem se preparando para irem embora, a instalação ás pressas do som, o cabide com cruzamento de rua que não parava em pé, a insegurança do uso da flauta com microfone ret 7, etc.
Foi realmente bom apesar de todas das dificuldades. Comecei o espetáculo ao ritmo do jazz, de forma espontânea, sem prévio anúncio, interagindo com quem encontrava no caminho, percorrendo os quatro cantos da praça, enquanto o público assistia as situações inusitadas que rolavam. Depois me coloquei na frente do cruzamento da "Rua da Tristeza" com o da Rua da Alegria e narrei a história de cabo a rabo e, no final, agradeci, me apresentei e "brinquei" de burrinha, um dia antes do dia do folclore, que é celebrado no dia 22 de Agosto.

Foto de Amanda Bonetto (SESC - Birigui)
Mais fotos de apresentação em Araçatuba:
https://www.facebook.com/sescbirigui/photos/a.1068168933276261.1073741951.135594836533680/1068169073276247/?type=3&theater

De volta ao hotel, para fechar com chave de ouro o Domingo, assisti ao programa Café Filosófico da TV Cultura, que tinha como tema central a obra do Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes Saavedra. A palestrante, Janice Theodoro, trouxe a imagem do Dom Quixote é o que ela representa para nós na sociedade contemporânea.
Construir uma sociedade justa. Ser crítico consigo mesmo. Obedecer a própria consciência. Aceitar que os "moinhos de vento" estão dentro da gente, referindo-se ao "sonho". Ser, de dentro para fora e não de fora para dentro. Essas foram algumas dos exemplos que foram extraídos da obra, tomando em conta que hoje em dia se dá mais importância ao momento presente, as virtudes do corpo em detrimento das virtudes do espírito. - "São os bens materiais que qualificam o indivíduo, tal vez por isso exista tanta corrupção", ela diz. Finalmente a palestrante conclui: - "A gente precisa desconstruir para ver direito as coisas, desconfiar de si mesmo. Vale a pena rir da gente para dar um passo a frente"...

Link Programa "Café Filosófico"
https://www.youtube.com/watch?v=WpswOwH5Uow

Para mim não é diferente quando vou "brincar" livremente nas ruas conseguindo meus ganhos na base de rodar o chapéu de quando me apresento dentro da programação um SESC. por exemplo. Inclusive o tema do espetáculo é esse. Acabo rindo de mim mesmo, já que faço uma paródia da minha luta pela sobrevivência através do teatro de rua