domingo, 24 de abril de 2022

Relembrando bons momentos...

Quando olho para mim não me percebo. 

Tenho tanto a mania de sentir

Que me extravio ás vezes ao sair

Das próprias sensações que eu recebo.


O ar que respiro, este licor que bebo,

Pertencem ao meu modo de existir,

E eu nunca sei como hei de concluir

As sensações que a meu pesar concebo


Nem nunca, propriamente reparei,

Se na verdade sinto o que sinto. Eu

Serei tal qual pareço em mim? Serei


Tal qual me julgo verdadeiramente?

Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,

Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.


(Poesia de "Alvaro de Campos" - Fernando Pessoa).


No finzinho da Pandemia, após dois anos de ausência, volto para Campos do Jordão para retomar o trabalho nas ruas. Ainda em período de transição, encontro vinte por cento das pessoas de máscara. Com certeza vários deles devem ter perdido algum conhecido o ente querido para o vírus. O lugar mudou muito e reflete claramente o Brasil de hoje, muita gente desempregada correndo atrás do pão de cada dia vendendo qualquer coisa para o público turista. Pessoas pobres de excursão de um dia indo gastar um pouquinho do pouco dinheiro que ganham para ficar andando sem sentido tirando fotos de tudo o que acham pelo caminho. Pessoas de classe média e classe média alta aglomeradas dentro de bares e restaurantes onde predomina o barulho e o álcool. Me pergunto, o que é que estou fazendo ali se sei que o meu trabalho não funciona na multidão?

Fiquei preso ao passado e a mim mesmo, cheio das boas lembranças do que outrora foi e hoje  não é mais...

O que me restou do final de semana? Dores no corpo e a certeza de ter entregue o meu carinho para várias pessoas, especialmente crianças, que levaram consigo um sorriso no coração...


                                                         Campos do Jordão, 2012.