quarta-feira, 1 de agosto de 2018

De vocação “Andorinha”...

Do alto do morro, na região pobre onde me hospedo, na casa de um amigo, na cidade turística de Campos do Jordão, vejo as cúpulas europeias e me sinto o próprio personagem “Andorinha” do espetáculo que estamos montando com  a nossa companhia de teatro popular.

Durante a temporada de julho, quando vou me apresentar espontaneamente nas ruas do centro turístico, no bairro Capivari, como o faço em outros períodos do ano, enfrento uma multidão de público heterogêneo, sob o sol forte da serra, poluição sonora e falta de espaço apropriado para desenvolver minha “brincadeira” de interação.

Mas, cadê meus burguesinhos com os quais converso há anos?
Deles vejo só um aqui e outro acolá na “muvuca”. Uma família inteira, velha conhecida, assiste-me de uma mesa, enquanto “brinco” na frente do restaurante “Baden Baden”, no meio à turba. Eles acabam sendo a minha plateia exclusiva. Tendo como foco a luz do sol, Dionísio se estende entre nós brindando-nos com sua graça. Depois encontro a família numa esquina, quando estão indo embora e o “patriarca” desta, chegando perto de mim, disse-me: “Obrigado por tantos anos nos quais você nos traz a sua alegria”. Na mesma esquina um outro senhor, velho conhecido, vestindo umas pomposas meias de equitação até o joelho, cumprimenta-me horizontalmente enquanto mexe seus bigodes antes de me puxar para si e me dar umas palmadas carinhosas nas costas.

Para o meu show acontecer, sempre tem que ter alguém fazendo o papel de intercomunicador, seja criança ou adulto. Lembro de uma das apresentações, no último sábado, em que me deparei com um menino “protegido”, de uns quatro anos de idade, que estava sentado à mesa de um restaurante, na calçada, junto aos seus pais. Ele começou chorar ao me ver. A minha tarefa foi tirar o medo dele; então, fiquei o tempo inteiro interagindo com as pessoas que passavam pelo local, enquanto chegava perto e me distanciava do menino, refletindo sua sensação de vontade e repulsa ao mesmo tempo. No fim, depois de ter me aceitado, ele caiu na gargalhada e eu dei em troca toda minha atenção e carinho junto a uma espada de bexiga de presente.

É um fato ver como as pessoas andam desequilibradas diante das dificuldades do dia a dia. O palhaço no meio da rua é um antídoto para a saúde mental da população. Tento me doar da melhor forma que posso, assim como o fez “O Príncipe Feliz” da nossa história.
Link com tradução do conto do escritor irlandês Oscar Wilde:
http://volobuef.tripod.com/op_wilde_principe_feliz_oscar_mendes.pdf


Foto de "Dois Brincantes e o Príncipe Feliz"

Link da Companhia "Milongas Sentimentais" de Teatro Popular no Facebook:
https://www.facebook.com/Milongas-Sentimentais-Teatro-Popular-173882529422531/