quarta-feira, 25 de julho de 2018

"Espaço democrático"

Apesar do meu trabalho ter sido fortemente prejudicado pela falta de infraestrutura, já que dependo da interação com o público e isso fica complicado no meio da multidão, reconheço que nessa temporada de julho as ruas do centro turístico de Campos do Jordão têm se transformado num espaço democrático em que vários trabalhadores aproveitam a circulação de uma grande massa de público heterogêneo para batalhar o seu sustento.
Existem desde os vendedores de qualquer coisa (algodão doce, bexigas, balões, ímã de geladeira, trufas, etc),  passando por retratistas e pintores de quadro, artesãos que trabalham com madeira ou metal, até os que realizam shows como eu.

Retratista junto com artesão
Um artista de rua, que conheço a mais de dez anos, forma uma pequena semi-roda realizando inúmeras apresentações de mágica durante o dia ocupando um cantinho da praça. Ele imita de cabo a rabo a rotina que copiou de um mágico experiente. O conheci quando fazia papel de mímico, formando uma dupla junto ao irmão, que se chamava “Os Irmãos Sombra” e que na época acabou tendo um certo sucesso, apresentando-se no Programa do Ratinho e fazendo, inclusive, turnê no Japão, contratado por uma empresa patrocinadora. Isso foi pouco depois do Faustão colocar nome de “Sombras” a dois mímicos de rua argentinos que se apresentavam no seu programa. Aliás, depois disso, para o meu desgosto, as pessoas começaram a me chamar de sombra também.
“Não acredito mais na arte. Das pessoas que param aqui para me assistir poucos colaboram na hora de recolher meus ganhos no chapéu. Muitos se fazem de bobos e saem de mansinho, voltando quando recomeço meu show”. Foi o que meu “conhecido” me disse, além de comentar que seus irmãos moram e se apresentam nas ruas da Europa onde o público valoriza a arte. “Estou aqui para pagar minhas contas e só”. “Hoje em dia o negócio e escrever um livro e sair por aí dando palestras de auto ajuda”.

Apesar de seu discurso, fico admirado pelo fato de ele ter conquistado o seu cantinho onde desenvolve seu trabalho independente da “muvuca”, atendendo pelo geral às pessoas simples que estão de excursão pela cidade.

O seu cantinho também ganhou o pessoal que fica o dia inteirinho sob o sol, representando estátuas vivas. Eles aproveitam o grande fluxo de gente e de grão em grão vão enchendo o seu "cofrinho" com moedas e notas miúdas.

Estátua viva no meio da rua
Tem também os músicos de rua. Entre eles o melhor é um Blues Man representado por um moço jovem, alto, de barba e com aspecto ranzinza. Ele veste uma roupa esquisita que o faz parecer com a Pantera Cor de Rosa. Na sua performance faz a percussão com o pé, batendo com pedal num bumbo de bateria, enquanto toca violão e por vezes canta ou toca gaita.

Som contagiante de jovem músico "Blues Man"
Vídeo que realizamos junto a dois amigos há 11 meses atrás e que reflete a realidade da temporada de Campos de Jordão 2018:
https://www.youtube.com/watch?v=A6hWh0RAf0w&t=4s