quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Viagem ao Noroeste do Estado de São Paulo. (Birigui - Araçatuba - Barretos)

Começando de trás para frente. 
Ida a Barretos

Do lado esquerdo, tudo dinheiro. Do lado direito, dinheiro e mais dinheiro, comentava o jovem que viajou ao meu lado no ônibus circular que faz o percurso desde a cidade de São José do Rio Preto até a cidade de Barretos e vice - versa. Plantações de cana. Hoje os fazendeiros só plantam cana, já que é lucro na certa. Outra pessoa me explicou que só pequenos produtores tem plantações de outro tipo, inclusive cultivam laranja, que antigamente acostumava reinar pela região. Sou "Piloto particular", que é uma profissão que dá dinheiro, me contou o jovem na viagem. Você pode fazer diferentes cursos de pilotagem e cada um habilita para um tipo de serviço. Aqui no campo, tem muitos pilotos de pequenos aviões monomotor que são contratados para jogar "defensores agrícolas" nas plantações de cana. Ele disse que vários amigos dele sofreram graves acidentes por causa da manutenção precária dos aviões.
Dinheiro e mais dinheiro. Em Barretos, é só você entrar no estádio onde é realizado o rodeio e assistir aquele "circo" todo para sentir-se pequeno ante tanta opulência do capital. Tudo é marca e patrocínio, desde o trator que passeia na arena, os outdoors em volta do estádio ou a grande tela que transmite em tempo real ao rodeio. - É a cultura deles, me disse um Índio da tribo dos Pataxós que todo ano está no "Rancho do Peãozinho" vestido a carácter, ensinando sobre a cultura indígena e vendendo produtos "autóctones" para as crianças.

Tudo é compra e venda. Cultura Country. Me fez lembrar os filmes do faroeste e os super heróis dos seriados Norte Americanos. Fiquei apavorado com o comercial que mostra o "Objetivo do Herói Peão", que é participar do "The América", que reúne "Cowboys" de todo o mundo no epicentro que fica nos Estados Unidos. Mais apavorado fiquei com o final do comercial e o hasteamento da bandeira americana. Ai meu Deus, que medo. Fiquei pensando, sempre fomos colônia, seja dos Espanhóis ou Portugueses, dos Ingleses ou dos Americanos. No Brasil, inclusive, a tal divida externa já existia desde a época do Império é o único pais da região que ameaçou ter uma real independência econômica na época, o Paraguai, foi massacrado pela tal "Tríplice Aliança" a mando dos Ingleses, numa dos maiores genocídios da história.

Barulho e mais barulho, acabei compreendendo qual é o motivo de, no meu bairro, o pessoal ficar ouvindo aquelas músicas de duplas sertanejas e etc. naquele volume altíssimo nos seus carros... Acho que eles são simpatizantes de rodeio (rs)... Aquelas letras e melodias fáceis e contagiantes... Bom, cada um tem seu gosto...

Barretos recebe gente do Brasil todo, seja para curtir a festa ou a trabalho. - "Aqui é um lugar para se ganhar ou para se gastar dinheiro", me disse o "Paraná" que é um senhor que todo ano está na festa para trabalhar com seu "Touro mecânico".

Mas como sempre há a exceção á regra, é  bom ressaltar que, apesar do clima de "Disney Word Caipira" reinante no Parque do Peão, existe uma turma que ainda se preocupa em preservar as raízes tanto da cultura caipira, seja a Moda de Viola, a Catira, ou a Chula, por exemplo, como de outras expressões da cultura popular brasileira, como o Forró Pé de Serra, o samba raiz e até mesmo samba-rock brasileiro. Trata-se do pessoal da AGCIP que tem como objetivo ser uma "Parceria Caipira Fomentando a Cultura no Interior Paulista". Pelo palco "Culturando - Folclore em Cena" vi várias atrações, tanto de artistas contratados via edital como de pessoas da comunidade apresentando suas atividades. Lá assisti, por exemplo, a uma comovente apresentação de dança realizada por deficientes visuais, onde a instrutora guiava os quase cegos no palco batendo com um bastão no chão. O mesmo pessoal da AGCIP realiza atividades dentro de numa barraca montada dentro do "Rancho do Peãozinho", onde fiquei alojado, dando um tom "cultural" diferente a festa.

Palco da AGFIP na festa do Peão de Barretos

Eu fiquei lá, argentino, brincando com minha burrinha pernambucana, no Rancho do Peãozinho, dentro da Festa do Peão Boiadeiro de Barretos. Agradeço pela experiência a Renata, coordenadora do rancho, que me contratou, dando total liberdade para eu "brincar" do meu jeito.

Site da AGCIP
http://www.agcip.org.br/videos/festival-folclore-em-cena-etapa-barretos/

Birigui e Araçatuba:

De uma forma simples, sem a bicicleta, carregando os objetos do espetáculo mais a burrinha, figurinos e roupas pessoais para uma semana na estrada,  numa viagem de ônibus desde São José dos Campos até Birigui, com escala em São José do Rio Preto, no auge das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Peguei um final de semana de frente fria com forte vento e chuva. A programação do SESC-Birigui incluía uma apresentação do espetáculo Sábado de noite na praça de Birigui e outra na tarde do Domingo em Araçatuba. Em Birigui não rolou em espaço aberto por causa do clima e a gente tentou apresentar na Biblioteca Pública, mas sem sucesso, já que coincidiu com a hora do jogo do Brasil na final do futebol masculino das olimpíadas, com prorrogação, pênaltis, etc. além da forte chuva, o que acaba inibindo as pessoas a sair de casa. No Domingo tinha vários fatores para a apresentação não ter dado certo. O forte vento frio ao qual as pessoas de Araçatuba não estão acostumadas, o fato de já ser final da tarde, e as pessoas já estarem se preparando para irem embora, a instalação ás pressas do som, o cabide com cruzamento de rua que não parava em pé, a insegurança do uso da flauta com microfone ret 7, etc.
Foi realmente bom apesar de todas das dificuldades. Comecei o espetáculo ao ritmo do jazz, de forma espontânea, sem prévio anúncio, interagindo com quem encontrava no caminho, percorrendo os quatro cantos da praça, enquanto o público assistia as situações inusitadas que rolavam. Depois me coloquei na frente do cruzamento da "Rua da Tristeza" com o da Rua da Alegria e narrei a história de cabo a rabo e, no final, agradeci, me apresentei e "brinquei" de burrinha, um dia antes do dia do folclore, que é celebrado no dia 22 de Agosto.

Foto de Amanda Bonetto (SESC - Birigui)
Mais fotos de apresentação em Araçatuba:
https://www.facebook.com/sescbirigui/photos/a.1068168933276261.1073741951.135594836533680/1068169073276247/?type=3&theater

De volta ao hotel, para fechar com chave de ouro o Domingo, assisti ao programa Café Filosófico da TV Cultura, que tinha como tema central a obra do Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes Saavedra. A palestrante, Janice Theodoro, trouxe a imagem do Dom Quixote é o que ela representa para nós na sociedade contemporânea.
Construir uma sociedade justa. Ser crítico consigo mesmo. Obedecer a própria consciência. Aceitar que os "moinhos de vento" estão dentro da gente, referindo-se ao "sonho". Ser, de dentro para fora e não de fora para dentro. Essas foram algumas dos exemplos que foram extraídos da obra, tomando em conta que hoje em dia se dá mais importância ao momento presente, as virtudes do corpo em detrimento das virtudes do espírito. - "São os bens materiais que qualificam o indivíduo, tal vez por isso exista tanta corrupção", ela diz. Finalmente a palestrante conclui: - "A gente precisa desconstruir para ver direito as coisas, desconfiar de si mesmo. Vale a pena rir da gente para dar um passo a frente"...

Link Programa "Café Filosófico"
https://www.youtube.com/watch?v=WpswOwH5Uow

Para mim não é diferente quando vou "brincar" livremente nas ruas conseguindo meus ganhos na base de rodar o chapéu de quando me apresento dentro da programação um SESC. por exemplo. Inclusive o tema do espetáculo é esse. Acabo rindo de mim mesmo, já que faço uma paródia da minha luta pela sobrevivência através do teatro de rua

















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