O legal do último final de semana foi ter assistido ao filme
“Terra em Transe”, do Diretor Glauber Rocha, na sede do “AME Campos” (Associação
de Amigos de Campos do Jordão), como parte da programação do “Cine Clube
Araucária”, coordenado pelo Senhor Cervantes.
Localizada numa bonita casa antiga, ficamos na sala, sentados em confortáveis poltronas, tomando um excelente vinho chileno, o
Secretário de Cultura do Município, uma senhora jornalista de uma conhecida
revista acompanhada por seu marido, os produtores do evento e mais umas poucas
pessoas, inclusive eu.
O filme, digitalizado, foi projetado num telão que ocupava
grande parte de uma das paredes, dando o clima de um cinema.
"Terra em transe" é realmente uma “paulada” na cabeça, forte e totalmente atual. Devido a sua linguagem simbólica, me vi na obrigação de
recorrer a uma análise feita por estudantes universitários para poder entender
melhor a trama.
Lançado em 1967, o filme faz parte do movimento “Cinema Novo”,
que tinha o intuito de despertar nos espectadores uma consciência crítica sobre
os problemas sociais e políticos que atingiam o país na época. Destacam-se, como
características da narrativa, a descontinuidade, da qual a quebra da
narrativa linear impõe ao espectador a reflexão sobre o que está sendo exposto; o
dinamismo, o excesso de movimentos de câmera e cortes abruptos de cenas; e a
desarmonia, ou seja, há um desconforto no espectador diante de uma história “confusa”,
que não tem qualquer pretensão de orientar ou controlar a interpretação da obra.
O engajamento para combater a miséria e a desigualdade, o caráter paternal que
anestesia as mazelas da pobreza, a indiferença passiva que está alienada de
tais elementos, a repugnância que desencadeia toda esta situação, todos
diretamente relacionados com o cotidiano pobre, dependentes dos votos e da
ignorância das massas. A questão agrária, colocada por Glauber, pano de fundo
de toda a questão da terra no Brasil, parece se apropriar de certos elementos
do passado para construir sua representação. A alusão à formação das Ligas
Camponesas no nordeste, que no governo de João Goulart teve os seus ensaios com a
formação da Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA). No filme, o cineasta
buscou representar a questão da violência no campo, deslocando sua crítica para
a incapacidade das massas de organização política e suas dependências paternalistas de setores ligados ao poder.
Porfírio Diaz, como seu correspondente histórico, simboliza
a alegoria do político corrupto e oportunista, que muda de lado conforme o
vento, e perpetua-se no poder com o auxílio dos setores mais reacionários, com
o sacrifício da população mais carente e despossuida. Felipe Viera, político
de "Alecrim", província periférica de “El Dorado”, é porta voz da reação ao
jogo político simbolizado por Porfírio Diaz. Têm um tom paternalista e é um
demagogo de grande influência nas massas. Mas Vieira, ao tornar-se governador
de Alecrim, mostra sua fraqueza de caráter, escondendo-se atrás de um discurso
conciliador com as forças reacionárias, abandonando a aliança que tinha
construído com a população, especialmente com os camponeses.
Figura fortíssima a de Paulo Autran, como Porfírio Diaz, que, empunhando uma bandeira numa mão e um crucifixo na outra, conclama olhando para
a câmera: - “A sociedade brasileira é feita de classes! A que classe você
pertence, hein? A que classe?(...)”
Paulo Autran em "Terra em transe" |
Fonte de dados: http://pt.slideshare.net/LucasSchuabVieira/terra-em-transe-1967-anlise-do-filme-de-de-glauber-rocha-lucas-schuab-vieira
E lá estou eu, ingênuo, com meu palhaço no meio da rua, em
Campos do Jordão, tentando alegrar a massa, acreditando no meu Brasil amado. E
lá está o grande senhor Cervantes, distribuindo consciência e cultura, fazendo
política entre os ricos e os pobres de espírito. Para mim, seu “Cervantes”, os
moinhos de vento ficaram realmente indestrutíveis e está cada dia mais difícil enfrentá-los, mas, mesmo assim, continuo lutando...
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