quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O Pierrô e o Arlequim

O Carnaval está chegando finalmente, e esse é em Março, o que acaba atrasando o funcionamento das coisas, já que no Brasil o ano começa realmente depois do carnaval.

Resta-me ir mais uma vez batalhar meu sustento nas ruas em Campos do Jordão, na base de rodar o chapéu para os turistas que frequentam a cidade, consciente das dificuldades que vou encontrar.

Redescobri os personagens da Commedia dell’arte Pierrô e Arlequim junto a Colombina no livro “O Canto da Praça” de Ana Maria Machado e me senti identificado com os dois.

O meu Arlequim tem mais êxito com o público das ruas porque é mais para cima, alegre, festivo e otimista.   Por sua vez, o meu Pierrô é mais introspectivo, delicado, poético e romântico; detém-se para dialogar com uma criança, toca uma música na sua flauta e esquece da necessidade do dinheiro; é mais sonhador e menos objetivo.
Se prevalecer meu espírito de Pierrô até um cachorro vira latas tentando pegar uma pomba ao voo chama mais a atenção do que eu. Se fosse um bêbado me atrapalhando também chamaria...

Lembro das palavras de um amigo comerciante que me disse: “Ninguém vai te dar nada, você tem que fazer acontecer, fazer o povo rir”. É bem isso, para dar certo você tem que se mostrar forte, ser “O Cara” , “ O Arlequim”.

Cito um trecho de uma palestra do Filósofo Leandro Karnal no programa Café Filosófico da TV Cultura falando da vaidade: “Hoje em dia instituímos a vaidade como virtude. A humildade não pega bem. Temos a necessidade de ser únicos, especiais, fortes, onipresentes. A nossa vaidade não permite mais a falha, não permite a tristeza, não permite a dor e o fracasso. Hoje devo subir sem queda. É função dos pais estimularem o novo nome que é auto estima. Eliminarem a dor, a depressão e o choro”. A melancolia não pega bem.

O Figurino do Arlequim é alegre, colorido. O do Pierrô, branco e preto, igual às cores do meu personagem mímico-flautista.
Um dia desses, depois de comentar com uma amiga que eu tinha errado umas notas tocando flauta nas ruas, obtive a seguinte resposta: “As pessoas não percebem o erro; elas só querem festa”.

Acredito no equilíbrio entre o Arlequim e o Pierrô, assim como acreditou a Colombina


Foto de Mel Braga

Link de Programa Café Filosófico: https://www.youtube.com/watch?v=NNUZrOORaiU

Link da "Estante Virtual: https://www.estantevirtual.com.br/livros/ana-maria-machado/o-canto-da-praca/3234738727