Buck era um cachorro de grande porte que morava numa fazenda
de uma família de classe média alta, que o tratava como um rei, até que um dia
fora raptado e levado à força para puxar trenós na região gelada do Vale do Rio
Klondike, no Canadá, onde os homens se aventuravam à procura de ouro no final
do século XIX.
O certo é que Buck deixou o meio “civilizado” em que nasceu
e se criou para enfrentar todo tipo de adversidades num meio desconhecido.
Começava assim a sua luta pela sobrevivência, na qual teve que brigar para
ganhar o seu espaço, matar para não ser morto, ter atitude; impor. A sua vida
deu um giro de trezentos e sessenta graus e ele virou puro instinto. Nessa dura
aventura em terras geladas, passou pelos cuidados de vários donos, até
encontrar um homem que o tratava realmente com carinho.
Mas Buck ouvia o clamor da selva, que o chamava para si
através do uivado dos seus ancestrais, os lobos. E quando seu dono, último elo
civilizatório, veio falecer, ele se juntou aos seus pares, voltando às suas
origens.
Li esse livro, que no Brasil tem tradução de Monteiro
Lobato, há um bom tempo, a pedido de um amigo “conselheiro” que vislumbrava a
minha busca como ser humano e artista.
Vem-me essa história à cabeça nesse momento inusual que
estamos passando. De repente tudo parou e fomos obrigados a ficar dentro de
casa, isolados uns dos outros. Vejo pessoas ficando desesperadas, com tédio,
sem saber o que fazer. O bom é que o fato de não poder sair nos obriga a olhar
para nós mesmos.
O isolamento, a quarentena, leva-nos a fazer uma viagem
interna, a mergulharmos no nosso interior e nos deparamos com a nossa história.
Lembramo-nos da infância, das primeiras impressões que tivemos das coisas, as
sensações, os cheiros, os sabores...
O universo mágico da brincadeira da criança. Nascemos puros
e livres de conceitos e aprendemos através da nossa experiência de troca com o
meio, influenciada pela educação que recebemos.
Em tempos de calamidade pública como este é que a gente se
questiona sobre temas tais como: “O que é que a gente realmente precisa para
viver?”.
Estamos fazendo parte de uma história tirada de um livro de
ficção científica. A natureza se vingando dos maus tratos recebidos por parte do
ser humano, através de um vírus que foi gerado por ele próprio. O planeta
agradecendo pelo intervalo da máquina de produção e consumo. Rios e ar
despoluindo e animais tomando conta da “selva de cimento”, agora inabitada, em
tempos de isolamento.
A história de Jack London remete ao modo de vida dos povos
indígenas que constroem suas malocas e vivem do cultivo, da caça, da pesca e se
curam com o uso de plantas medicinais. Vale lembrar que várias doenças foram
levadas para as tribos indígenas isoladas por meio do homem “civilizado”.
No começo da revolução industrial, as coisas eram feitas
para durar. Hoje, apesar dos avanços tecnológicos, tudo virou descartável. O
Brasil, de industrial tornou-se importador e pouco produtor. Vivemos na era do
capital improdutivo, em que dinheiro gera dinheiro.
Quem sabe esse momento seja bom para pensarmos na
possibilidade de mudança tanto no plano individual como no coletivo. Quem sabe
essa crise sensibilize nossos governantes a investir em educação, em incentivo
à pesquisa, à ciência, tecnologia e produção industrial própria para termos
realmente “Ordem e Progresso” como nação.
Por enquanto, como simples artista de rua, fico com a
mensagem tirada do cachorro Buck, que se deixou levar pelo seu instinto e dever
comunitário.
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Link para baixar "O Apelo da Selva" PDF gratuito:
http://ciml.250x.com/archive/literature/english/jack_london/portuguese/o_apelo_da_selva_jack_london.pdf
http://ciml.250x.com/archive/literature/english/jack_london/portuguese/o_apelo_da_selva_jack_london.pdf