E agora, quando finalmente eu ia virar Mímico Andarilho, fui obrigado a ficar em casa por causa da “Pandemoníaca”. Pan porque afeta o mundo todo e demoníaca pela forma irresponsável como está sendo encarada pelo governo federal. Tristeza que dá raiva e raiva que dá tristeza. Banalização da morte por motivos políticos e econômicos. Não dá para deixar de reconhecer o esforço de governadores, prefeitos e profissionais da saúde, que tentam fazer o melhor que podem num jogo de desinformação articulado por quem está na presidência.
Vou,
mas mantenho como porto entre minhas viagens, alugada, a casinha onde moro há mais de
onze anos, assim como à inscrição dos meus espetáculos nos editais da Fundação
Cultural, em São José dos Campos.
Curioso
tem sido como o meu trabalho na cidade turística de Campos do Jordão, onde
“brinco” há mais de duas décadas, foi deixando de rolar com a mudança de
infraestrutura até culminar nessa pandemia. A natureza tão revoltada como meu
ânimo ante a falta de sentido.
Depois
eu vou...
Por
agora, enquanto fico em casa, o tempo passa tão depressa que fica difícil de
amarrar. Tantas coisas a serem feitas, estudar, treinar, ler, escrever e mexer
no meu quintal.
Vou
matutando, mexendo, remexendo; do barro aos versos do seu Manoel...
- “Para
ser escravo da natureza o homem precisa de ser independente”.
- “Só
o silêncio faz rumor no voo das borboletas”.
- “A
voz de um passarinho me recita”.
- “Lagartixas
piscam para as moscas antes de havê-las”.
- “Em
casa de pobre as mariposas preferem fremir peladas”.
- “Cachorro
quando vê lesma gosmilha”.
- “Formiga
não tem dor nas costas”.
- “Dentro
da mata no entardecer o canto dos pássaros é sinfônico”.
Caderno de Andarilho - Manoel de Barros.