Foi no isolamento da pandemia que surgiu a ideia, quando observava
pelas grades do portão de casa gente de todo tipo vindo a pé, de bicicleta, de
moto ou até de carro popular com bancos detrás arrancados, catar o “lixo
reciclável” da minha rua para ser vendido em algum ferro velho próximo.
Quando vi publicado um edital de audiovisual do fundo
municipal de São José dos Campos com orçamento bem baixo senti que era uma boa
oportunidade de realizar o projeto de produção de vídeo documentário, já que a
concorrência seria menor. Consegui uma parceria com a escola municipal de
ensino fundamental onde estudou meu filho e apoio de profissionais que
encararam o desafio mesmo ganhando pouco e me inscrevi. Depois comecei frequentar
a oficina de fotografia do Gustavo Fataki na casa de cultura “Eugênia da
Silva”, no Novo Horizonte, que fica num bairro bem distante do meu.
Com o “Ciclo e Reciclo com o Mímico Andarilho” passamos em
primeiro lugar no edital. Agora ia poder comprar a minha primeira câmera de
entrada.
Tudo foi difícil. Primeiro à compra da câmera, que devia ser
em parcelas a serem pagas com meus recebimentos mensais pelas minhas funções no
projeto. Contei com a generosidade do Gustavo que se dispôs a me dar
“assessoria técnica”, indo comigo nos lugares fazer os testes necessários,
tratando-se de um produto usado e do qual eu tinha total desconhecimento. Com câmera em mãos agora devia achar um
parceiro que me auxilia-se. Lembrei-me de Fernando Carvalho, que uns oito anos
atrás tinha fotografado minhas interações espontâneas na rua. Ele topou a
proposta. O seu conhecimento de elementos de fotografia ajudaram bastante nas
escolhas, tipo a compra do cartão de memória, a melhor lente a ser usada, etc.
Optamos por filmar com uma só câmera, em mãos, com microfone externo plugado à
mesma.
O roteiro do vídeo foi tomando forma no percurso. Tínhamos um
esboço que incluía o processo do material reciclável por inteiro, mas
esbarramos com pessoas que tiram o seu sustento do ato de catar, então focamos
mais neles.
Entrevistar os catadores de rua é complicado já que não dá
para querer marcar um horário e local determinado. Como eles vivem o dia a dia,
tem que ser feito de forma espontânea, na hora. Sendo assim, até entender o
funcionamento levamos vários canos por diversos imprevistos. Isso, além das
complicações com a chuva ou com sol em excesso, já que a maioria das imagens foi
externa.
Da metade para frente do processo saí sozinho de bicicleta
pelas ruas registrando imagens, às vezes com uma mão no guidão e a outra
segurando a câmera. Desse jeito achei no bairro Vila Maria à Lucia, catadora à
qual entrevistei. Noutro dia sai de noite flagrando cenas da cidade e do
cotidiano dos catadores. Filmei o trânsito em horário de pico e à multidão de
pessoas no calçadão do centro, aos sábados, assim como peguei imagens de
catadores que moram nas ruas. Entrevistei Seu José, meu vizinho que construiu
um pomar que é frequentado pelas pessoas que moram nos prédios que ficam enfrente
á APP - Área de Preservação Permanente - situada no bairro onde moro. Achei até
a plaquinha que fecha nossa história, colocada por algum vizinho local onde
está escrito “Repense – Re use – Recicle”...
Finalmente veio a parte mais trabalhosa, que é a da edição. É
ali onde a gente constrói à história. Portanto, para facilitar, a minha primeira
tarefa foi separar as imagens em casa, classificando-as em pastinhas de acordo
com as cenas. Depois, a segunda tarefa foi a de decupar as imagens, anotando o
trecho do registro que íamos utilizar, além da ordem, da criação do texto
quando foi preciso, da música, etc.
A edição do vídeo foi realizada Junto ao meu amigo André
Pontes no estúdio dele, num processo que demorou longas jornadas de trabalho,
onde, além de tentar reduzir ao máximo os estouros de luz de registros feitos
por dois iniciantes na arte de filmar, criamos a trilha sonora, tudo feito de
forma artesanal. À ideia era que á
música tornasse à história pulsante, como forma de manter a atenção do nosso
público alvo que são às crianças e adolescentes, alunos de escolas da rede
pública de ensino da cidade.
De acordo
com o André, à música é que dá o tom.
“Pega uma cena de drama de cinema,
por exemplo, e tira á musica de fundo; ela vai perder o sentido”.
Link do Vídeo Documentário na íntegra no Youtube: