sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A menina e a coleira...

 

Dos animais de estimação que as pessoas criam, os mais comuns são os cachorros e os gatos. Os comércios que atendem um público com certo status social ou poder aquisitivo maior acabam tendo que se adaptar a essa realidade, permitindo a permanência dos animaizinhos integrantes da família dentro dos estabelecimentos. Estes, pelo geral, presos a coleiras ou, se forem menores, até dentro de carrinhos tipo de bebê.

Trabalhando na frente de restaurante com mesas na rua, na passagem de pessoas, em Campos do Jordão, costumo ver cenas das mais inusitadas, como as de cachorro vira-latas querendo brigar com cachorro de raça de família abastada.

Do que tenho presenciado, nada supera a experiência que tive um dia desses, na temporada de inverno, enquanto estava me apresentando. De repente, vejo uma criança linda, loira, de olhos azuis, de uns seis ou sete anos, presa a uma cólera, passeando com seu avô. Fiquei tão chocado que parei tudo e fui atrás deles. A menina parecia saudável, mas o seu olhar estava um pouco perdido e ela não se comunicava com o meio que a rodeava. Falei com o vô, um senhor elegante, que me disse que ela tem uma doença rara que os médicos não conseguem detectar tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, que eles gastam na faixa de uns trinta mil reais por mês em convênio médico e que ela frequenta uma escola de crianças normais de forma de ser incluída na sociedade. Perguntei se eu podia tentar me comunicar com ela e, sendo autorizado, enchi uma bexiga dessas de criar figuras e a coloquei na frente da menina. Ela simplesmente a afastou com uma mão. O avô me disse “não adianta, ela fica no seu mundo e ainda não fala”. “Já tentamos de tudo e chegamos à conclusão de que o problema dela é espiritual”. Espiritual? Perguntei. “Sim, a gente acha que é carma”. Dito isso como conclusão, parece que ele nada mais iria escutar do que eu dissesse. Mesmo assim, argumentei: Bom, menos mal que vocês têm dinheiro para poder dar uma estrutura mínima e procurar uma solução para o problema dela. Também comentei que em São José dos Campos, cidade onde eu moro, existe um serviço público municipal gratuito chamado “Integra” que atende pessoas com todo tipo de deficiência e que lá há uma estrutura parecida como a que ele me disse oferecer o convênio para sua neta, com psicólogo, terapeuta ocupacional, etc. e que ainda oferece oficinas de arte.

Despedindo-me do avô e da menina várias coisas passaram pela minha cabeça. A primeira é que dinheiro não compra tudo. A segunda foi: "Olha só, gente rica acredita em carma". A terceira, é o questionamento de porque eles têm tanto medo de perder o controle da situação não deixando a menina solta...

 

 

Imagem de internet


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