“Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força de
incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses
homens! Todos puxavam o mundo para si, para concertar consertado. Mas cada um só
vê e entende as coisas dum seu modo...”
Vou determinado para as ruas, montado no meu cavalo de duas
rodas, de capacete, cara branca e nariz de palhaço, carregando debaixo do braço
o “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, qual fosse minha bíblia. O
livro, numa versão antiga, foi achado meio rasgado entre os objetos que foram
deixados para trás pelos músicos populares Zezé e Simões, quando partiram para
o Sul.
“Deus vem, guia a gente por uma légua, depois larga. Então,
tudo resta pior do que era antes. Esta vida é de cabeça para baixo, ninguém
pode medir suas perdas e colheitas. Riobaldo, a colheita e comum, mas o capinar
é sozinho... É o mundo á revelia!”
Curioso é que São José dos Campos convive entre o
crescimento urbano e o resquício de roça. Senti isso claramente na outra noite,
quando fui “brincar”, depois de algum tempo, na frente dos bares dos bairros
burgueses, que ficam na região de São Dimas e da Vila Ema para depois descer e
continuar-nos da Zona Norte, onde se concentra uma população de gente mais
simples, de origem mineira, que nem Guimarães Rosa...
“Esta gente sertaneja, em tudo eles gostam de alguma demora.
O mundo estava vazio. Boi e boi. Boi e boi e campo. O que é de paz cresce por si.
Enquanto mais ando querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do
vago..."
O trânsito de carros cresceu enormemente nos últimos anos e com eles a poluição do ar e á sonora, assim como o estresse, a violência, o medo, etc. Os estabelecimentos foram ficando cada vez mais protegidos com vidraças que os separaram da rua. As mesas nas calçadas hoje são bem mais escassas. Existem várias opções de lazer, tipo shows de música e de espetáculos de teatro que acontecem dentro de lugares formais tipo o SESC, o SESI, etc.
O trânsito de carros cresceu enormemente nos últimos anos e com eles a poluição do ar e á sonora, assim como o estresse, a violência, o medo, etc. Os estabelecimentos foram ficando cada vez mais protegidos com vidraças que os separaram da rua. As mesas nas calçadas hoje são bem mais escassas. Existem várias opções de lazer, tipo shows de música e de espetáculos de teatro que acontecem dentro de lugares formais tipo o SESC, o SESI, etc.
“Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a
sim razão de motivo. Eu não sabia o montante que queria, nem aonde em extensão
eu ia. A gente tem de sair do sertão! Mas só se sai do sertão é tomando conta
dele a dentro. O sertão é o mundo...”
Apesar de todas as dificuldades, acredito que o trabalho de
intervenção é necessário, já que quebra com o protocolo e se defronta com o
movimento cotidiano das pessoas, surpreendendo, criando situações inusitadas, espelhando
a realidade...
Claro, é preciso ter coragem e saber que cada lugar
condiciona um tipo de comportamento. Eu tento tratar todo mundo com carinho e
com respeito, independente da idade, condição social, cor da pele ou a opção
sexual de quem estou interagindo. O mais legal é a conversa que estabeleço com
algumas pessoas do público antes, durante ou depois da brincadeira.
“Amigo para mim e só isto: É a pessoa com quem a gente gosta
de conversar do igual a igual, desarmada. O de que um tira prazer de estar próximo.
Só isto, quase; e todos os sacrifícios..."
“Ai, no intervalo, o senhor pega o silêncio, põe no colo... O
gado ainda pastava, meu vizinho, cheiro de boi sempre alegria faz...”
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