Eu vejo os grupos montarem espetáculos de teatro de rua onde
existe um cuidado especial com a história, a linguagem, o figurino, o cenário,
o trabalho corporal, etc. No final rodam o chapéu como o manda a tradição, mas dificilmente
eles sobrevivem do arrecadado espontaneamente do público. Em geral se
sustentam vendendo suas apresentações, ou graças a leis de incentivo ou a editais públicos ou privados ou então
os integrantes tem outra fonte de renda além do teatro.
Pelo geral eu consigo o dinheiro de forma espontânea nas
ruas porque vou simplesmente “brincar”, sem a necessidade de ter que contar uma
história, mas para isso as pessoas precisam rir muito.
Apesar de tudo eu acredito que sempre se pode sobreviver
de teatro de rua na sua essência, ou seja, com a colaboração espontânea do público. Eu já vi muita gente
ganhando dinheiro apresentando-se na rua com um trabalho decente. É claro que tal
vez as tramas sejam mais curtas e a linguagem mais popular, o que não
quer dizer de baixo nível.
Tenho conseguido contar uma história quando apresento meu
espetáculo chamado “Na Rua”, mas isso tem acontecido de um jeito formal, em
locais onde as pessoas param para assistir. O legal é que essa minha experiência
da rua me permite sair da história e improvisar com público a qualquer hora do
espetáculo, inclusive me adaptar ao lugar da apresentação.
Apresentação do "Na Rua" para os funcionários da loja da "Geneve" em Campos do Jordão, SP |
Respeito imensamente o teatro e acredito que ele tem o poder de mudar as pessoas. Com o meu personagem “Mendigo” estou conseguindo tocar na flauta a primeira parte do Hino Nacional Brasileiro de cabo a rabo, fazendo as pessoas cantarem junto, para no final, depois das palmas espontâneas, pedir-lhes colaborações para matar minha fome. Feito isto, pego uma bandeirinha do Brasil e a penduro na velha mala que eu carrego.
Estou convencido de que a tal “Pátria educadora” somos nós, os adultos, e que
fazer teatro é uma forma de educar também.
Acredito que todas as linguagens são válidas. A minha
é a do improviso e da interação com o público, para a qual me preparo toda vez
que não estou “no palco”...
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