Só ouço falar na crise que o país atravessa. Bom, eu já
sobrevivi a várias crises no Brasil. Na época do plano Collor, quando todo mundo
estava desesperado porque tinham pegado seu dinheiro da poupança, eu fazia rir
o povo nas ruas de Porto Alegre RS. Na época de FHC, quando o desemprego
atingiu o 20% das pessoas, eu “brincava” nos bares de São José dos Campos, SP.
Lembro-me de uma vez em que uma senhora se referiu a mim para comentar que de
alguma forma a gente tinha que se virar para sobreviver (rs).
Aparentemente eu recebi o dom de conseguir improvisar com o
que a rua me oferece, apesar de depender muitas vezes do meu estado de ânimo e
do das pessoas.
Em Campos do Jordão, onde me apresento há mais de vinte anos,
estou recebendo um pequeno apoio desde Março o que faz menos ardida a situação
de ter que depender pura e exclusivamente da colaboração espontânea do
público.
Tenho tentado passar paz para as pessoas, fazendo-as
entender que apesar de imitá-las, trata-se de um jogo onde tento enaltecer o
lado humano, a criança que todos temos dentro.
Meu trabalho está servindo, de certa forma, como marketing do
logo que me apoia. Na hora de almoço fico no meio da “Muvuca” vestindo a
camiseta do Shopping “Boulevar Geneve” e no final do dia vou para a loja do
dono do Shopping, vestindo a camiseta com o nome da mesma.
Curioso é ver como meu personagem “Mímico Andarilho” se encaixou
com o local que parece um castelo e onde no quintal da frente estão
estacionadas várias bicicletas coloridas. Lá as pessoas tomam chá, almoçam e compram
roupas. O público em geral é de pessoas de classe social elevada. Lá eu brinco no meio das mesas e, muitas vezes, passeio com minha burrinha. O clima
é muito agradável, tranqüilo, ao contrário do que acontece no meio da multidão.
Lá conheci Lara, uma menininha de seis aninhos, cheia de luz, que me recebeu
dizendo que queria ser palhaça e que ia me ajudar na brincadeira. Lá fui
parabenizado pelo designer gráfico Hans Donner, que se encontrava junto à
menina sem eu ter percebido.
Crianças, elas são as merecedoras de tudo, inclusive a
menina que me seguiu dentro do shopping, dizendo que ela imaginava que se abria
o chão para eu guardar minha “burrinha” que nem o personagem “Batmam”...
"Burrinha Sans Souci" |
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