“Perdido como turco na neblina”. Quando digo esse ditado
para as pessoas elas não entendem muito bem de que se trata, mas, o certo é que
no inverno de Campos do Jordão, a noite, é só assoprar que tudo fica envolto em
neblina.
Um senhor bem idoso me dizia no outro dia que é incrível
notar como gente é diferente, cada um, um cada qual. Sinceramente eu não acho,
vejo tudo meio igual, com uma plaquinha de preço, para vender ou comprar.
A multidão tomou conta da cidade e eu fiquei meio deslocado.
Por sorte, no último feriado de Corpus Christi, consegui um pequeno apoio da
lanchonete “Black and Withe” que fica afastada a uns metros da “muvuca”. Lá eu
consigo brincar de burrinha no trânsito como antigamente e ainda fico tocando junto
aos músicos que fazem a trilha sonora ao vivo. Elayne e Mateus têm salvado a
minha pátria e o meu ânimo com uma dúzia ou mais de xotes e baiões que eu
acompanho no pandeiro. Música nordestina de qualidade.
Foi à própria Elayne quem arranjou o meu primeiro bico de
músico no dia dos namorados num restaurante localizado no corredor do “Shopping
Genêve”, do lado do badalado Baden Baden. Lá eu estava, com minha caixinha de
som presa a cintura, a malinha, a estante e a pasta de partituras,
caracterizado de mímico-palhaço a me apresentar para os comensais, no horário
de almoço de domingo. Para minha surpresa, a gerente do restaurante perguntou
se já estava pronto e, sem mais, desligou o som ambiente. No silêncio, comecei
tocar flauta, sem microfone, acompanhando as bases de play back executadas na minha caixinha.. Senti na pele como é a relação do público com os músicos. Parece que
não importava que eu estivesse caracterizado. Eles só olhavam de relance.
Tomei uma atitude para quebrar o gelo e, depois de pedir para ligarem o som ambiente, aproveitei a ocasião do dia dos namorados para encher uns
balões “estica” que estavam dentro da mala e entregar corações de bexiga ao "público". Depois, liguei minha caixinha e toquei o
“carinhoso” na flauta, além de outros chorinhos, passeando em volta das mesas.
No final brinquei como mímico, imitando as pessoas que passavam pelo corredor
do shopping, usando o jazz de sempre, saindo da caixinha. Quando acabei,
aproveitei o embalo de alguns e, evocando “a moral do povo brasileiro” me fiz bater palmas, dizendo que é disso
mesmo que a gente precisa, de aplauso, de união, de auto estima”. Saí do local
com o palhaço a flor da pele, super feliz depois do dever cumprido.
Vivemos num momento onde é super importante sermos nós
mesmos. Eu vou de palhacinho, defensor da cultura popular e da auto-estima, as
vezes perdido e noutras achado, carregando as armas que possuo, a Mímica, a
Música, a “Burrinha” e a Palavra em português-brasileiro com sotaque argentino.
Indo à luta... |
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