Na
ingênua e doce figura da menina tudo combina em tons de rosa, o laço de fitas
no cabelo, seus sapatos, o ursinho de pelúcia que ela carrega no colo e até
suas olheiras, sintoma, talvez, de alguma alergia oftalmológica. O nome dela e
Jade, mas bem que poderia ser “Jade Rosada”. É ela quem nos recebe junto a sua
tia, responsável pela nossa apresentação no Auditório Cláudio Santoro, em
Campos do Jordão.
Contratados
pela entidade que cuida o Museu Felícia Leirner, tudo se mostra imenso para nós,
assim como a realidade aos olhos de uma criança. O enorme elevador de carga
onde depositamos os objetos da peça, os altos muros de tijolo do auditório, o
iluminado teto abobadado que deixa aparecer à exuberante mata em volta através
das suas vidraças e até o enorme palco, por onde fiquei andando como beduíno no
deserto, enquanto as pessoas visitantes do espaço entravam e sentavam na
platéia, vendo a atividade preste a acontecer.
Apesar
de que o combinado era apresentar o espetáculo num canto do palco, colocando as
crianças sentadas no mesmo, formando um semicírculo em volta da gente, não teve
jeito; tivemos que apresentar da forma tradicional, ou seja, nos no palco e o
público, de todas as idades, nas poltronas do auditório. Colocamos os objetos
na frente, no meio do palco e, como a história começa com a nossa chegada e a
montagem do cenário na frente das pessoas, tudo se desenrolou naturalmente,
como se fosse na rua. Vindos de uma semana de trabalho intenso, onde tivemos a
oportunidade de mergulhar na trama, junto ao auxilio do diretor e dramaturgo
Dagoberto Feliz, patrocinados pelo projeto “Cidade em Cena” do SESC de São José
dos Campos, encaramos o desafio com o entusiasmo necessário.
Para
mim foi um prazer incrível ter a oportunidade de me apresentar no palco daquele
templo onde acontece o Festival de Música no inverno, depois de quase vinte e
cinco anos nos quais venho realizando intervenções, de forma espontânea, nas
ruas do centro turístico de Campos do Jordão.
Senti-me
criança, como Jade, que ficou ali, sentada na frente da gente, cúmplice da
nossa experiência.
Sem
dúvida, o texto que escrevi para “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz”,
adaptação do conto original do escritor irlandês Oscar Wilde, reflete minha vivência em Campos e a visão que tenho sobre o contraste que existe entre as
pessoas pobres moradoras da cidade e o turismo de alto nível que movimenta sua
parte financeira.
O
Príncipe Feliz da nossa história se desfaz das suas riquezas e as entrega aos
pobres para amenizar o sofrimento destes, assim como nós as entregamos ao
público presente.
Na
mistura de tristeza e de alegria que a peça produz temos nos olhos arregalados
das crianças a resposta positiva que esperávamos no final da apresentação,
especialmente de Jade, a menina cor de rosa, que nos acompanha até o táxi que
nos leva de volta até a rodoviária.
“Dois
Brincantes e o Príncipe Feliz”
Apresentação
realizada no dia 23 de Dezembro de 2018
Apoios
de Marcelo “Brasões de Família” e de Cine Clube Araucária.
Realização.
“Museu Felícia Leirner - Campos do Jordão”.