quinta-feira, 5 de março de 2020

“Ingênuo”


Entre a tristeza e a alegria, entre o medo e a fé, perambula meu sorriso de palhaço. Vou para rua impulsionado por uma louca emoção infantil. Sou ingênuo, acredito na bondade alheia...

Encarar o trabalho no sentido social onde, às vezes, é mais importante o diálogo com as pessoas do que a estética propriamente dita. Se doar, assim como fez o Príncipe Feliz do conto do Escritor Irlandês Oscar Wilde que é o personagem principal da história que apresentamos dentro do projeto “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz na Praça do Bairro” ao longo do segundo semestre de 2019, quando contamos com o financiamento do Fundo Municipal de Cultura da cidade de São José dos Campos. O teatro popular no Brasil sempre se caracterizou por refletir a realidade das pessoas mais necessitadas. No meu caso não é só isso, já que quando vou para rua com “a cara e a coragem” acabo levando essa linguagem simples, "ingênua, para todas as camadas sociais. Ainda continuo me apresentando na cidade turística de Campos do Jordão como há vinte e cinco anos atrás, mesmo sem apoio. O que me faz continuar subindo a serra, como fiz no último feriado de carnaval, é a convivência com as pessoas que frequentam a cidade e me conhecem desde longa data, com as quais tenho um trato “humano”.

Cito o exemplo de uma menina de seis anos de idade, há qual “animei” seu aniversário de um ano, que me surpreendeu com seu abraço ou o de um grupo de turistas da cidade de Recife que há oito anos passa o carnaval em Campos e fica feliz quando me vê. Um casal tira uma foto de lembrança comigo enquanto me pergunta se sou italiano. A simpática garota novinha que trabalha na frente de um restaurante recebendo os fregueses me disse em tom animador que quando estou presente na rua é bem melhor, já que a arte, apesar de nem sempre ser valorizada, é muito importante na vida das pessoas. Aliás, os funcionários dos restaurantes em geral, na sua maioria jovens, me tratam com verdadeiro carinho. O melhor momento do carnaval, sem duvida, foi no Domingo de manhã, quando sentei no palco vazio da concha acústica da praça de Capivari caracterizado de palhaço, na saída da missa, e tirei da minha pequena mala a estante e a pasta com partituras, para tocar o repertório de música popular que pratico durante horas na minha flauta transversal, acompanhado pelas bases de play back amplificadas pela caixinha de som presa à minha cintura. No fim tinha uma galera sentada ao meu lado, assistindo e batendo palmas a cada música. A acústica do local envolve a praça inteira. O show acabou com um dinheiro razoável na minha caneca de papelão e um casal de turistas que me conhece há anos tirando foto comigo orgulhosos de saber que toco um instrumento.

Coincidentemente a última música que toquei foi o “Ingênuo”, cancão de autoria de Pixinguinha e Benedito Lacerda.

"Eu fui ingênuo porque acreditei no amor. Mas, pelo menos, jamais me entreguei à dor..."






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