“Ah,
viver é tão desconfortável. Tudo aperta, o corpo exige, o espírito não para,
viver parece ter sono e não poder dormir – viver e incômodo.
Não
se pode andar nu nem de corpo nem de espírito...”
(Água
Viva – Clarice Lispector)
Escolhi
subir a serra para realizar meu trabalho de interação direta com público no
último final de semana do ano.
Apesar de não estar
dando lucros faz tempo, a brincadeira livre nas ruas de Campos do Jordão
continua oferecendo momentos únicos de magia para algumas pessoas, pelo geral para as crianças e para mim. Lembro-me de umas cenas que aconteceram quando,
chegando de bicicleta na Praça do Capivari, me detive para conversar com
crianças pequenas. Vendo passar um mini
carro conversível desses de brinquedo de aluguel com um senhor empurrando três
crianças me agacho e vejo que dentre elas duas são meninos japonesinhos. Falo
para um deles: - “Abre o olho”. Ao que o outro japonesinho responde: - “É que
tanto chineses como japoneses tem os olhos puxados”. Eu retruco dizendo:
"Eu sou japonês e não tenho olhos puxados".
Depois, outro menino pequeno vem falar comigo com uma voz
super aguda e eu fico imitando-o dizendo: "Fala com voz normal!”. Ele
continua falando e eu, buzinando, comparo o som agudo da sua voz com o barulho
da buzina da minha bicicleta...
Já na frente do badalado restaurante Baden Baden, uma outra criança sentada a mesa junto com sua numerosa família fica fazendo caretas para mim em tom de desafio, e eu, aceitando suas provocações, respondo a altura com palhaçadas. Ela abre gargalhadas enormes enquanto da cotovelada na turma em volta dizendo: “Olha o que ele faz...”.
O melhor foi quando em determinado
momento, no meio da muvuca, me comuniquei com um menino das mesas com o olhar enquanto brincava de fazer de conta que meu movimento estava sendo conduzido ora pelo meu nariz de palhaço, ora pela minha mão
enluvada. Truques de mímico-palhaço...
O
objetivo principal de 2020 que é o de ter uma estrutura para diferentes tipo de
espaço parece estar bem encaminhado. O ano está acabando e tenho conseguido
apresentar o espetáculo de um jeito formal no último dia 03 de dezembro como
fechamento das oficinas de circo pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, em São
José dos Campos e apresentarei no próximo dia 05 de Janeiro, como atividade de
férias, no Museu Felícia Leirner, em Campos do Jordão.
A
ideia é viajar para diferentes regiões do Brasil, a começar pelo estado de
Minas Gerais, visitando cidades menores, apresentando o espetáculo tanto de um
jeito formal em espaços fechados como indo “brincar” espontaneamente com o personagem nas ruas. Assim foi no começo do trabalho, lá para década dos anos
’80, quando viajava com uma estrutura simples que era apresentada tanto em
praças como dentro das escolas ou teatros.
Estou com um repertório de música popular com bases de play back de
qualidade que são tocados na minha caixinha de som amplificada que vai presa à
cintura. Tenho treinado tocar flauta em espaço aberto sem o uso do microfone.
Mímico Andarilho na Região Noroeste do estado de São Paulo pelo SESC |
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