Foi no dia 08 de Julho de 2021.
O condutor do carro é Alex, um rapaz negro que fica ouvindo seu fone de ouvido
enquanto eu faço perguntas. - Como
tem sido a pandemia para você? - Sempre realiza esse percurso? - Em qual área você trabalha? Aos poucos ele vai se envolvendo com nossa
conversa até deixar seu estúdio completamente de lado.
Responde: - Eu não parei, sou da linha de frente; trabalho
como enfermeiro numa unidade de saúde que atende pessoas com HIV na cidade
posterior a Mogi das Cruzes. Faço essa viagem direto e aproveito para estudar enquanto
dirijo. Tem sido bem difícil porque nossa função é dar conforto às pessoas que
sofrem preconceito, pelo geral colocando a mão nelas, acariciando-as. Só que
agora não pode...
Conto-lhe que sou mímico e estou indo realizar meu primeiro
trabalho de interação com público desde o começo da pandemia, falo do meu isolamento,
do home Office, dos perrengues dos primeiros meses, da força recebida de tanta
gente, da minha horta e de como era antes de tudo isso.
Ele fica entusiasmado com a ideia de plantar e me disse que
o futuro é esse ai, às pessoas juntando-se para fazer hortas comunitárias sem o
uso de agrotóxico. Também fez críticas ao governo dizendo que não adiantava
falar em imunidade de rebanho sem vacina. Deixou-me na frente da fábrica japonesa
onde eu ia realizar a apresentação sem cobrar pela carona de “Blablacar”.
- “É minha contribuição para seu chapéu virtual por levar alegria
para o povo que tanto precisa...”.
A Brincadeira na fábrica foi muito legal. À máscara de
amarrar que eu arranjei funcionou perfeitamente com o sorriso desenhado com uma
caneta especial para tecidos por cima dos meus lábios. O público riu como se eu
estivesse “de cara limpa”.
Na volta, outra carona do mesmo aplicativo com outra pessoa negra; Fernanda, que por coincidência também trabalha num hospital, só que na área de informática. Conversa vai, conversa vem e ela e ela acaba confessando que ao ver tanta dor e sofrimento no seu serviço, a pandemia a fez refletir chegando a conclusão que o nosso maior capital é a saúde. Contou-me histórias da sua avó, Falou em memória, em ancestralidade, em “sentido da vida”.
Chegando a São José dos
Campos, deixou-me no ponto do ônibus. Puxei minha carteira para acertar o preço
combinado e ela pediu para guarda-la alegando que a carona já estava paga...
Que lindo texto... Você é uma pessoa muito especial... enfim, um ser humano como devemos ser. Abraço
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