Dos animais de estimação que as pessoas criam os mais comuns
são os cachorros e os gatos. Os comércios que atendem um público com certo
status social ou poder aquisitivo maior acabam tendo que se adaptar a essa
realidade, permitindo a permanência dos animaizinhos integrantes da família
dentro dos estabelecimentos. Estes, pelo geral, presos a coleiras ou, se forem menores, até dentro de
carrinhos tipo de bebê.
Trabalhando na frente de restaurante na passagem de pessoas
em Campos do Jordão costumo ver cenas das mais inusitadas como as de cachorro
vira-latas querendo brigar com cachorro de raça de família abastada.
Do que tenho presenciado nada supera a experiência que tive
um dia desses, na temporada de inverno, enquanto estava me apresentando. De repente vejo uma criança linda, loira, de
olhos azuis, de uns seis ou sete anos de idade, presa a uma cólera, passeando
com seu avô. Fiquei tão chocado que parei tudo e fui atrás deles. A menina
parecia saudável, mas o seu olhar ficava um pouco perdido e ela não se
comunicava com o meio que a rodeava. Falei com o vô, um senhor elegante, que me
disse que ela tem uma doença rara que os médicos não conseguem detectar nem no
Brasil nem nos Estados Unidos, que eles gastam na faixa de uns trinta mil reais
por mês em convênio médico e que ela frequenta uma escola de crianças normais
de forma de ser incluída na sociedade. Perguntei se eu podia tentar me
comunicar com ela e, sendo autorizado, enchi uma bexiga dessas de criar figuras
e a coloquei na frente da menina. Ela simplesmente a afastou com uma mão. O
senhor me disse “não adianta, ela fica no seu mundo e ainda não fala”. “Já
tentamos de tudo e chegamos à conclusão de que o problema dela é espiritual”. Espiritual?
Perguntei. “Sim, a gente acha que é carma”. Dito isso como conclusão parece que ele nada mais iria escutar do que eu dissesse . Mesmo assim argumentei: Bom,
menos mal que vocês têm dinheiro para poder dar uma estrutura mínima e a procura
de uma solução para o problema dela. Também comentei que em São José dos
Campos, cidade onde eu moro, existe um serviço público municipal gratuito chamado
“Integra” que atende pessoas com todo tipo de deficiência e que lá há uma
estrutura parecida como a que ele me disse que oferece o convênio para sua
neta, com psicólogo, terapeuta ocupacional, etc. e que ainda oferece oficinas
de arte.
Despedindo-me deles dois, várias coisas passaram pela minha
cabeça. A primeira é que dinheiro não compra tudo. A segunda foi: "Olha só, gente rica acredita em carma". A terceira, o questionamento
de porque eles têm tanto medo de perder o controle não deixando a menina solta...
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