quarta-feira, 26 de abril de 2017

Na Esquina com o "Compadrito"...

Desajustado e com alguns poucos momentos férteis. Assim tenho me sentido em Campos de Jordão nos firiados, em meio a gente bem arrumada e perfumada. Crianças apreensivas com tudo, mimadas e protegidas, apesar de algumas maravilhosas, como sempre...

Fazer o que? Sabia que esse ano de 2017 ia ser assim, difícil como está sendo. Vejo vários amigos meus que trabalham com arte em São José dos Campos parados ou com pouco serviço.

Eu voltei a encarar fortemente as intervenções nas ruas de Campos do Jordão. A verdade é que lá existe uma galera que me conhece e de alguma forma apóia o meu trabalho. Os comerciantes também passaram por sérias dificuldades nos últimos meses e eu acabei me associando a alguns deles em troca de um dinheiro mínimo. Do carnaval até agora foram três parcerias com restaurantes diferentes.

A temporada traz a volta da “muvuca” e para mim a coisa complica. Apesar dos feriados, com a aglomeração de turistas aumenta o número de pessoas procurando ganhar dinheiro nas ruas, nem sempre fazendo as coisas de coração como o artista faz. Estão os vendedores de loteria ás dezenas, o cara que se veste hoje do palhaço Patatí e amanhâ do Patatá para arrancar dinheiro das crianças, vendendo formas em bexigas a 10 reais cada uma, o vendedor de flores de papel, dois moços com crachá no peito onde está escrito “cinema” que oferecem para participar de um filme que nunca acontecerá sobre o tema “o amor” pedindo “colaborações” para a produção do mesmo, vendedores de óculos de grau sem receita médica, divulgadores de restaurantes tentando arrastar fregueses, etc. Um ambiente bem concorrido em que impera a lei do mais esperto onde realmente eu não me encaixo nem a paus.

É verdade que na rua também existem umas poucas atrações de arte como a minha. Há uns meninos que tocam violino acompanhado se com bases de playback variado, um caricaturista amigo que faz e vende seus desenhos na hora, uma companhia de dança da cidade que se apresenta e pede colaborações para uma futura viagem ao exterior e um mágico que se apresenta nas mesas dos bares.

Minha aposta agora está numa estrutura em que possa apresentar um número sem precisar ficar na passagem de pessoas. Vou recorrer ao velho “Compadrito” para o qual estou dando um trato na boneca de dançar tangos “Maria Rosa”. Vamos ver o que acontece. No final de ano, onde Campos do Jordão é freqüentado por um público mais calmo, que foge da “muvuca” da praia, funcionou bem. Mesmo que eu tenha certo preconceito com o personagem por ser meio canastrão e trazer resquícios de machismo, notei que o tango chama a atenção do público, talvez por seu movimento reto, antagônico ao movimento natural do gingado do povo brasileiro. Com o tango posso criar um clima romântico e associa-lo a cultura popular brasileira, ao maxixe e ao chorinho, que nasceram mais o menos na mesma época do primeiro. Posso falar de amor sem necessariamente ser machista. Por enquanto, agradeço aos músicos dos restaurantes de Campos que executam a trilha sonora da minha brincadeira e sempre me deixam dar uma palhinha com minha flauta transversal...


Foto de Reinaldo Costa



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