quarta-feira, 21 de junho de 2017

Neblina em Campos do Jordão

“Perdido como turco na neblina”. Quando digo esse ditado para as pessoas elas não entendem muito bem de que se trata, mas, o certo é que no inverno de Campos do Jordão, a noite, é só assoprar que tudo fica envolto em neblina.

Um senhor bem idoso me dizia no outro dia que é incrível notar como gente é diferente, cada um, um cada qual. Sinceramente eu não acho, vejo tudo meio igual, com uma plaquinha de preço, para vender ou comprar.

A multidão tomou conta da cidade e eu fiquei meio deslocado. Por sorte, no último feriado de Corpus Christi, consegui um pequeno apoio da lanchonete “Black and Withe” que fica afastada a uns metros da “muvuca”. Lá eu consigo brincar de burrinha no trânsito como antigamente e ainda fico tocando junto aos músicos que fazem a trilha sonora ao vivo. Elayne e Mateus têm salvado a minha pátria e o meu ânimo com uma dúzia ou mais de xotes e baiões que eu acompanho no pandeiro. Música nordestina de qualidade.

Foi à própria Elayne quem arranjou o meu primeiro bico de músico no dia dos namorados num restaurante localizado no corredor do “Shopping Genêve”, do lado do badalado Baden Baden. Lá eu estava, com minha caixinha de som presa a cintura, a malinha, a estante e a pasta de partituras, caracterizado de mímico-palhaço a me apresentar para os comensais, no horário de almoço de domingo. Para minha surpresa, a gerente do restaurante perguntou se já estava pronto e, sem mais, desligou o som ambiente. No silêncio, comecei tocar flauta, sem microfone, acompanhando as bases de play back executadas na minha caixinha.. Senti na pele como é a relação do público com os músicos. Parece que não importava que eu estivesse caracterizado. Eles só olhavam de relance.
Tomei uma atitude para quebrar o gelo e, depois de pedir para ligarem o som ambiente, aproveitei a ocasião do dia dos namorados para encher uns balões “estica” que estavam dentro da mala e entregar corações de bexiga ao "público". Depois, liguei minha caixinha e toquei o “carinhoso” na flauta, além de outros chorinhos, passeando em volta das mesas. No final brinquei como mímico, imitando as pessoas que passavam pelo corredor do shopping, usando o jazz de sempre, saindo da caixinha. Quando acabei, aproveitei o embalo de alguns e, evocando “a moral do povo brasileiro” me fiz bater palmas, dizendo que é disso mesmo que a gente precisa, de aplauso, de união, de auto estima”. Saí do local com o palhaço a flor da pele, super feliz depois do dever cumprido.

Vivemos num momento onde é super importante sermos nós mesmos. Eu vou de palhacinho, defensor da cultura popular e da auto-estima, as vezes perdido e noutras achado, carregando as armas que possuo, a Mímica, a Música, a “Burrinha” e a Palavra em português-brasileiro com sotaque argentino.

Indo à luta...



quinta-feira, 1 de junho de 2017

Apresentação no Festival Cultural da Moçota, na cidade de Caçapava

Depois de um extenuante Sábado em Campos do Jordão, onde me vi mais uma vez encurralado pela multidão, tive o respiro de um trabalho mais tranqüilo, na cidade de Caçapava, no Domingo, dia 28 de Maio, no “Parque ecológico da Moçota”, fazendo parte da programação do primeiro festival cultural realizado por lá.

A "aventura” da viagem começou logo de manhã, eu, com meu corpo em farrapos pelo cansaço do Sábado, pegando a "burrinha" que estava no bar do Seu Antônio, em frente à rodoviária de Campos e continuou com a chegada na rodoviária de Taubaté, onde me aguardava o Marcos, funcionário da Prefeitura de Caçapava, com um carro oficial modelo "Siena" onde colocamos todos os meus pertences, inclusive a bicicleta. Para conseguir a façanha amarramos á tampa do bagageiro com um dos meus extensores, deixando a roda da frente da bike para fora com um paninho fazendo de bandeirinha pendurado ao guidão, em sinal de alerta, para os carros que vinham atrás da gente.

Já no parque, antiga fazenda, fui muito bem recebido, na casa que fica logo na entrada, onde, da varanda, dava para avistar o movimento da festa, com crianças brincando num parquinho, som de viola rolando e pessoas indo e vindo. Senti-me em casa, como quando participo dos eventos realizados no Parque da Cidade, em São José dos Campos. Depois do primeiro contato na casa, chegou Paola, minha amiga e organizadora do evento, pedindo-me para fazer minha primeira aparição no meio do povo.Lá estava eu, maquiado, tendo o primeiro contato com a turma...

Cheguei chegando, mas com sumo cuidado, detrás de mim mesmo, brincando e observando. Pessoas simples abertas ao diálogo. “Brincadeira de criança”.
“Feira Gastronômica e Cultural” distribuída pelo parque, onde artistas e artesãos locais expunham suas obras e produtos e onde eram vendidos alimentos para os visitantes. Fiquei sabendo ente outras coisas que o doce típico de Caçapava é a Taiada e, inclusive, que este é o apelido das pessoas que nascem na cidade.

O que mais me chamou a atenção é o espaço com extenso gramado verde onde estava montado um palco baixo ao meio, pessoas bem á vontade deitadas na grama e crianças brincando para lá e para cá, num clima alegre e leve. Nesse marco vesti a minha “burrinha” e acabei conhecendo “Alice”, uma menina negra de uns oito anos de idade, vestida com um pequeno boizinho de papelão. Ao som do saxofonista que se apresentava no palco ensinei a Alice o movimento do jogo realizado entre “Boi” e “Burrinha”, que apreendi no folguedo de bumba meu boi. Depois fiquei sabendo pela boca da mãe que Alice sempre fala em ser artista. A menina não me largava em momento algum, ela junto a um grupo de crianças se grudaram em mim como abelhas ao mel.

Entre as coisas que mais gostei do festival estão a roda de conversa com historiadores da cidade e a apresentação do violonista de São José dos Campos Diogo Oliveira, com seu show em homenagem a Tom Jobim. Muito diferente, ver uma pequena figura no centro de um grande palco, tocando o seu violão e cantando suavemente em meio ao barulho natural da mata, misturado com o barulho natural de gente. Vitamina de Moçota para fortalecer corações brasileiros...



Verde que te quero verde...



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