“-Moça, uma moeda, por favor...”, ouvi o jovem violinista
dizer à mulher que passava pela rua. Isso, numa esquina do bairro do Gonzaga,
na cidade de Santos, onde morei no comecinho da década dos anos ’90. Naquela
época vivia de rodar o chapéu, apresentando-me de noite, na frente dos bares
perto da orla. É impressionante ver como a cidade cresceu em tão pouco tempo e
perdeu parte do seu encanto. Senti-me pequenininho ante a opulência urbana, o trânsito de carros e pessoas. Tudo muito. Compra e venda. No
movimento intenso da calçada vi vários moradores de rua em frente às lojas,
artesãos oferecendo seus produtos e vendedores de qualquer coisa junto a alguns
artistas de rua. Vi um garoto pintado de prateado com o cabelo estilo punk no
intervalo da sua representação, degustando seu lanche sentado, bebendo
refrigerante em lata, vi um trompetista do lado do seu instrumento que estava
apoiado diretamente no chão, contando moedas de centavos de real. Uma criança
me olhou de forma simpática ao ver o desenho do Mímico Andarilho estampado na
minha camiseta. Acho que pensou que eu também ia me apresentar por ali. Que
nada, fiquei apavorado. O curioso é que eu estava vindo da cidade de
Piracicaba, de apresentar meu espetáculo que tem como personagem central um artista
de rua que faz “Peripécias” para conseguir dinheiro para sua sobrevivência.
Odiei o menino do violino que me pediu ao passar uma moeda
para pagar a sua faculdade, a mim, que sempre consegui pagar minhas contas com
esforço, tendo que fazer rir muito as pessoas nas ruas, mas jamais pedindo
esmola...
E foi minha capacidade de “brincante” de rua a que rendeu como fruto o projeto que o pessoal do SESC da unidade de Piracicaba chamou de
“Maravilhoso mundo da mímica”, quando apresentei um improviso nas comemorações
do aniversário daquela cidade. Na ocasião, o programador do SESC me pediu o
contato de mímicos, já que tinha a intenção de realizar uma mostra dessa
linguagem no verão, no formato dos festivais de mágica que tinham acontecido por lá nos dois anos anteriores. Depois de consultar um amigo envolvido no meio dos
mímicos, acabei chamando seis grupos e elaborando uma grade que depois fora
adaptada de acordo com a necessidade do SESC. Dos seis grupos que indiquei,
foram contratados quatro, comigo cinco. São intervenções e espetáculos
interativos no espaço da convivência, alem de apresentações de espetáculos no
auditório da unidade, durante os meses de Janeiro e Fevereiro, aos Domingos e
Quartas feiras, dentro do Projeto SESC-Verão.
Foto de Ricardo de Paula |
Fico feliz de ter contribuindo para esse encontro de
pessoas ligadas a arte da mímica.
Fazem parte da programação do "Maravilhoso mundo da mímica" o mímico Jiddu Saldanha, de Cabo Frio, RJ, além da Cia Solar da Mímica, de Alberto Gauss, a Cia Mimos, o Mímico Newton Yamassaki e eu do estado de São Paulo.
Fazem parte da programação do "Maravilhoso mundo da mímica" o mímico Jiddu Saldanha, de Cabo Frio, RJ, além da Cia Solar da Mímica, de Alberto Gauss, a Cia Mimos, o Mímico Newton Yamassaki e eu do estado de São Paulo.
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