terça-feira, 17 de novembro de 2015

Arte de Resistência

O teatro de intervenção, a palhaçada espontânea, a música tocada informalmente nas ruas, o grafite, etc.

As pessoas precisam disso. Expressão e comunicação de uma forma solta, sem hora nem local marcados...

Na era da tecnologia, onde o uso constante do celular faz com que o relacionamento com o mundo se torne “virtual”.

Onde o dinheiro virou cartão de débito ou crédito

Onde só se fala em violência e em crise econômica.

Num país onde predomina o preconceito, inclusive com os artistas de rua...

Para nós tornou-se mais difícil ganhar dinheiro, mas sempre rola alguma coisa no chapéu, então, é só fazer mais vezes...


Rodolfo, saxofonista que passou pela cidade de São José dos Campos e encantou todo mundo  no calçadão do centro

Acredito que o trabalho da gente faz sentido. No meu caso, em que tudo se desenvolve no diálogo direto com o público, a minha postura é muito importante, porque acabo sendo exemplo, um “interlocutor”.

Curioso é o que me falou uma amiga sobre como os argentinos são diretos e incisivos. Fez-me lembrar das vezes em que alguém do público me interroga para afirmar para si mesmo que eu não sou brasileiro. Apesar de morar no Brasil há tanto tempo parece que ainda guardo rasgos marcantes da minha terra natal. Com o passar do tempo tenho tentado ser cada vez mais conciliador, procurando com que as pessoas entendam que se trata só de um jogo no qual minha intenção e levar paz e alegria por onde passo...


A utopia, às vezes, pode parecer simples bobeira, mas a gente precisa dela...

Apresentação do Dia das Crianças, no Parque da Cidade, em S.J.C, SP, pelo Departamento de Eventos da Prefeitura local





quinta-feira, 24 de setembro de 2015

"A Pátria educadora" somos nós...

Eu vejo os grupos montarem espetáculos de teatro de rua onde existe um cuidado especial com a história, a linguagem, o figurino, o cenário, o trabalho corporal, etc. No final  rodam o chapéu como o manda a tradição, mas dificilmente eles sobrevivem do arrecadado espontaneamente do público. Em geral se sustentam vendendo suas apresentações, ou graças a leis de incentivo ou a editais públicos ou privados ou então os integrantes tem outra fonte de renda além do teatro.

Em São José dos Campos, cidade onde eu moro, notei como é difícil ganhar dinheiro na base de rodar o chapéu, com o formato de apresentação de uma história, quando esteve por aqui meu amigo argentino chamado Ariel Barreto, que é mímico como eu, apresentando seu espetáculo nos parques. As pessoas gostam, mas na hora do vamos ver, são poucos os que colaboram.  É falta de costume do público e também falta de se criar o hábito por parte dos artistas.

Pelo geral eu consigo o dinheiro de forma espontânea nas ruas porque vou simplesmente “brincar”, sem a necessidade de ter que contar uma história, mas para isso as pessoas precisam rir muito. 

Apesar de tudo eu acredito que sempre se pode sobreviver de teatro de rua na sua essência, ou seja, com a colaboração espontânea do público. Eu já vi muita gente ganhando dinheiro apresentando-se na rua com um trabalho decente. É claro que tal vez as tramas sejam mais curtas e a linguagem mais popular, o que não quer dizer de baixo nível.

Tenho conseguido contar uma história quando apresento meu espetáculo chamado “Na Rua”, mas isso tem acontecido de um jeito formal, em locais onde as pessoas param para assistir. O legal é que essa minha experiência da rua me permite sair da história e improvisar com público a qualquer hora do espetáculo, inclusive me adaptar ao lugar da apresentação.


Apresentação do "Na Rua" para os funcionários da loja da "Geneve" em Campos do Jordão, SP

Respeito imensamente o teatro e acredito que ele tem o poder de mudar as pessoas. Com o meu personagem “Mendigo” estou conseguindo tocar na flauta a primeira parte do Hino Nacional Brasileiro de cabo a rabo, fazendo as pessoas cantarem junto, para no final, depois das palmas espontâneas, pedir-lhes colaborações para matar minha fome. Feito isto, pego uma bandeirinha do Brasil e a penduro na velha mala que eu carrego.

Estou convencido de que a tal “Pátria educadora” somos nós, os adultos, e que fazer teatro é uma forma de educar também.

Acredito que todas as linguagens são válidas. A minha é a do improviso e da interação com o público, para a qual me preparo toda vez que não estou “no palco”...




segunda-feira, 27 de julho de 2015

Enaltecendo a criança...

Só ouço falar na crise que o país atravessa. Bom, eu já sobrevivi a várias crises no Brasil. Na época do plano Collor, quando todo mundo estava desesperado porque tinham pegado seu dinheiro da poupança, eu fazia rir o povo nas ruas de Porto Alegre RS. Na época de FHC, quando o desemprego atingiu o 20% das pessoas, eu “brincava” nos bares de São José dos Campos, SP. Lembro-me de uma vez em que uma senhora se referiu a mim para comentar que de alguma forma a gente tinha que se virar para sobreviver (rs).

Aparentemente eu recebi o dom de conseguir improvisar com o que a rua me oferece, apesar de depender muitas vezes do meu estado de ânimo e do das pessoas.

Em Campos do Jordão, onde me apresento há mais de vinte anos, estou recebendo um pequeno apoio desde Março o que faz menos ardida a situação de ter que depender pura e exclusivamente da colaboração espontânea do público. 

Tenho tentado passar paz para as pessoas, fazendo-as entender que apesar de imitá-las, trata-se de um jogo onde tento enaltecer o lado humano, a criança que todos temos dentro.

Meu trabalho está servindo, de certa forma, como marketing do logo que me apoia. Na hora de almoço fico no meio da “Muvuca” vestindo a camiseta do Shopping “Boulevar Geneve” e no final do dia vou para a loja do dono do Shopping, vestindo a camiseta com o nome da mesma.

Curioso é ver como meu personagem “Mímico Andarilho”  se encaixou com o local que parece um castelo e onde no quintal da frente estão estacionadas várias bicicletas coloridas. Lá as pessoas tomam chá, almoçam e compram roupas. O público em geral é de pessoas de classe social elevada. Lá eu brinco no meio das mesas e, muitas vezes, passeio com minha burrinha. O clima é muito agradável, tranqüilo, ao contrário do que acontece no meio da multidão. Lá conheci Lara, uma menininha de seis aninhos, cheia de luz, que me recebeu dizendo que queria ser palhaça e que ia me ajudar na brincadeira. Lá fui parabenizado pelo designer gráfico Hans Donner, que se encontrava junto à menina sem eu ter percebido.

Crianças, elas são as merecedoras de tudo, inclusive a menina que me seguiu dentro do shopping, dizendo que ela imaginava que se abria o chão para eu guardar minha “burrinha” que nem o personagem “Batmam”...



"Burrinha Sans Souci"



segunda-feira, 8 de junho de 2015

A permeável arte de rua...

Acabei de receber um contato da TV Record para uma possível participação minha num quadro com artistas de rua que competem para ganhar um prêmio de mil e quinhentos reais. Assisti a vários programas no Youtube para saber de que se trata e juro que me decepcionei o bastante. A TV é um forte meio que acaba influenciando de certa forma o comportamento das pessoas. Precisa se ter muito cuidado de como lhe dar com a TV, porque assim como ela tem o poder de enaltecer, também tem o poder de vulgarizar. A gente acaba correndo o risco de cair na mentalidade paternalista da sociedade

A arte de rua é por sim própria, independente de qualquer meio de comunicação, e é isso o que a torna “Livre”. No meu caso, como imagino que o seja para outros, é uma opção é não uma falta de oportunidade. Acredito na minha arte porque confronta de alguma forma o comportamento social, portanto, questiona. O fato de ter que me esforçar para quebrar o ritmo natural das coisas para conseguir o resultado esperado na rua acaba dando o sentido real ao trabalho. Ou seja, surpreender, tornar o momento mágico... Os ganhos são uma conseqüência natural desse processo.

Fiquei muito feliz com minha participação na Virada Cultural Paulista Regional 2015, dentro do SESC de São José dos Campos, especialmente porque eles me colocaram para “brincar” de forma solta, que nem na rua, o que fez que tudo fluísse de forma espontânea.

Lá estava eu no banner da programação do SESC com a foto do meu amigo Fernando Carvalho. Senti-me realmente valorizado. Das ruas para o SESC, ou para a programação de qualquer ente institucional e de volta para as ruas. Isso é o que eu quero.


Foto de Sérgio Seabra

A propósito, com minha amiga Vivian Rau e o nosso “Mamulengo Andarilho”, realizaremos duas apresentações do espetáculo “O Príncipe Feliz” na casa de Cultura Flávio Craveiro da FCCR na nossa cidade, São José dos Campos, nas próximas duas sextas feiras, 12 e 19 de Junho, para o público adulto que estuda em colégios supletivos do bairro. Vai ser numa sala de espetáculos que tem lá, na qual eu sempre tive vontade de me apresentar. Vamos aproveitar a oportunidade para filmar a história para anexar ao material dos editais do FESTIVALE e do Litoral Em Cena...


Foto de Edimara Soares Gonçalves


https://www.facebook.com/media/set/?set=a.1626828147559906.1073741831.1569688376607217&type=3

Vamos em direção a luz que nem andorinhas...

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Chegar perto...

Consegui um pequeno apoio em Campos do Jordão no aniversário de trinta anos do Shopping Boulevard Geneve, o que me permite trabalhar mais tranqüilo, sem ter que depender tanto do chapéu...

Conto também a ajuda dos meus amigos do restaurante “Cacerola”, que me acolhem na cidade já faz algum tempo.

Chegar perto, tentar entender o outro, dialogar. Na rua, um terreno árido onde aparentemente se dá melhor quem é mais experto. A rua não é diferente dos outros meios, com certeza, digamos que é o mais evidente...

Estando “Na rua”, ficando com meu clown “exposto”, a minha tarefa consiste em “Brincar”. Pode parecer simples, mas requer de uma grande disposição e energia, especialmente quando se está no meio da multidão. Como em todo diálogo, a interação flui melhor quando há uma certa distancia que facilite a ação e a resposta da plateia. As crianças continuam sendo as mais espontâneas. O mais legal é o papo com as pessoas no meio das brincadeiras, como por exemplo, o que tive com um senhor em que, ao eu imitar sua barriga na rua, ele me perguntou se eu também tinha hérnia. Eu respondi que eu não via a sua hérnia e sim sua barriga (rs).

Horas mais tarde, continuando nossa conversa, fiquei sabendo que o senhor de quase setenta anos era médico cirurgião e que sua maior preocupação era ter que operar da tal hérnia, já que conhecia perfeitamente o risco de uma possível cirurgia...


Foto de Tadeu Sales (Feriadão do 21 de Abril em Campos do Jordão)

terça-feira, 7 de abril de 2015

Apresentação no Centro da Juventude, em homenagem ao Circo

Imaginem um palhaço, que vive da interação, ter que apresentar num Domingo de manhã seu espetáculo com enredo crítico para um público de crianças pequenas sentadas em puffs, acompanhadas dos seus pais que acabaram de acordar...

O lugar da apresentação é realmente muito bonito e a reação das pessoas bem escassa.
Ainda a atividade, que foi realizada no Centro da Juventude, em São José dos Campos, foi anunciada como “Show de mímica”, quando em realidade tratava-se do meu espetáculo chamado “Na Rua”, onde o personagem, a pesar de ser mímico, tem vestes de mendigo.

"Pic nic da leitura"

Em fim, os dias nem sempre são tão brilhantes para a gente. Por sorte eu sou artista de rua, portanto, minha especialidade é sair do protocolo, é foi assim que aconteceu mais uma vez.

Então, mudei o esquema e o ritmo estabelecido. Catei minha “burrinha” e fui para o meio da galera, fiz o pessoal levantar e pular corda imaginária. Em fim, dei um giro de noventa graus e terminei a história para cima, que é disso que se trata. Especialmente quando era eu quem estava fechando a programação do mês em homenagem ao circo...

O raia o sol, suspende a lua. Olha o palhaço no meio da rua...

O show não pode parar...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Espetáculo “Na Rua”, sempre atual...


 Em finais de 2006 nascia o espetáculo “Na Rua”, impulsionado pelo meu humilde desejo de querer passar uma mensagem sobre a importância de se preservar o Meio Ambiente em que vivemos. Optei por incorporar-me ao universo das pessoas que vivem nas ruas, as quais eu observava passar, quando morava numa antiga casa, no Bairro Jardim Bela Vista, na região central de São José dos Campos, SP, já que elas ficam expostas a tudo (aos fatores climáticos, á fome, á violência, etc.).
Nascia meu personagem mendigo, fazendo uma paródia sobre minha profissão de “Artista de Rua”, com a qual, acabo dependendo, em partes, da vontade alheia para conseguir o meu sustento.
Apesar de eu ser mímico, o figurino, rasgado e colorido, propõe um personagem palhaço-mendigo. Um Clown dramático, ingênuo e romântico, porém interativo e engraçado.



“Na Rua” já foi apresentado em dezenas de lugares. Projetos de Secretarias do Estado da Cultura e Secretarias Municipais, em duas edições do FESTIVALE, em São José dos Campos, pelo SESC, em Escolas de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, na Virada Cultural Paulista, etc.
Atualmente ele utiliza como cenário um simples poste com cruzamento de duas ruas (á da “Tristeza” e á da “Alegria”), onde o personagem se situa para interagir com a plateia, e uma grande mala antiga, onde carrega os adereços que compõem o “Seu mundo” (Uma sombrinha velha, uma estante com partituras, um quando de Chaplin e seu personagem “Carlitos”, um banquinho minúsculo, uma flauta transversal, um globo terrestre inflável, etc.).
Apesar do seu nome, “Na Rua” é um espetáculo intimista e funciona melhor em pequenas salas de espetáculos ou auditórios que facilitem a proximidade com o público, já que não possui palavras, só gestos e alguns efeitos sonoros incorporados a cena.