segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Mímico Andarilho


“Ah, viver é tão desconfortável. Tudo aperta, o corpo exige, o espírito não para, viver parece ter sono e não poder dormir – viver e incômodo.
Não se pode andar nu nem de corpo nem de espírito...”
(Água Viva – Clarice Lispector)

Escolhi subir a serra para realizar meu trabalho de interação direta com público no último final de semana do ano.

Apesar de não estar dando lucros faz tempo, a brincadeira livre nas ruas de Campos do Jordão continua oferecendo momentos únicos de magia para algumas pessoas, pelo geral para as crianças e para mim. Lembro-me de umas cenas que aconteceram quando, chegando de bicicleta na Praça do Capivari, me detive para conversar com crianças pequenas. Vendo passar um mini carro conversível desses de brinquedo de aluguel com um senhor empurrando três crianças me agacho e vejo que dentre elas duas são meninos japonesinhos. Falo para um deles: - “Abre o olho”. Ao que o outro japonesinho responde: - “É que tanto chineses como japoneses tem os olhos puxados”. Eu retruco dizendo: "Eu sou japonês e não tenho olhos puxados".

Depois, outro menino pequeno vem falar comigo com uma voz super aguda e eu fico imitando-o dizendo: "Fala com voz normal!”. Ele continua falando e eu, buzinando, comparo o som agudo da sua voz com o barulho da buzina da minha bicicleta...

Já na frente do badalado restaurante Baden Baden, uma outra criança sentada a mesa junto com sua numerosa família fica fazendo caretas para mim em tom de desafio, e eu, aceitando suas provocações, respondo a altura com palhaçadas. Ela abre gargalhadas enormes enquanto da cotovelada na turma em volta dizendo: “Olha o que ele faz...”.

O melhor foi quando em determinado momento, no meio da muvuca, me comuniquei com um menino das mesas com o olhar enquanto brincava de fazer de conta que meu movimento estava sendo conduzido ora pelo meu nariz de palhaço, ora pela minha mão enluvada. Truques de mímico-palhaço...


Espetáculo de viagem


“Na Rua, As Peripécias do Mímico Andarilho”.


O objetivo principal de 2020 que é o de ter uma estrutura para diferentes tipo de espaço parece estar bem encaminhado. O ano está acabando e tenho conseguido apresentar o espetáculo de um jeito formal no último dia 03 de dezembro como fechamento das oficinas de circo pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, em São José dos Campos e apresentarei no próximo dia 05 de Janeiro, como atividade de férias, no Museu Felícia Leirner, em Campos do Jordão.

A ideia é viajar para diferentes regiões do Brasil, a começar pelo estado de Minas Gerais, visitando cidades menores, apresentando o espetáculo tanto de um jeito formal em espaços fechados como indo “brincar” espontaneamente com o personagem nas ruas. Assim foi no começo do trabalho, lá para década dos anos ’80, quando viajava com uma estrutura simples que era apresentada tanto em praças como dentro das escolas ou teatros.  Estou com um repertório de música popular com bases de play back de qualidade que são tocados na minha caixinha de som amplificada que vai presa à cintura. Tenho treinado tocar flauta em espaço aberto sem o uso do microfone.

Mímico Andarilho na Região Noroeste do estado de São Paulo pelo SESC



terça-feira, 26 de novembro de 2019

De volta à Vila Maria...


Sexto bairro a ser atendido pelo projeto “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz na Praça do bairro”, nessa semana estivemos na Vila Maria e nos concentramos na Praça Nenê Cursino, local da apresentação de nosso espetáculo. Lá fica a UBS, na qual fui atendido tantas vezes quando fui morador do bairro, e o Centro Esportivo, assim como ainda sobrevive a banca de jornal do Silvio e ele próprio, uns onze anos mais velho. Da última vez que nos encontramos ele me ajudou a divulgar meu espetáculo pelo projeto "Show na Praça" em 2008. Silvio tem alguns problemas de saúde como deficiência auditiva. Aos gritos expus nosso projeto, e ele, por sua vez, como ha onze anos atrás, se prontificou para apoiar a ideia dizendo - “Isso ai tem que acontecer todos os dias. Pena que aqui só dá bebum”. Também me contou que entre as modificações que houve na praça, que hoje conta inclusive até com “academia ao ar livre”, se arrepende de ter solicitado para a prefeitura a instalação de um quiosque e banquinhos de cimento, já que isso provocou o ajuntamento de pessoas em vulnerabilidade social...

Estamos em fase final do projeto, restando apenas duas apresentações oficiais, contando com essa da Vila Maria, e duas de “contra partida”, que faremos de graça, uma no centro, de noite, no período natalino, em local em que se concentram vários moradores de rua da cidade e a outra no litigioso bairro do banhado, para a população que resiste em sair de lá.

Comunicar com sutileza. Distanciar-me das pessoas para criar diálogo, em tempo de preconceito e intolerância. Tratar os outros do mesmo jeito carinhoso que gosto de ser tratado. Isso é o que tenho experimentado...


A "Burrinha" que tantas vezes alegrou a população do bairro
Para a realização do projeto já quase no final do ano estamos tendo que enfrentar as dificuldades do clima com o sol forte e a possibilidade de chuva devido à época. No caso da praça Nenê Cursino especificamente também existe a adequação da apresentação aos espaços reduzidos, à acomodação do público na hora da apresentação, o preconceito por parte dos moradores do bairro devido aos frequentadores da praça, etc.

Foram vários dias de divulgação nas ruas e no comercio, dentro da escola junto aos alunos, no centro esportivo e na UBS do bairro, em que conversei com as pessoas, colei cartazes, realizei intervenções teatrais, entreguei flayers, etc.

Tocando chorinhos dentro das sala de aula da escola

No dia da apresentação, marcada para começar às 10:30 horas, a nossa equipe chegou na praça antes das 09:00 da manhã. Terminamos de montar o cenário e André deixou o som ligado a partir das 09:30. Junto a Silvia entregamos flayers para os transeuntes e anunciamos no microfone a atividade a ser desenvolvida.
Começamos o espetáculo de forma expansiva na hora marcada, enquanto o público ia chegando ao local. As pessoas foram se acomodando nos bancos do quiosque e na grama em volta. Teve carrinho de pipoca e de picolé, de trabalhadores autônomos que foram convidados por Silvio, para colorir o evento.
Apesar da gente só ter conseguido reunir um pouco mais de trinta pessoas, a apresentação fluiu naturalmente com o público presente participando o tempo todo. No fim nos apresentamos, falamos sobre o projeto e da importância da arte no cotidiano do bairro. Agradecemos os apoiadores e, entre eles, especialmente ao Silvio, peça fundamental para o êxito da nossa empreitada.


Adequação aos espaço que a praça nos oferece

Apresentação "iluminada" de nosso espetáculo


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Teatro/Comunidade

Paralelo a faculdade UNIP, do outro lado da estrada, pela marginal da Dutra, por uma estreita rua chamada “Paraíso”, que fica escondida no canto de um motel, subindo toda vida, da para chegar no bairro Rio Comprido. Bairro este disputado pelos municípios de São José dos Campos e Jacareí, sem que nenhum dos dois queira se fazer cargo do mesmo.

Rio Comprido que é considerado bairro “irregular” por ser uma ocupação, foi um dos escolhidos para fazer parte de nosso projeto “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz na Praça do Bairro” (Teatro/Comunidade), do Fundo Municipal de Cultura da cidade de São José dos Campos, do qual sou proponente.

A atividade no bairro ocorreu em várias etapas. A primeira vez cheguei de bicicleta para realizar o trabalho de reconhecimento de campo. Apresentei-me para dois moradores que me deram as boas vindas apresentando me o bairro.Cheguei no grande terreno baldio que fica no meio das casas e é chamado de “campo de futebol” onde realizaremos nossa apresentação. Depois visitei a escola municipal e dei uma sondada de leve nas ruelas escondidas do entorno.

Na segunda vez conheci o “Geninho”, atual presidente da associação do bairro, que ainda não tem sede própria e o seu vice, “Seu Dantas”, que é dono de mercadinho. Eles ficaram de elaborar uma carta de interesse para ser apresentada às autoridades competentes, para a qual se comprometeram a mandar fazer carimbo e tudo para dar seriedade à coisa. Nessa ocasião fui apresentado ao Danilo, morador duma das casas encostadas no campinho, que veio ser peça fundamental para o sucesso de nosso evento.

Na terceira vez fui realizar uma intervenção teatral durante a semana, convidando as pessoas a assistirem nosso espetáculo no Sábado. Comecei pela escola, onde, acompanhado pela diretora, entrei nas salas de aula tocando chorinhos na minha flauta transversal, acompanhando as bases da minha caixinha de som amplificada de cintura. No mesmo dia, na parte da tarde, com o apoio de Danilo, sai de bicicleta fazendo palhaçadas pelas ruas do bairro, utilizando minha caixinha de som, tanto para executar uma alegre trilha de jazz de rua quanto para falar ao microfone com os moradores.

Na quarta vez, já no final de semana, chegamos para realizar o espetáculo com o grupo todo. André colocou sua camionetazinha de forma de poder operar o som de dentro dela por causa da possível chuva. Seu Pedro deixou o seu furgão, que é nosso transporte, no outro canto do terreno. Nos estabelecemos debaixo da uma árvore que fica na frente de uma das casas encostadas na horta comunitária. Tivemos que recolher pedras de “nosso palco” e os bancos, emprestados pela diretora da escola para nossa platéia se acomodar, foram equilibrados driblando os buracos do terreno. Apesar da nossa pequena estrutura de som e cenário, foi difícil fazer participar os moradores. Finalmente começamos nossa apresentação para uma pequena platéia Heterogenia, formada por crianças e adultos. Foi servido cachorro quente e refrigerante para as crianças, iniciativa da própria comunidade.

Quando a peça chegou ao fim, nosso público bateu palmas para sim mesmo, já que tudo mundo sentiu-se parte do evento.

Cabe ressaltar que a associação de bairro mandou fazer um logo e nos entregou a carta que solicitamos em papel timbrado.

Teatro Popular

terça-feira, 17 de setembro de 2019

"Milongas Sentimentais - Produções Artísticas”

Não nego que dá uma certa tristeza o fato de não achar espaço para realizar o meu vital trabalho de improviso nas ruas. A cidade vai se tornando mais hermética com o crescimento populacional e a falta de oportunidades. Muita gente desempregada correndo atrás do pão de cada dia, vendendo diferentes tipos de produtos e muitos pedintes. A genuína arte popular, aquela que sobrevive da colaboração espontânea do “povo”, fica ainda mais fragilizada em período de crise. Antigamente eu “brincava” na noite de São José dos Campos alegrando as pessoas que estavam sentadas em mesas de bares e restaurantes abertos para a calçada. Hoje em dia tudo ficou protegido por vidraças. A vida detrás do vidro e da tela do celular...

Nos parques públicos de São José as atividades artísticas realizadas fazem parte de uma programação oficial. 
Em Campos Jordão, cidade na qual me apresento de forma espontânea desde 1994, o centro turístico virou uma quermesse comercial com a construção do calçadão, dificultando a interação com as pessoas.

Portanto me assumo “Micro Empreendedor Individual na área de Produções Artísticas”, tendo como nome fantasia o da nossa companhia “Milongas Sentimentais – Teatro Popular”, partindo, como o resto dos grupos de teatro, para à concorrência em editais, apresentando-me formalmente para instituições públicas e privadas. O bom é que tenho realizado parcerias bem bacanas com o violonista Diogo Oliveira, com o Bonequeiro Charles Kray e com Silvia Nery, minha antiga companheira de trabalho.

Atualmente estou na ativa com quatro espetáculos, três da minha autoria, nos quais sou um pouco de tudo – ator, cenógrafo, produtor, etc. - e outro no qual sou ator coadjuvante e sonoplasta. Todos eles trazem uma mensagem positiva, o “Milongas Sentimentais” tenta aproximar a história e a cultura dos países de Latino América, o “As Peripécias do Mímico Andarilho” valoriza a importância de se preservar o meio ambiente e o contato “humano”. “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz” valoriza a labor do artista e o desapego material, enquanto que “Histórias para Pias ou Crianças de Porte Pequeno” traz um pouco do universo da cultura indígena brasileira.

O meu personagem “Mímico Andarilho” tem servido como “intercomunicador” na divulgação de nosso projeto desenvolvido graças ao apoio do Fundo Municipal de Cultura da cidade de São José dos Campos, chamado “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz na Praça do Bairro” do qual sou proponente.

"Dois Brincantes e o Príncipe Feliz" - Apresentação no Parque Ribeirão Vermelho S.J.C. SP 

Formato Semi-Arena proposto pelo tipo de encenação

Página da Companhia no Facebook: https://www.facebook.com/Milongas-Sentimentais-Teatro-Popular-173882529422531/

domingo, 1 de setembro de 2019

"Teatro Popular", tema do Festivale 2019

Esse ano o "Festivale", Festival Nacional de Teatro de São José dos Campos, do qual participo de alguma forma há uns quinze anos, homenageia o Teatro Popular. O que será popular? Para mim sempre foi o fato de ir para rua estabelecer um contato direto com o povo, prevalecendo o improviso, o inusitado.

Nos encontramos num momento de desvalorização das artes em geral, de questionamento do que se pode ou não falar, de enxugamento de gastos.

Os editais públicos são uma saída para sobrevivência, por isso é que eles são concorridos por um número cada vez maior de grupos e acabam prevalecendo aqueles que apresentam trabalhos de melhor qualidade ou os que nas suas abordagens não comprometem as instituições.

A situação para mim tem ficado bem restrita, já que tenho tido dificuldades para conseguir meu sustento no chapéu, de forma espontânea, como estou acostumado. Por isso, entre outras coisas, acabei tirando da gaveta o “Milongas Sentimentais”,  que não apresentava a mais doze anos. O “Milongas” faz um paralelo entre a história e a cultura Brasileira e Argentina no contexto dos países de Latino-América. Para a nova versão atualizada do espetáculo chamei o violonista Diogo Oliveira que executa a música ao vivo.

Tanto o “Milongas Sentimentais” como “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz” fazem parte da programação do festivale 2019. O primeiro como espetáculo convidado e o segundo patrocinado pelo Fundo Municipal de Cultura da cidade, fazendo parte do projeto “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz na Praça do Bairro”.

Programação completa do 34º Festivale:

Cartaz do Projeto "Dois Brincantes e o Príncipe Feliz na Praça do Bairro"
Arte de Bianca Maeggi

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Da rua para o palco...

De repente, as luzes da platéia se apagam e o clima fica formal, artista de um lado e público do outro. Cadê as pessoas com as quais costumo me comunicar nas ruas? Estréia nunca é fácil. Apesar de ter sido apresentado por muito tempo, o velho espetáculo se torna novo depois de doze anos de ausência.
 Falando em palco, existe a possibilidade de improvisar com o público sem precisar interagir diretamente com ele, mas isso requer muito ensaio e treino. O “Milongas Sentimentais” possui um cenário volumoso, com uma quantidade respeitável de objetos, mas, oferece um bonito visual de teatro popular. Para realiza-lo é preciso estar super antenado a um monte de detalhes como à mímica, o texto e as gags de palhaço, somado à troca de figurinos e cenários em cena para interpretar quatro personagens, à afinação das músicas cantadas, etc. O importante é que a estrutura ficou pronta, inclusive o final que precisou ser atualizado. A reestreia se deu no C.E,T. (Centro de Estudos Teatrais) da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, em São José dos Campos e contou com a participação especial do Violonista Diogo Oliveira que tocou a música ao vivo.

Espetáculo "Milongas Sentimentais"
https://issuu.com/fccrsjc/docs/programac_a_o_jul_2019_issuu

De volta para as ruas de Campos do Jordão no final da temporada de inverno sou mais uma vez um anônimo para muita gente e um velho conhecido para alguns, depois de anos de convivência. Tenho resgatado vários registros de pessoas, como uma foto que foi tirada por uma criança de uns doze anos de idade em novembro de 2018, que segundo os pais, tem vocação para fotógrafo..

Foto do menino "Lipe" nas ruas de Campos do Jordão

Milongas Sentimentais - Teatro Popular, Espetáculos:
http://mimicoandarilho.blogspot.com/p/espetaculos.html

Mímico Andarilho: Intervenções e Performances:
http://mimicoandarilho.blogspot.com/p/intervencoes.html





segunda-feira, 15 de julho de 2019

"Milongas Sentimentais - Teatro Popular"

Chegando em Campos do Jordão depois de algum tempo de ausência, vejo, para minha surpresa, que o antigo ponto de táxi, que com a construção do calçadão, virou área coberta, servindo de ponto de encontro de trabalhadores de todo tipo, tanto do comércio local, quanto de artesãos, vendedores de bugigangas, de bexigas ou de algodão doce; de catadores de latinhas, de artistas de rua e de mendigos de toda espécie estava incrivelmente limpo! Alguém tinha lavado o chão com água e sabão. Literalmente: “Passaram o pano...”

Vai ver que foi por causa da chegada da temporada de inverno, mas, a prefeitura mandou retirar a galera que trabalhava no calçadão.Junto com gente “nada a ver” foram atingidos no mesmo bolo artistas como Henrrique, talentoso desenhista peruano que estava em sua segunda temporada na cidade A situação nesse ano incomodou as autoridades e comerciantes por causa do congestionamento de trabalhadores autônomos que aproveitam o grande fluxo de turistas para tentar tirar o seu sustento.

Nos finais de semana da temporada, pelas ruas do centro turístico de Campos, circula um tipo de público heterogêneo em que se mistura desde pessoas de classe media alta até pessoas simples que vão passar o dia de excursão.

Apesar de trabalhar a vinte e cinco anos na cidade, a minha atividade é permitida simplesmente porque não ocupa um espaço delimitado. Então, fico de lá para cá procurando um cantinho na frente das mesas de algum restaurante e brinco com quem tiver interesse, no meio da “muvuca”.

Eu gosto do desafio de tentar conseguir dar certo num espaço bem limitado. As pessoas questionam: - “Mas, quando tem muita gente, não é melhor?”.
Claro que não, para o diálogo acontecer tem que existir um espaço de respiração.

Das poucas mesas dos bares que consigo conquistar com minha mímica interativa vem elogios e perguntas tais como:
 - “De onde você saiu?”.
A o que eu respondo:
- “Sou um simples sobrevivente”
Ai eu ouço:
- “Alem de ser um sobrevivente, você é um sobrevivente que vive de arte".

Ou então:
- “Estamos precisando de pessoas como você, que nos tragam alegria”.
Ao que respondo:
- “Tenho feito o melhor que posso”

A máxima foi “Você é patrimônio da cidade...”.
Caracas, não sabia que era tão importante assim...

Em fim, Já atravessei várias crises com minhas intervenções de rua em mais de três décadas de Brasil, mas a de agora é mais complicada, já que esta além de econômica é de valores. Quando vou para rua a minha intenção e estabelecer um trato humano, resgatando a ingenuidade, o lúdico, o diálogo e a paz, independente à idade ou à condição social do público presente.


Com os espetáculos apresentados pela nossa companhia acontece o mesmo, tentamos desenvolver temas que aproximem as pessoas.

Hoje, como “Milongas Sentimentais - Teatro popular”, realizamos três espetáculos de nosso repertório”:

-         “Na Rua” ou “As Peripécias do Mímico Andarilho”. Espetáculo de Mímica e Clown Interativo.

-         “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz” – Espetáculo de Teatro Popular.

-         “Milongas Sentimentais” – Comédia de Teatro Popular.


Arte de Rua - Semana do Circo  2018 - FCCR - SJC SP



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terça-feira, 23 de abril de 2019

Instituições apoiadoras da cultura.

Apesar de sempre ter sido um crítico dos laços institucionais e durante muito tempo  conseguido sobreviver de forma independente, não deixo de reconhecer a importância que as instituições tem como apoiadoras e incentivadoras tanto do meu trabalho como dos artistas da minha região em geral.

Em São José dos Campos, cidade onde moro, tenho crescido graças a projetos desenvolvidos por instituições como a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, SESC ou a hoje extinta Oficina Cultural Altino Bondesan, da Secretaria do Estado da Cultura. Através delas tenho participado como aluno e também como ministrante de diversas oficinas, assistido a espetáculos de qualidade e apresentado minhas histórias e interações como mímico-palhaço. Através dos seus agentes culturais tenho sido chamado para desenvolver o que sei fazer melhor que é "brincar".

Ainda alimento o sonho de sair fazendo um tour mambembe, realizando percursos em regiões diferentes do Brasil, como o fazia quando era jovem; me tornar verdadeiramente um “mímico andarilho”. Hoje, tanto os meus colegas quanto eu vivemos basicamente das verbas dos editais. Tudo é feito de um jeito formal.

Na rua, exposto a tudo e a todos, está ficando difícil tirar o sustento no chapéu, na atual conjuntura do país, com quatorze milhões de desempregados. Além do mais, em Campos do Jordão, onde sempre me apresentei de forma espontânea, criando um diálogo com o público turista, tenho perdido o meu espaço por uma questão de falta de infraestrutura e  de apoio, já que tudo virou meramente comercial.

De forma “oficial”, em São José dos Campos, além de participar do Edital de "Circulação de apresentações artísticas" com meu espetáculo solo, tenho me apresentado na Semana do Teatro, da Fundação Cultural, no último mês de Março,  com “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz”, espetáculo da nossa companhia e  com “Histórias de Pia” (crianças de pequeno porte), uma nova empreitada, onde participo como ator coadjuvante e músico de um divertidíssimo espetáculo de teatro de bonecos da companhia de um amigo.
Também comecei dar um curso de mímica e improvisação para o clown de dois meses de duração pelo SESC da cidade, dentro de um projeto que atende jovens de 13 a 29 anos de idade.

Quando digo para os meus alunos que eu sou artista de rua de origem eles parecem não acreditar, como se fosse uma atividade em extinção. Apesar disso, eles estão abertos a tudo, inclusive a ir para rua, se for o caso...

Cito aqui um trecho de “Cartas a um Jovem Poeta”, de João Maria Rilke, que li pela primeira vez quando tinha 17 anos e que, apesar de falar da escrita, abrange as formas de expressão de arte em geral:

“Volte-se para sim mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a sim mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: Pergunte a sim mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada, preciso escrever? Desenterre de sim mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples “preciso”, então construa sua vida de acordo com tal necessidade”.

As instituições tem servido de suporte para nós artistas conseguirmos desenvolver nosso trabalho com um mínimo de dignidade.

Esse ano, com nossa companhia "Milongas Sentimentais" de Teatro Popular, contaremos com uma verba do Fundo Municipal de Cultura, já que fomos selecionados  para desenvolver o projeto "Dois Brincantes e o Príncipe Feliz na Praça do Bairro" (Teatro/Comunidade), que vai abranger sete bairros de várias regiões da cidade.

Link Programação Semana do Teatro: https://issuu.com/fccrsjc/docs/cata_logo_semana_do_teatro_2019_iss

Link Programação SESC https://www.sescsp.org.br/programacao/186984_MIMICA

link da Companhia: https://www.facebook.com/Milongas-Sentimentais-Teatro-Popular-173882529422531/

Link da página do Mímico Andarilho https://www.facebook.com/MimicoAndarilho/

Link de vídeo de Mímico Andarilho https://www.youtube.com/watch?v=A6hWh0RAf0w&t=418s





quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O Pierrô e o Arlequim

O Carnaval está chegando finalmente, e esse é em Março, o que acaba atrasando o funcionamento das coisas, já que no Brasil o ano começa realmente depois do carnaval.

Resta-me ir mais uma vez batalhar meu sustento nas ruas em Campos do Jordão, na base de rodar o chapéu para os turistas que frequentam a cidade, consciente das dificuldades que vou encontrar.

Redescobri os personagens da Commedia dell’arte Pierrô e Arlequim junto a Colombina no livro “O Canto da Praça” de Ana Maria Machado e me senti identificado com os dois.

O meu Arlequim tem mais êxito com o público das ruas porque é mais para cima, alegre, festivo e otimista.   Por sua vez, o meu Pierrô é mais introspectivo, delicado, poético e romântico; detém-se para dialogar com uma criança, toca uma música na sua flauta e esquece da necessidade do dinheiro; é mais sonhador e menos objetivo.
Se prevalecer meu espírito de Pierrô até um cachorro vira latas tentando pegar uma pomba ao voo chama mais a atenção do que eu. Se fosse um bêbado me atrapalhando também chamaria...

Lembro das palavras de um amigo comerciante que me disse: “Ninguém vai te dar nada, você tem que fazer acontecer, fazer o povo rir”. É bem isso, para dar certo você tem que se mostrar forte, ser “O Cara” , “ O Arlequim”.

Cito um trecho de uma palestra do Filósofo Leandro Karnal no programa Café Filosófico da TV Cultura falando da vaidade: “Hoje em dia instituímos a vaidade como virtude. A humildade não pega bem. Temos a necessidade de ser únicos, especiais, fortes, onipresentes. A nossa vaidade não permite mais a falha, não permite a tristeza, não permite a dor e o fracasso. Hoje devo subir sem queda. É função dos pais estimularem o novo nome que é auto estima. Eliminarem a dor, a depressão e o choro”. A melancolia não pega bem.

O Figurino do Arlequim é alegre, colorido. O do Pierrô, branco e preto, igual às cores do meu personagem mímico-flautista.
Um dia desses, depois de comentar com uma amiga que eu tinha errado umas notas tocando flauta nas ruas, obtive a seguinte resposta: “As pessoas não percebem o erro; elas só querem festa”.

Acredito no equilíbrio entre o Arlequim e o Pierrô, assim como acreditou a Colombina


Foto de Mel Braga

Link de Programa Café Filosófico: https://www.youtube.com/watch?v=NNUZrOORaiU

Link da "Estante Virtual: https://www.estantevirtual.com.br/livros/ana-maria-machado/o-canto-da-praca/3234738727

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Com o olhar da criança

Na ingênua e doce figura da menina tudo combina em tons de rosa, o laço de fitas no cabelo, seus sapatos, o ursinho de pelúcia que ela carrega no colo e até suas olheiras, sintoma, talvez, de alguma alergia oftalmológica. O nome dela e Jade, mas bem que poderia ser “Jade Rosada”. É ela quem nos recebe junto a sua tia, responsável pela nossa apresentação no Auditório Cláudio Santoro, em Campos do Jordão.

Contratados pela entidade que cuida o Museu Felícia Leirner, tudo se mostra imenso para nós, assim como a realidade aos olhos de uma criança. O enorme elevador de carga onde depositamos os objetos da peça, os altos muros de tijolo do auditório, o iluminado teto abobadado que deixa aparecer à exuberante mata em volta através das suas vidraças e até o enorme palco, por onde fiquei andando como beduíno no deserto, enquanto as pessoas visitantes do espaço entravam e sentavam na platéia, vendo a atividade preste a acontecer.

Apesar de que o combinado era apresentar o espetáculo num canto do palco, colocando as crianças sentadas no mesmo, formando um semicírculo em volta da gente, não teve jeito; tivemos que apresentar da forma tradicional, ou seja, nos no palco e o público, de todas as idades, nas poltronas do auditório. Colocamos os objetos na frente, no meio do palco e, como a história começa com a nossa chegada e a montagem do cenário na frente das pessoas, tudo se desenrolou naturalmente, como se fosse na rua. Vindos de uma semana de trabalho intenso, onde tivemos a oportunidade de mergulhar na trama, junto ao auxilio do diretor e dramaturgo Dagoberto Feliz, patrocinados pelo projeto “Cidade em Cena” do SESC de São José dos Campos, encaramos o desafio com o entusiasmo necessário.

Para mim foi um prazer incrível ter a oportunidade de me apresentar no palco daquele templo onde acontece o Festival de Música no inverno, depois de quase vinte e cinco anos nos quais venho realizando intervenções, de forma espontânea, nas ruas do centro turístico de Campos do Jordão.
Senti-me criança, como Jade, que ficou ali, sentada na frente da gente, cúmplice da nossa experiência.

Sem dúvida, o texto que escrevi para “Dois Brincantes e o Príncipe Feliz”, adaptação do conto original do escritor irlandês Oscar Wilde, reflete minha vivência em Campos e a visão que tenho sobre o contraste que existe entre as pessoas pobres moradoras da cidade e o turismo de alto nível que movimenta sua parte financeira.

O Príncipe Feliz da nossa história se desfaz das suas riquezas e as entrega aos pobres para amenizar o sofrimento destes, assim como nós as entregamos ao público presente.

Na mistura de tristeza e de alegria que a peça produz temos nos olhos arregalados das crianças a resposta positiva que esperávamos no final da apresentação, especialmente de Jade, a menina cor de rosa, que nos acompanha até o táxi que nos leva de volta até a rodoviária.

“Dois Brincantes e o Príncipe Feliz”
Apresentação realizada no dia 23 de Dezembro de 2018
Apoios de Marcelo “Brasões de Família” e de Cine Clube Araucária.
Realização. “Museu Felícia Leirner - Campos do Jordão”.


Foto: Ana Paula


https://www.museufelicialeirner.org.br/

http://www.cineclubearaucaria.org/

https://www.facebook.com/pages/category/Arts---Crafts-Store/Loja-dos-Bras%C3%B5es-de-Fam%C3%ADlias-559908360850261/

559908360850261/https://issuu.com/sescsjcampos/docs/selecionados_especial_cidade_em_cen

https://www.facebook.com/Milongas-Sentimentais-Teatro-Popular-173882529422531/