Aparentemente é isso o que mais pesa para as bancas dos Editais na hora
de escolher projetos e é o dilema que eu tenho enfrentado. Para mim fica
difícil apresentar um formato tradicional de espetáculo com começo meio e fim,
já que meu forte está na interação, no improviso em contato direto com as
pessoas. Inclusive quando me apresento num lugar formal, tudo rola melhor se
acontece o inesperado...
Às vezes o importante não é o que nós achamos sobre nosso trabalho e sim
o que ele representa para os outros (falando na função social do artista de
rua).
Hoje em dia, quando saio a “brincar” nas ruas de Campos do Jordão, vejo
as pessoas e percebo que tudo está ali (suas alegrias, suas tristezas, etc.).
Tento chegar junto de uma forma em que não se sintam menosprezadas, ao contrário,
se sintam valorizadas, ficando do lado delas, sem bater de frente. Sei que nem
todo dia as coisas saem do jeito que eu mais gosto, já que a relação depende de
diversos fatores como o espaço, o estado de ânimo dos outros e o de mim mesmo.
Na hora de enfrentar a rua, sempre a mesma briga: Vai, não vai e quando
você viu já foi. Pensou, perdeu...
Talvez a “Excelência artística” da minha atividade esteja na experiência
de quase três décadas de rua.
O que mais me empolga é quando o espetáculo espontâneo de interação acaba
acontecendo com brilho e, no final, depois das palmas, me apresento dizendo
para o público: “Independente da grana, hoje estou muito feliz de estar aqui
com vocês mais uma vez”...
Do filme "Asas do desejo" de Wim Wenders |