sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

"Happening Popular Brasileiro"

No momento político atual, de incerteza e desconfiança geral, as pessoas tendem a rotular, enquadrar e classificar ainda mais. O Brasil, que sempre caracterizou-se pela sua mistura, sua ginga, seu molejo, seu “vai não vai”, ficou radical e perdeu a sua essência.

Desde o começo, em Buenos Aires, Argentina, em meados da década de 80, minha arte sempre se deu na troca direta com as pessoas, seja nas ruas ou em qualquer outro tipo de espaço, inclusive em sala formal de espetáculos.

No Brasil, sinto-me parte da gama de artistas populares como o são os mamulengueiros, os repentistas, os contadores de histórias de Cordel, etc.

O personagem “Burrinha”, presente em várias manifestações populares, acabou fazendo parte de mim e do meu trabalho.

“Happening”

De acordo com o Wikipédia

O happening (traduzido do inglês, "acontecimento") é uma forma de expressão das artes visuais que, de certa maneira, apresenta características das artes cênicas. Neste tipo de obra, quase sempre planejada, incorpora-se algum elemento de espontaneidade ou improvisação, que nunca se repete da mesma maneira a cada nova apresentação.

Apesar de ser definida por alguns historiadores como um sinônimo de performance, o happening é diferente porque, além do aspecto de imprevisibilidade, geralmente envolve a participação direta ou indireta do público espectador.

“Happening Popular Brasileiro”

No papel de “Mímico Andarilho“, estou com um esquema pronto para viagem, que consiste numa estrutura de trabalho, na qual proponho encarnar meu personagem e “deixar rolar".

A estrutura consiste num repertório de música popular brasileira para flauta, com chorinhos, sambas e baiões, de autores como Pixinguinha, Ari Barroso, Zequinha de Abreu, Ernesto Nazaré e Dominguinhos, além de uma síntese do meu espetáculo de mímica interativo, que carrego na minha pequena mala e uma “burrinha” menor e desmontável. Posso levar também a cabeça do lampião com cruzamento de ruas, que é adaptável a aqueles cabides de madeira fáceis de encontrar em qualquer canto do Brasil, caso apresente numa sala de espetáculos.

A minha proposta é levar alegria às pessoas dos lugares por onde passar e gerar autoestima.

Nova "Burrinha", desmontável e com carcaça menor




terça-feira, 17 de outubro de 2017

Expressão Livre...

João Maria Rilke, em seu livro “Cartas a um Jovem Poeta” afirma que a arte é pura necessidade ao dizer: “Escreva no momento em que se não o fizer você morre”.

Vejo pessoas querendo julgar a arte como se isso fosse possível. A arte é a expressão livre por excelência. Por sorte, além dessa corrente escura e conservadora existe uma outra bem mais forte e jovem, trazendo ares de mudança, de renovação, próprios da era de aquário, com valoreis tais como os de “seja você mesmo”.

A arte de rua tem um forte papel político, especialmente a de intervenção,  porque defende a liberdade de expressão e dialoga com o cotidiano.

Ser, se expor, trocar diretamente, olho no olho, resgatar o espírito de criança que está dentro das pessoas, trazendo alegria. Conseguir o dinheiro necessário para viver, reciclando estado de ânimo e auto-estima.

É verdade que nesse ano tão difícil tive que me sujeitar a situações complicadas, como ter que ficar bem mais tempo do que o usual, sob o sol, me expondo para ganhar bem menos e ainda trabalhando para turistas de classe média, em Campos do Jordão. Mas o esforço não foi privilégio meu, já que a dificuldade bateu geral. Apesar de tudo, do desgaste emocional e físico, sinto que valeu a pena, porque sempre vai valer a pena quando a alma não for pequena...

Por sorte tenho sido premiado nesses últimos meses com contratos de instituições como SESC, que me permitem viajar para diferentes cidades do estado e dialogar com pessoas simples moradoras do lugar, sem ser turistas. Nesse último Domingo me apresentei no Parque Vicentina Aranha, em São José dos Campos, contratado pela AJFAC (Associação Joseense para o Fomento da Arte e Cultura). Lá o público é de classe média, dado o bairro onde é localizado o parque. mas, a beleza do lugar e a paz que ele proporciona fazem com que toda vez em me apresento por lá seja mágico..

Apresentação no Parque Vicentina Aranha, Domingo 14-10-2017 (Foto de Diego Nery Javkin)

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

"Peripécias"

De acordo com o dicionário da língua portuguesa, a palavra peripécia é um substantivo feminino e significa: 1- Momento de uma narrativa, peça teatral, filme etc. que altera o curso dos acontecimentos de maneira inesperada e modifica a situação e o modo de agir dos personagens. 2 - Acontecimento inesperado, imprevisto.

“As Peripécias do Mímico Andarilho“ é o nome com que minha amiga Adriana batizou o novo formato de meu espetáculo no qual faço uma paródia sobre meu labor de artista de rua. É foi na mágica arena do Parque da Cidade, em São José dos Campos, SP, exatamente no Sábado 02 de Setembro de 2017, na mostra “oficial” chamada Entre Atos, pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, que ascenderam as lampadinhas, deixando claro que o caminho a seguir e o do improviso, onde tudo pode acontecer. Não é diferente a quando vou para rua enfrentar as pessoas de forma espontânea batalhando minha grana no chapéu, ao contrário, se alimenta desse fato.

Fiz da apresentação do parque um momento de festa assim como quando os fatores ajudam e consigo, por exemplo, conquistar as pessoas nas ruas de Campos do Jordão, de forma espontânea. No espetáculo, tudo fez parte da “brincadeira”, desde chamar o público para a apresentação, passando pela acomodação deste nas arquibancadas até qualquer imprevisto no meio da história.

Outra coisa que senti e a necessidade de treinar mais técnica de mímica para melhorar as pantomimas, lembrando as palavras do mestre Everton Ferre em seu discurso sobre a importância de se preservar essa arte.

Falando em “Peripécias”, sabendo que nesse ano tão difícil tenho conseguido sobreviver graças à capacidade de improviso nas ruas e aos ganhos provenientes do chapéu, não deixo de reconhecer que é bom dar uma respirada de vez em quando, receber cachê e sair na programação de alguma instituição.

Foto de Ricardo de Paula
Na Semana da Criança estarei apresentando minhas “Peripécias” nos Dias 08 e 15 de Outubro, no Parque Vicentina Aranha, em São José dos Campos, SP, contratado pela AJFAC e no dia da Criança, 12 de Outubro, no Horto Florestal de Limeira, contratado pelo SESC daquela região.

http://www.pqvicentinaaranha.org.br/programacao-detalhe/intervencao:-as-peripecias-do-mimico-andarilho/591

http://www.limeira.sp.gov.br/sitenovo/news.php?p=3612

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Na base de rodar o chapéu...

Não posso deixar de dar importância ao fato de “rodar o chapéu”, inclusive porque, em maior parte, é a colaboração espontânea do público, em Campos do Jordão, que tem me sustentado neste ano tão difícil.

Olha só, do meu primeiro trabalho institucional neste ano, no começo do mês de Agosto, surgiu a proposta para eu ajudar a montar uma grade para um possível festival de mímica a ser realizado por uma unidade de um SESC do interior do estado em Janeiro ou Fevereiro de 2018. Lá fui eu, com toda minha melhor boa vontade, reunir mímicos com trabalhos consolidados para tal evento. Falei com “profissionais” na maioria do estado de São Paulo e alguns de outros estados, como Everton Ferre, que conheci em Curitiba, estando eu de passagem por lá, antes de me radicar em Porto Alegre - RS, no ano de 1987.

 Everton fala da importância de se ter um festival de mímica e ainda sugere: – “Diz para o programador do SESC não se preocupar com o meu cachê, eu prefiro rodar o chapéu mesmo. Mando um termo de compromisso de que meu espetáculo será sem cachê e que eu mesmo pagarei as minhas dispensas na cidade”.
                       
Everton é um idealista que se mantém fiel aos seus valores, apesar de ter aproximadamente a minha idade. Tudo bem que na região sul as pessoas estão acostumadas a colaborar com os artistas no chapéu. Já tentei copiar sem êxito aqui, em São José dos Campos, uma coisa que ele faz lá no sul, ou seja, me apresentar nas escolas na base de rodar o chapéu. Pelo geral eu consigo meu dinheiro na rua quando pego as pessoas sentadas num bar ou restaurante e consigo prender a atenção delas durante um bom tempo.

O trabalho do Everton é técnico e detalhista. Ele apresenta um mesmo tipo de esquema independente do espaço, seja rua, pátio de escola, teatro, etc, que consiste numa série de esquetes de mímica, as quais realiza há anos. Bem diferente do meu, que é mais espontâneo, na base do improviso e do confronto direto com o público, independente do esquema.


Parece que a galera de teatro de São José dos Campos entende e dá valor ao meu trabalho, tanto assim que me convidou a participar do “Entreatos”, que é uma mostra que traz uma intensa programação em diferentes tipos de espaço em várias regiões da cidade. Apresentarei “As Peripécias do Mímico Andarilho”, espetáculo que fala justamente da utópica visão de mundo de quem vive da arte na base de rodar o chapéu...

O Mímico Everton https://www.facebook.com/mimicoeverton/

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

União de forças...


Deixaram de acontecer coisas diferentes, talvez seja esse o motivo de ficar quase dois meses sem escrever por aqui. Aliás, isso não é exclusividade minha. Neste ano tão difícil,  artistas em geral encontram dificuldades para realizar seus projetos. Vários eventos culturais foram suspensos por falta de verba ou de boa vontade. Em São José dos Campos por mais um ano não teve “Virada Cultural”, o Festival da Mantiqueira, que no ano passado tinha se transformado num encontro literário local, esse ano não foi realizado por falta de apoio e infraestrutura. Os editais culturais estão recebendo um número três ou quatro vezes maior de inscritos do que noutros anos, devido à falta de espaço para os grupos se apresentarem. O Fundo Municipal de Cultura da cidade destinou uma verba quatro vezes menor do que no ano anterior, aos projetos aprovados.

Enfim, o que dá para resgatar de bom é que a crise fez as pessoas se unirem para se ajudar. Eu tenho sobrevivido das minhas performances espontâneas em Campos de Jordão e do apoio de alguns restaurantes aos quais acabei me associando,  ficando parceiro dos músicos, tocando junto com eles, e estreitado a amizade com as pessoas simples moradoras da cidade.

Estou tendo a possibilidade de auxiliar, na parte corporal, a minha ex-companheira de trabalho de muitos anos, no espetáculo que ela apresenta e vendo os frutos da nossa parceria.

Comecei uma empreitada de produção audiovisual independente junto a dois amigos e acabamos de realizar o primeiro de uma série de vídeos documentários com temas de interesse comunitário, utilizando o “Mímico Andarilho” como intercomunicador.

Link de vídeo no Youtube:

Depois de um bom tempo, tive a oportunidade de viajar para um lugar diferente e fazer parte da programação nas festividades do aniversário da cidade de Piracicaba, contratado pela unidade do SESC de lá. Senti-me muito bem apresentando numa grande roda para o “povão” em geral.

Links de atividade em Piracicaba:


Nesta semana e na próxima, em São José dos Campos, apresentarei minhas intervenções dentro da programação da Quarta Edição da Mostra Agosto Popular de Teatro, realizada pelo CAC Walmor Chagas, evento independente que reúne grupos de teatro da região e de outras cidades do Estado.

Tanto as intervenções como a série de vídeos documentários levam o título de “Um olhar sobre o cotidiano...”

Link com vídeo da programação da Mostra:
https://www.facebook.com/CACWalmorChagas/videos/1489460037800520/?hc_ref=ARQUQtVSzoNER5cDQ9DVacAXwBxSUmGQcQ7suXpp4Qdvw68CxquFxKrlmE46ePFFK8Y&pnref=story



Para finalizar, deixo a minha conclusão de que os períodos de crise podem também ser úteis para as pessoas se perceberem e colaborarem umas com as outras.


Na Bat-Caverna da RAC Studios, junto à Carolina Wintter e Reinaldo Costa


quarta-feira, 21 de junho de 2017

Neblina em Campos do Jordão

“Perdido como turco na neblina”. Quando digo esse ditado para as pessoas elas não entendem muito bem de que se trata, mas, o certo é que no inverno de Campos do Jordão, a noite, é só assoprar que tudo fica envolto em neblina.

Um senhor bem idoso me dizia no outro dia que é incrível notar como gente é diferente, cada um, um cada qual. Sinceramente eu não acho, vejo tudo meio igual, com uma plaquinha de preço, para vender ou comprar.

A multidão tomou conta da cidade e eu fiquei meio deslocado. Por sorte, no último feriado de Corpus Christi, consegui um pequeno apoio da lanchonete “Black and Withe” que fica afastada a uns metros da “muvuca”. Lá eu consigo brincar de burrinha no trânsito como antigamente e ainda fico tocando junto aos músicos que fazem a trilha sonora ao vivo. Elayne e Mateus têm salvado a minha pátria e o meu ânimo com uma dúzia ou mais de xotes e baiões que eu acompanho no pandeiro. Música nordestina de qualidade.

Foi à própria Elayne quem arranjou o meu primeiro bico de músico no dia dos namorados num restaurante localizado no corredor do “Shopping Genêve”, do lado do badalado Baden Baden. Lá eu estava, com minha caixinha de som presa a cintura, a malinha, a estante e a pasta de partituras, caracterizado de mímico-palhaço a me apresentar para os comensais, no horário de almoço de domingo. Para minha surpresa, a gerente do restaurante perguntou se já estava pronto e, sem mais, desligou o som ambiente. No silêncio, comecei tocar flauta, sem microfone, acompanhando as bases de play back executadas na minha caixinha.. Senti na pele como é a relação do público com os músicos. Parece que não importava que eu estivesse caracterizado. Eles só olhavam de relance.
Tomei uma atitude para quebrar o gelo e, depois de pedir para ligarem o som ambiente, aproveitei a ocasião do dia dos namorados para encher uns balões “estica” que estavam dentro da mala e entregar corações de bexiga ao "público". Depois, liguei minha caixinha e toquei o “carinhoso” na flauta, além de outros chorinhos, passeando em volta das mesas. No final brinquei como mímico, imitando as pessoas que passavam pelo corredor do shopping, usando o jazz de sempre, saindo da caixinha. Quando acabei, aproveitei o embalo de alguns e, evocando “a moral do povo brasileiro” me fiz bater palmas, dizendo que é disso mesmo que a gente precisa, de aplauso, de união, de auto estima”. Saí do local com o palhaço a flor da pele, super feliz depois do dever cumprido.

Vivemos num momento onde é super importante sermos nós mesmos. Eu vou de palhacinho, defensor da cultura popular e da auto-estima, as vezes perdido e noutras achado, carregando as armas que possuo, a Mímica, a Música, a “Burrinha” e a Palavra em português-brasileiro com sotaque argentino.

Indo à luta...



quinta-feira, 1 de junho de 2017

Apresentação no Festival Cultural da Moçota, na cidade de Caçapava

Depois de um extenuante Sábado em Campos do Jordão, onde me vi mais uma vez encurralado pela multidão, tive o respiro de um trabalho mais tranqüilo, na cidade de Caçapava, no Domingo, dia 28 de Maio, no “Parque ecológico da Moçota”, fazendo parte da programação do primeiro festival cultural realizado por lá.

A "aventura” da viagem começou logo de manhã, eu, com meu corpo em farrapos pelo cansaço do Sábado, pegando a "burrinha" que estava no bar do Seu Antônio, em frente à rodoviária de Campos e continuou com a chegada na rodoviária de Taubaté, onde me aguardava o Marcos, funcionário da Prefeitura de Caçapava, com um carro oficial modelo "Siena" onde colocamos todos os meus pertences, inclusive a bicicleta. Para conseguir a façanha amarramos á tampa do bagageiro com um dos meus extensores, deixando a roda da frente da bike para fora com um paninho fazendo de bandeirinha pendurado ao guidão, em sinal de alerta, para os carros que vinham atrás da gente.

Já no parque, antiga fazenda, fui muito bem recebido, na casa que fica logo na entrada, onde, da varanda, dava para avistar o movimento da festa, com crianças brincando num parquinho, som de viola rolando e pessoas indo e vindo. Senti-me em casa, como quando participo dos eventos realizados no Parque da Cidade, em São José dos Campos. Depois do primeiro contato na casa, chegou Paola, minha amiga e organizadora do evento, pedindo-me para fazer minha primeira aparição no meio do povo.Lá estava eu, maquiado, tendo o primeiro contato com a turma...

Cheguei chegando, mas com sumo cuidado, detrás de mim mesmo, brincando e observando. Pessoas simples abertas ao diálogo. “Brincadeira de criança”.
“Feira Gastronômica e Cultural” distribuída pelo parque, onde artistas e artesãos locais expunham suas obras e produtos e onde eram vendidos alimentos para os visitantes. Fiquei sabendo ente outras coisas que o doce típico de Caçapava é a Taiada e, inclusive, que este é o apelido das pessoas que nascem na cidade.

O que mais me chamou a atenção é o espaço com extenso gramado verde onde estava montado um palco baixo ao meio, pessoas bem á vontade deitadas na grama e crianças brincando para lá e para cá, num clima alegre e leve. Nesse marco vesti a minha “burrinha” e acabei conhecendo “Alice”, uma menina negra de uns oito anos de idade, vestida com um pequeno boizinho de papelão. Ao som do saxofonista que se apresentava no palco ensinei a Alice o movimento do jogo realizado entre “Boi” e “Burrinha”, que apreendi no folguedo de bumba meu boi. Depois fiquei sabendo pela boca da mãe que Alice sempre fala em ser artista. A menina não me largava em momento algum, ela junto a um grupo de crianças se grudaram em mim como abelhas ao mel.

Entre as coisas que mais gostei do festival estão a roda de conversa com historiadores da cidade e a apresentação do violonista de São José dos Campos Diogo Oliveira, com seu show em homenagem a Tom Jobim. Muito diferente, ver uma pequena figura no centro de um grande palco, tocando o seu violão e cantando suavemente em meio ao barulho natural da mata, misturado com o barulho natural de gente. Vitamina de Moçota para fortalecer corações brasileiros...



Verde que te quero verde...



https://www.facebook.com/claudia.mamede.3/posts/1534969869907501



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https://www.facebook.com/hashtag/festivalculturaldamo%C3%A7ota?source=feed_text&story_id=10209118330092264

https://www.facebook.com/artejumoreira/posts/1058759857591727


quinta-feira, 18 de maio de 2017

O Sertão é a rua...

Ir para rua, para o brincante, não é simplesmente apresentar uma estrutura de teatro de rua, é se expor ao que der e vier. Por isso é que ele acaba de certa forma absorvendo a realidade como ela é. Em Campos do Jordão, onde me apresento, a realidade é um pouco “um sonho”, já que se trata de uma cidade turística onde as pessoas vão procurar algo diferente do seu lugar de origem, com o seu cotidiano de trabalho, estudo, etc.

O certo é que hoje em dia parece estar tudo conturbado independente do lugar. No Sábado, de dentro do ônibus em que estava, quase chegando em Campos, dei de cara com um acidente fatal na estrada, em que o motorista de um carro perdeu o controle do seu veiculo na curva e foi parar debaixo de um ônibus que descia a serra.

No Domingo, fiquei sabendo que num outro local da cidade, no mesmo final de semana, teve um atropelamento.

Enquanto isso, em São José dos Campos, a Prefeitura tenta aprovar uma lei em que se proíbe aos malabaristas circenses de se apresentarem nos semáforos, tratando-os inclusive, como se fossem mendigos ou coisa parecida.

Transcrevo aqui as palavras do Thiago Silva, jovem malabarista que atua nos sinais de São José dos Campos:

-Acho muito massa os artistas de rua. O Artista é um propagador de cultura e se não houvesse motoristas imprudentes o risco seria bem menor. É uma profissão e contém riscos como todas as outras. As pessoas que falam "tem que tirar porque é perigoso”, às vezes, são as mesmas que acham estar numa competição cujo sinal amarelo ao invés significar "precaução" significa "acelera essa lata de sardinha aí, o meu". O Artista é quase um Agente de trânsito que chega em tu é fala: Calma aí respira, agora pode ir. "O Artista".


https://www.facebook.com/camarasjc/photos/a.488428617863120.109326.488405527865429/1372430136129626/?type=3

Semana passada, no Brasil, tivemos o falecimento do sociólogo, literato e professor universitário Antônio Candido. É tão bom ouvir um intelectual, independente da sua ideologia, falando, por exemplo, sobre temas como a Utopia e a escassez de grandes homens.

Falando em cultivo do caráter, o artista de rua é um sonhador que faz o seu trabalho impulsionado pela emoção, com a intenção de trazer alegria e reflexão ao mundo, sabendo que não vai enriquecer com sua profissão.


Entre tanta dificuldade que a gente encontra, cito uma frase do escritor mor Guimarães Rosa: “Para o artista toda limitação é estimulante...”.



Foto de Fernando Carvalho


quarta-feira, 26 de abril de 2017

Na Esquina com o "Compadrito"...

Desajustado e com alguns poucos momentos férteis. Assim tenho me sentido em Campos de Jordão nos firiados, em meio a gente bem arrumada e perfumada. Crianças apreensivas com tudo, mimadas e protegidas, apesar de algumas maravilhosas, como sempre...

Fazer o que? Sabia que esse ano de 2017 ia ser assim, difícil como está sendo. Vejo vários amigos meus que trabalham com arte em São José dos Campos parados ou com pouco serviço.

Eu voltei a encarar fortemente as intervenções nas ruas de Campos do Jordão. A verdade é que lá existe uma galera que me conhece e de alguma forma apóia o meu trabalho. Os comerciantes também passaram por sérias dificuldades nos últimos meses e eu acabei me associando a alguns deles em troca de um dinheiro mínimo. Do carnaval até agora foram três parcerias com restaurantes diferentes.

A temporada traz a volta da “muvuca” e para mim a coisa complica. Apesar dos feriados, com a aglomeração de turistas aumenta o número de pessoas procurando ganhar dinheiro nas ruas, nem sempre fazendo as coisas de coração como o artista faz. Estão os vendedores de loteria ás dezenas, o cara que se veste hoje do palhaço Patatí e amanhâ do Patatá para arrancar dinheiro das crianças, vendendo formas em bexigas a 10 reais cada uma, o vendedor de flores de papel, dois moços com crachá no peito onde está escrito “cinema” que oferecem para participar de um filme que nunca acontecerá sobre o tema “o amor” pedindo “colaborações” para a produção do mesmo, vendedores de óculos de grau sem receita médica, divulgadores de restaurantes tentando arrastar fregueses, etc. Um ambiente bem concorrido em que impera a lei do mais esperto onde realmente eu não me encaixo nem a paus.

É verdade que na rua também existem umas poucas atrações de arte como a minha. Há uns meninos que tocam violino acompanhado se com bases de playback variado, um caricaturista amigo que faz e vende seus desenhos na hora, uma companhia de dança da cidade que se apresenta e pede colaborações para uma futura viagem ao exterior e um mágico que se apresenta nas mesas dos bares.

Minha aposta agora está numa estrutura em que possa apresentar um número sem precisar ficar na passagem de pessoas. Vou recorrer ao velho “Compadrito” para o qual estou dando um trato na boneca de dançar tangos “Maria Rosa”. Vamos ver o que acontece. No final de ano, onde Campos do Jordão é freqüentado por um público mais calmo, que foge da “muvuca” da praia, funcionou bem. Mesmo que eu tenha certo preconceito com o personagem por ser meio canastrão e trazer resquícios de machismo, notei que o tango chama a atenção do público, talvez por seu movimento reto, antagônico ao movimento natural do gingado do povo brasileiro. Com o tango posso criar um clima romântico e associa-lo a cultura popular brasileira, ao maxixe e ao chorinho, que nasceram mais o menos na mesma época do primeiro. Posso falar de amor sem necessariamente ser machista. Por enquanto, agradeço aos músicos dos restaurantes de Campos que executam a trilha sonora da minha brincadeira e sempre me deixam dar uma palhinha com minha flauta transversal...


Foto de Reinaldo Costa



terça-feira, 11 de abril de 2017

Em Homenagem a Matias Ziatriko...

Vítima da Intolerância. Coisa triste o que aconteceu com um colega uruguaio, que viajava há vários anos pelo Brasil apresentando seu número circense na frente dos semáforos. Acho que ele acabou pagando pela sua ingenuidade. Matias era uma pessoa simples de ideal humanista, que falava com todo mundo sobre sua visão da realidade. Aparentemente discutiu política com a pessoa errada e foi assassinado. Isso aconteceu na cidade de Ji-Paraná, no estado de Rondônia. Precisamos tomar muito cuidado porque o radicalismo tomou conta da sociedade. 
Não tem como não me sentir identificado, já que, apesar de nunca ter apresentado no farol, sempre encarei as pessoas nas ruas, de forma espontânea, ficando exposto a tudo e a todos. Hoje escolho me apresentar dessa forma em Campos do Jordão, pelo fato de ser um lugar turístico onde as pessoas, supostamente, vão descansar da vida agitada da metrópole.
Antes da minha jornada nas ruas, o primeiro que faço é pedir proteção às forças positivas do universo.
Driblando diversos obstáculos, interajo com os transeuntes, criando cumplicidade com quem está sentado na mesa de algum bar ou com quem simplesmente parou para assistir à apresentação.
Em meio ao trânsito de pessoas tento quebrar o gelo comunicando-me com os meus naturais aliados, as crianças, e muitas vezes esbarro com pais que interferem no nosso diálogo, dando uma de “interlocutores”.
Dedico a minha mais sincera homenagem ao colega falecido e digo-lhe que sempre o lembrarei como “um anjo guerreiro” que dedicou sua curta existência a tentar contribuir para criar um mundo melhor para todos.
Fica em paz, Matias Ziatriko. Ilumina o nosso caminho de onde você estiver.


quinta-feira, 30 de março de 2017

Apresentação na E.E. Sant’Ana do Paraíba

Na sexta feira, dia 24 de Março, me apresentei mais uma vez no "Santaninha", antiga escola localizada  no tradicional bairro de Santana, de população de maioria oriunda do Estado de Minas Gerais, em São José dos Campos. SP. 

A novidade, dessa vez, foi o uso da bicicleta menor no espetáculo. O personagem chega carregando seus pertences, pedalando e brincando no meio da platéia, para depois estacionar no palco, do lado do poste-lampião-cruzamento de ruas. Formando assim um cenário simples e prático que valoriza a interação com o público.

Chegando de bicicleta.

Falando em preservação do meio ambiente, só o fato de chegar de bicicleta já traz em sim essa mensagem. O “Andarilho” enche um globo terrestre inflável e cria ânimo para realizar as suas "peripécias". Isso pode muito bem ser visto como o cultivo da auto-estima.

“As Peripécias do Mímico Andarilho” é um toma lá, dá cá constante que tem tudo a ver com as minhas intervenções espontâneas nas ruas e a luta por manter a bola para cima o tempo inteiro. Existe uma estrutura de começo meio e fim e um estudo do espaço cênico, mas a história se desenrola através do jogo rápido de improviso.

Outra característica é que, dentro das escolas, pode ser apresentado para todas as idades, dividindo grupos da mesma faixa etária, já que a troca se dá de acordo com o interesse de cada turma.

Com a ingenuidade do palhaço, valorizando a cultura popular e a importância de se preservar o meio ambiente em que vivemos, apesar dos poderosos ainda acharem que o aquecimento global é pura ilusão.



Mínimo de objetos na cena. 

Link com mais fotos da apresentação tiradas por professores da escola:

Link, release do espetáculo: "As Peripécias do Mímico Andarilho":

Link que esclarece sobre a linguagem e o objetivo:



segunda-feira, 6 de março de 2017

Por amor e liberdade.

“Vagabundos são aqueles que vivem em liberdade". Palavras de um senhor artesão de Campos do Jordão.

Curioso, mas, Carlitos, o personagem de Charles Chaplin, era chamado de vagabundo ou de andarilho.

O mais rico da minha função de “andarilho” está nas pequenas experiências das ruas, quando me apresento espontaneamente, como mímico-palhaço.

Da minha experiência no carnaval de 2017, na cidade turística de Campos do Jordão:

Sabe aquelas pessoas que você percebe de cara que não são brasileiras? Pois bem, sentadas na frente do badalado restaurante “Baden Baden”, em Campos do Jordão, estava um casal e seus três filhos pequenos. Um menino de mais o menos seis anos de idade e suas irmãs de aproximadamente quatro e dois anos, respectivamente, os três ruivos, de olhos azuis e cheios de sardas. Brinquei com o menino indicando as suas sardas no rosto como se fossem pontinhos. Depois cheguei perto e me fingi preocupado com a sua saúde, achando que tivesse contraído algum vírus tipo sarampo. Medi a sua febre, etc. Ele achou tudo engraçado. Depois olhei para suas duas irmãs e vi que elas também tinham o mesmo tipo de “vírus”. Os três sorriram. Perguntei para a mãe de onde eles eram e ela respondeu serem dos EUA. Terminei essa apresentação, num canto do restaurante, e fui para outra, no meio da rua. A menina menor me seguiu. De repente senti um pequeno ser abraçando as minhas pernas e dizendo “palhaço”. Eu acariciei a sua cabeça e a afastei um pouquinho para poder continuar com a apresentação, mas, daqui a pouco ela estava ai de novo, presa às minhas pernas, como só criança pequena sabe fazer. A mãe dela acompanhava a cena a uns dois metros de distância, com receio da menina se machucar no meio da multidão. Tive que parar a história, pegar a menina no meu colo, e entregar à mãe, enquanto ela repetia “Palhaço, palhaço...” Bom, o casal ou o pai eram americanos, mas os filhos falavam português fluentemente. Fiquei pensando no ódio racial, em branco, preto, árabe, etc. Me lembrei daquelas imagens de internet mostrando criancinhas brancas mortas por terroristas naquela escola russa, daquela criança refugiada encontrada morta na praia. Pensei em crianças que brincam no meio a bombardeios na Síria...

Na segunda-feira de Carnaval, realizei uma performance diferente na Praça de Capivari, na qual, depois de dançar com minha burrinha para uma turma de crianças pequenas, fiz elas experimentarem o gostinho, colocando, em cada uma, uma burrinha menor, que eu fiz, do tamanho delas, para brincarem junto comigo. Teve um menino que gostou mesmo e saio pulando no meio da turma. Crianças são todas iguais. Elas não têm culpa de nada e absorvem o mundo que nós, adultos, lhes apresentamos...


Brincando de burrinha, na praça de Capivari, em Campos do Jordão - SP (Carnaval 2017).

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

São José e sua nova turma de Artistas de Rua

Vejo que mudou, que hoje existem vários artistas apresentando-se nas ruas da cidade de São José dos Campos. Ainda bem. Conheci o Thiago Silva, um menino jovem de circo, morador da periferia, que fica no semáforo fazendo seus malabares, o Carlos Cesare, um cara mais o menos da minha idade, que voltou para a terra natal, se intitula de “Pós-palhaço” e se apresenta na praça do bairro do Aquarius e o Andrés Escuelita, um uruguaio meio hippie, de passagem pela cidade, que tive o prazer de conhecer e realizar uma performance em conjunto. Andrés, hoje vindo de Paraty - RJ, viaja carregando, entre outras coisas, dois saxofones, uma quena e uma mala com objetos do seu espetáculo de palhaço. Ele disse que fica tocando saxofone no “farol de longa duração” em frente ao Shopping Colinas, na zona nobre da cidade. A performance espontânea com Andrés se deu no último domingo, na feira livre do bairro de Santana, enfrente ao “bar do Rubão”, sede do bloco “Uai Folia”, sobre a responsabilidade do grupo Velhus Novatus. Estávamos conversando em espanhol até ele pegar o seu saxofone. Ao ouvi-lo tocar o tal, lhe propus fazer uma performance espontânea de mímica com as pessoas que ainda circulavam no final de feira, enquanto ele tocava seu sax tenor. Topou na hora. Foi muito legal, apesar da insegurança do Andrés, que, sem acreditar no seu impulso de improvisador nato, queria a todo custo tocar algum “tema” para cada situação que se dava. Com a apresentação, de cara lavada e nariz de palhaço, arrancamos risadas das pessoas que estavam presentes no local. Uma senhora que estava sentada no bar disse entusiasmada: “Às vezes, a gente não percebe quanto é bom dar umas boas risadas. Continuem assim”. Devo reconhecer que, apesar de sentir-me melhor quando sou contratado, saio na programação de alguma instituição e sou bem pago pelo serviço, a arte de rua tem uma função social fortíssima, já que convive com o cotidiano das pessoas. Conversando com meus colegas de trabalho, chegamos à conclusão de que a arte de rua deve atuar assim mesmo, sem regras ou aviso prévio. Atividade meio a lá “Pedro Malasartes”: quando você viu, já foi...

Em meio à crise política e financeira que atravessa o país, em meio à crise de identidade das pessoas, ao caos urbano, ao poder hipnótico do celular, o artista de rua vem auxiliar no sentido de humanizar, fazendo parte de uma corrente de pessoas que atuam na contramão do estabelecido e unem forças para criar um mundo melhor para todos.

Foto de Alisson Eli














quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Sobre madeira e sonhos...

“Madeira que cupim não roí”.Essa marchinha, interpretada por Antônio Nóbrega, nos acompanhava quando apresentávamos, junto com minha ex-companheira Silvia Nery, o espetáculo “A Pastora Marcela”, nas escolas públicas da periferia da Zona Oeste da cidade de São Paulo, lá para finais da década de noventa e comecinho da de dois mil. Para mim não mudou muita coisa, já que continuo meu trabalho independente, ora contratado por alguma instituição tipo SESC ou Secretaria de Cultura Municipal ou Estadual, ora me apresentando em alguma escola, ou na rua, de forma espontânea, na base de rodar o chapéu. Tem acontecido isso nesses últimos dias, na cidade onde eu moro, São José dos Campos. Saio pelo geral à noite, pedalando minha bicicleta equipada e carregando algum boneco da cultura popular (burrinha ou boneca de dançar), além de som, etc.

Teatro de intervenção urbana, na base de forte explosão corporal e contato direto com as pessoas. Pelo geral faço um estudo prévio dos locais escolhidos para o trabalho. Cruzamentos, nos quais existe uma praça, uma sorveteria, gente sentada na calçada, etc. Assim aconteceu no sábado, em que apresentei para uma comunidade simples de bairro, num local com boa luminosidade, onde tinham crianças nos brinquedos de uma praça que ficava numa esquina, pessoas sentadas na calçada, fila para entrar numa lanchonete que serve açaí e, num outro canto, pessoal do bairro batendo papo. Consegui envolver todo mundo com um movimento ágil. Cheguei de mansinho, encostei a bicicleta num canto e me maquiei perto dos brinquedos, sentado na mureta que protege a areia. Já pronto, liguei meu som de cintura e pulei para dentro da “arena”. Como mímico, Interagi com as crianças que estavam nos brinquedos e fui indo para o meio da rua, para atingir tudo mundo, pessoas sentadas, transeuntes, carros, pessoas na fila da lanchonete, etc. Depois, trouxe a bicicleta para o centro do “quadrilátero”, tirei a boneca “Maria Antônia” e dancei um forro do meu jeito. No final, me apresentei, agradecendo à Comunidade e rodei o chapéu. Fui embora caracterizado, pedalando minha bicicleta ao som de jazz de rua e dando tchauzinho para o público que respondia da mesma forma. Continuei minhas “andanças” pelas ruas da cidade. No percurso, realizei intervenções em dois restaurantes, nos quais, pelo geral, costumo me apresentar.

Cito uma cena que marcou a minha despedida.  Empinei a lua cheia, a amarrei a um poste e ainda respondi ao menino chamado Rafael, de uns quatro anos de idade, quando me perguntou qual era o meu próximo destino no pedal, "Transformarei a minha bicicleta num foguete espacial e irei para lua...” E ele ficou gritando na minha partida "À lua, à lua...!”.

https://www.youtube.com/watch?v=faqD1rv171c


http://mimicoandarilho.blogspot.com.br/2016/07/inter-acao.html


http://mimicoandarilho.blogspot.com.br/p/intervencoes.html


Foto de Ricardo de Paula

domingo, 29 de janeiro de 2017

Sim, é possível...

Ainda existem lugares na noite de São José dos Campos em que é possível realizar o trabalho de interação. Prova disso, foi a última noite de sexta feira, em que saí para “brincar” livremente. Fui de bicicleta, carregando meu material de trabalho e a boneca de dançar “Maria Antônia”. Para dar certo, precisa de espaço de respiração, ou seja, certa distância com o público para estabelecer o diálogo. Escolhi um local novo, perto do centro, que reúne todas as qualidades. É aberto e com mesas na calçada. Fica num cruzamento de ruas não tão movimentadas, então dá para trabalhar com o movimento das ruas e assim chamar a atenção das pessoas que estão sentadas às mesas. O que ajudou também foi que o músico, que estava realizando um som ao vivo, entrou na brincadeira e topou improvisar junto. Não é sempre que isso acontece. Grande Renato, que conheci na horinha e deu má força. Parecíamos uma dupla ensaiada. Sim, a arte de rua pode ser realmente mágica, e quem o faz possível é quem está assistindo, como em todo tipo de arte cênica.

Depois disso desci o morro até a Vila Maria, onde “brinquei” no bar do Português, como antigamente. Lá é muito bacana, já que é povoado de pessoas simples. Aliás, infelizmente, é o melhor público para se lidar, já que não tem frescuras. Digo isso porque com os mais “requintados” tem ficado bem mais difícil o diálogo. Na zona nobre, onde fui na sequência, as pessoas de classe média se escondem detrás das vitrines, em estabelecimentos que parecem gaiolas de vidro ou confinamentos do “Big Brother”. Juro que não é preconceito. É o que acontece com as cidades quando crescem, vão perdendo a ingenuidade, a boa característica de serem do interior. Mesmo assim, encontrei, aqui ou acolá, uns lugares para infiltrar-me (palhacinho dos olhos verdes). Consegui arrancar risadas de pessoas chiques e comentar de que ainda vale a pena valorizar o lado humano.



Foto tirada por Thunder Dellú. No bar "Português", junto com a boneca "Maria Antônia",feita pelo Mestre Piauiense "Afonso Miguel".

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

“Tomara que não chova”

“Com você parece que é diferente. Minha mulher não gosta desse tipo de brincadeira de ficar sendo imitada, mas acabou sentindo-se bem com a sua presença do lado dela”. “Tem uns caras que encarnam na gente que chega dar raiva”. “O palhaço é realmente bem bacana e não é para qualquer um...” Essas, mais ou menos, foram às palavras de elogio de um senhor morador da cidade de Cruzeiro, de passeio em Campos do Jordão, no último Domingo.

O objetivo sempre tem sido esse mesmo, com ou sem crise, interagir com as pessoas de um jeito que elas se sintam valorizadas, independente da idade ou condição social, unir, humanizar.

Não é nada fácil, porque para dar certo, a gente acaba dependendo de vários fatores, como o são o lugar, as pessoas presentes ao local, o clima ambiente, etc. e, principalmente o estado de ânimo do palhaço (rs).

Gosto desse desafio de ter que estar bem para passar uma energia positiva para as pessoas, tarefa que requer grande força de vontade, nessa luta pela sobrevivência, de uma forma honesta, sem um fim meramente lucrativo.

E o ano de 2017 começou com incertezas para tudo mundo. Para mim teve uma grande novidade, já que consegui realizar uma performance diferente com meu antigo personagem tangueiro, utilizando parte do cenário do meu espetáculo “Milongas Sentimentais”, numa esquina de Campos do Jordão, sem precisar rodar o chapéu, já que as pessoas colocavam espontaneamente dinheiro na minha caneca de papel. Foi uma felicidade enorme descobrir essa nova possibilidade para por em prática na próxima temporada de inverno.


Com o fundo do Boulevar Geneve - Em Campos do Jordão, onde "brinco" desde 1994